Deputados alemães estudam como frear espionagem pela NSA
16 de janeiro de 2014"Não se trata como adversários os parceiros de aliança e os amigos", indignou-se o social-democrata Burkhard Lischka nesta quarta-feira (15/01) no Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão).
O fato de os Estados Unidos continuarem "fazendo isso" é "inquietante, humilhante e inaceitável", acusou o deputado, dois dias antes do anúncio planejado pelo presidente americano, Barack Obama, de uma série de reformas no âmbito da Agência Nacional de Segurança (NSA). Obama deverá responder ao ex-consultor da NSA, Edward Snowden, nesta sexta (17/01), sete meses após o início das revelações do delator sobre os programas americanos de espionagem.
Até o momento, a maioria dos parlamentares alemães esperava que um acordo bilateral de não espionagem fosse restringir o afã insaciável dos serviços secretos americanos de coletar dados pessoais no país europeu. Mas as negociações sobre o pacto ameaçam fracassar.
Segundo informações dos negociadores, os serviços dos EUA se recusam a parar de monitorar não só milhões de cidadãos, como também políticos alemães de alto escalão.
O Bundestag reagiu à situação com um debate, no qual se despejaram, na mesma proporção, desapontamento e ira. "Em solo alemão vale a lei alemã, incondicionalmente – também para os nossos parceiros. Para nós, isso não é negociável", declarou, em nome do governo federal, Günter Krings, da União Democrata Cristã (CDU), na qualidade de secretário parlamentar de Estado no Ministério do Interior.
"Será que o chefe da Agência Nacional de Segurança (NSA), Keith B. Alexander, acha que a chanceler federal Angela Merkel seja suspeita de ligações com a Al Qaeda?", perguntou retoricamente o deputado Michael Hartmann, do Partido Social-Democrata (SPD).
Críticas à atitude de Merkel
O alvo principal da crítica de todas as bancadas é o fato de Washington simplesmente não responder às perguntas de Berlim sobre a forma e a extensão das atividades de espionagem americanas. "Há mais de meio ano existem catálogos de perguntas que foram enviados pelo governo federal [alemão] à NSA, mas também ao serviço secreto britânico, e que até hoje não foram respondidos", protestou o deputado do Partido Verde, Christian Ströbele.
A oposição também incluiu em suas críticas a coalizão governamental anterior, formada pelas conservadoras CDU/CSU e o Partido Liberal Democrático (FDP). Voltou-se a condenar Merkel por ter considerado o escândalo de espionagem encerrado antes das eleições de setembro último. A premiê só teria "acordado" quando se divulgou que também o seu telefone celular fora interceptado, apontaram os parlamentares.
"O problema principal é a atitude do governo federal nesse caso. Isso precisa mudar definitivamente", exigiu Jan Korte, da bancada do partido A Esquerda, que convocou o debate no Parlamento. Na manhã da quarta, uma porta-voz de Berlim declarou que é preciso ter "paciência" nas negociações.
Meios de pressão polêmicos
Os deputados alemães não conseguiram chegar a um acordo sobre os meios de pressão de que a Alemanha dispõe contra os EUA. "Posso imaginar que o controverso Acordo Swift, para intercâmbio de dados financeiros e de transações bancárias, fique suspenso até termos conseguido o acordo de não espionagem", sugeriu à Deutsche Welle o democrata-cristão Philipp Missfelder, futuro encarregado de Berlim para Relações Transatlânticas.
As opiniões no Bundestag divergiram quanto à possibilidade de impor mais rigor, ou até de suspender as negociações sobre o tratado de livre comércio entre a UE e os EUA. No geral, expressaram-se dúvidas quanto à eficácia de um acordo de não espionagem exclusivamente teuto-americano.
"Um acordo resistente com os EUA precisa ser com a Europa", propôs Stefan Liebich, da Esquerda, "pois 500 milhões de pessoas em 28 Estados têm mais força".