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Depois da revolução

20 de maio de 2011

Já se passaram quatro meses desde a queda do líder do regime, Ben Ali. Tunisianos lamentam poucas mudanças no país e temem que a revolução falhe. Os islâmicos podem ser os vencedores das próximas eleições.

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Tunisianos ainda pedem "limpeza" no quadro políticoFoto: picture-alliance/dpa

Em Túnis, manifestantes escolheram o prédio do Ministério da Justiça como local de protesto. Centenas se reúnem na capital da Tunísia e expressam o que muitos cidadãos pensam: "Estamos no meio da crise. A revolução fracassou, a polícia mostra a mesma força de antes. Nós voltamos ao tempo da violência, da ditadura", alega o jurista Chokri Benaissa.

Foi na Tunísia que tudo começou. Em 14 de janeiro, o então presidente Ben Ali deixou o país e seguiu para a Arábia Saudita – a ditadura comandada por ele não conseguiu resistir à indignação das massas. Passada a euforia, atualmente muitos tunisianos se sentem desiludidos. É verdade que a era da opressão acabou, mas ainda há problemas com saques, a economia do país está arrasada e paira a ameaça de que os islâmicos vençam as eleições em julho.

"É sempre a mesma coisa. Aqui não houve ainda uma reorganização. As mesmas pessoas continuam no poder, nos ministérios, pessoas que cooperaram com a família Trabelsi e com Ben Ali", diz outro manifestante.

Depois da revolução

Quatro meses depois da queda de Ben Ali, muitos tunisianos se sentem desenganados. Muitos temem que a revolução tenha escapado por entre os dedos e que os antigos poderosos assumam novamente o poder.

Numa primeira análise, muita coisa parece ter mudado no país. O único partido, RCD, foi desconstituído oficialmente, assim como a polícia secreta. A imprensa é livre para reportar, e a liberdade de expressão foi incorporada ao cotidiano. Mais de 60 novos partidos foram fundados, e novos nomes passaram a fazer parte da administração.

No entanto, não se sabe se os antigos políticos continuam agindo nos bastidores. A situação é incerta. E, nesse sentido, a imprensa também colabora, defende Fouzia Mezzi, editor-chefe do jornal La Presse Tunisie: "O caos de informação é dominante. Nem sempre os fatos são comprovados, muitas coisas são ditas espontaneamente e difundidas ferozmente. Falta profissionalismo. Desta maneira, tudo se agrava, porque o governo em si comunica pouco. Então permanece esse clima de medo, que é descarregado em forma de violência e vandalismo".

Situação ainda preocupante

É fato que, nesse meio tempo, a Tunísia voltou a ser um local seguro para turistas, mas a capital, Túnis, continua sendo um centro de manifestações. No início de maio, a polícia voltou a usar gás lacrimogêneo contra manifestantes e, pela primeira vez desde fevereiro, a cidade também voltou a ter toque de recolher.

Jovens violentos levaram baderna às ruas e lojas foram saqueadas. Segundo observadores, os simpatizantes do antigo sistema podem ter influenciado esses jovens, com base no pensamento de que, se a situação piorar, então os tunisianos irão querer a volta de um homem forte.

Existem ainda outros motivos que trazem temor: o país exportou 26% a menos no primeiro trimestre, e os investimentos estrangeiros também foram afetados. Milhares de trabalhadores do setor de turismo, principalmente, correm o risco de perder o emprego.

"Pensar nesse cenário causa uma sensação de pavor. Claro, quando as pessoas não têm emprego, e quando não sabem como ganharão a vida, é difícil convencê-las do processo de democratização", analisa Ralf Melzer, representante da Fundação Friedrich Ebert.

Confusão política

Os islâmicos, que eram vetados na época de Ben Ali, poderão ser os principais beneficiados com essa situação. O fato de o panorama político tunisiano ainda estar completamente fracionado faz com que as pessoas se sintam confusas diante dos mais dos mais de 60 partidos agora existentes – e o partido islâmico se apresenta unido. Muitos acreditam que ele possa vencer as próximas eleições.

Para Ralf Melzer, a maneira como for conduzido o experimento democrático na Tunísia servirá como símbolo para o mundo árabe. "Se os tunisianos falharem, com a sua relativamente boa situação, com uma população relativamente bem formada, uma economia funcional – apesar de todos os problemas sociais –, uma classe média ampla e esclarecida, se isso falhar, então será um sinal negativo para a região toda. Com consequências que ninguém gostaria de imaginar."

Autor: Marc Dugge (np)
Revisão: Roselaine Wandscheer