"Fatos em vez de notícias falsas é a linha da DW"
20 de abril de 2018O partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que é a maior bancada da oposição no Bundestag (Parlamento), apresentou esta semana um projeto de lei para modificar a base legal da Deutsche Welle (DW), a emissora internacional alemã.
A proposta prevê uma mudança na composição do Conselho de Radiodifusão, o órgão de supervisão da empresa. A AfD defende que o governo alemão deixe de integrar o conselho, que é formado por 17 pessoas e no qual há três representantes do governo federal. Em contrapartida, o número de representantes do Bundestag seria elevado de dois para três.
Ao defender a proposta no Parlamento, nesta sexta-feira (20/04), o deputado Thomas Ehrhorn, da AfD, falou sobre "evoluções equivocadas e preenchimentos de cargos equivocados" em postos de diretor-geral das emissoras públicas e nos conselhos que as supervisionam. Ele alertou para o que chamou de "mídias de propaganda nas mãos de uma classe política dominante", que "não raro se tornam um instrumento de dominação" voltado contra os cidadãos.
Segundo Ehrhorn, qualquer regime sempre "exercitou a tentativa de obter o mais amplo controle possível". Ele criticou que o diretor-geral da DW, Peter Limbourg, ao elencar os valores que a emissora quer transmitir, tenha priorizado a tolerância. Segundo o parlamentar, a intenção é "tolerar tudo e todos, desde crenças religiosas medievais até essa maluquice de gênero" ou contar "histórias multiculturais afetadas".
"Mais importante que nunca"
Políticos de todas as outras bancadas rejeitaram a proposta da AfD e enfatizaram a importância da DW, principalmente num momento político atribulado, no qual cada vez mais a política internacional vem sendo influenciada por notícias falsas.
A deputada Elisabeth Motschmann, da União Democrata Cristã (CDU), chamou de "piada" que justamente a AfD queira empunhar a bandeira da liberdade de expressão e da independência jornalística. Ela agradeceu à emissora alemã pelo seu "trabalho realmente importante", que transmite os "valores de uma democracia liberal" e que é "mais importante do que nunca nesse mundo conturbado".
Motschmann fez referência às restrições globais à liberdade de imprensa: apenas 13% das pessoas do mundo desfrutam de mídia livre, disse. Estados autoritários, "como a China, a Rússia e Irã", ampliaram seus canais internacionais, afirmou. Em vista disso, ela ressaltou que o Bundestag tem "boas razões para fortalecer ainda mais a DW" e elevar o orçamento da emissora, que é financiada com recursos públicos.
A deputada conservadora descreveu os últimos cinco anos da DW como uma "história de sucesso num rumo muito bom". O número de usuários semanais aumentou de 101 milhões para 157 milhões. Em 27 dos 30 idiomas ofertados, a DW está "entre as três principais emissoras estrangeiras".
"Fortalecendo a tolerância"
O deputado Thomas Hacker, do Partido Liberal, também enfatizou o compromisso da DW com a liberdade, a democracia e o Estado de Direito. Ele citou o programa árabe de entrevistas Shabab Talk, que, entre outros temas, levou o debate sobre o movimento #MeToo ao mundo árabe. "Esses programas fortalecem a tolerância para com outros modos de vida", afirmou. O político sublinhou que seu partido também apoia os planos para um canal de TV em língua turca, porque, "sob o presidente Erdogan, a liberdade de expressão é espezinhada".
O deputado do Partido Social-Democrata (SPD) Martin Rabanus disse que "fatos e não notícias falsas é a linha da DW". Ele lembrou que 96% dos usuários afirmam que a DW tem uma credibilidade extremamente alta. Rabanus assegurou que também a sua bancada defende o fortalecimento da DW, para colocá-la no mesmo patamar orçamentário das emissoras internacionais da França e do Reino Unido.
A deputada do Partido Verde Margit Stumpp também enfatizou que a emissora faz jus à sua missão de "ser uma voz forte da Alemanha democrática e liberal" e que ser criticada pela AfD "serve de elogio à DW". Ela afirmou que, "diante da crescente propagação de notícias falsas e ódio, é importante fortalecer a Deutsche Welle como a voz forte de uma Alemanha democrática".
O diretor-geral da DW, Peter Limbourg, acompanhou os 50 minutos de debate no Bundestag ao lado da diretora de programação, Gerda Meuer, na galeria de convidados. "Estamos felizes com o grande apoio de quase todas as bancadas", afirmou Limbourg, observando que, durante o debate, ficou claro que liberdade de imprensa e de opinião, dois aspectos fundamentais do trabalho da DW, são cada vez mais importantes em todo o mundo.
O projeto de lei da AfD foi encaminhado para debates adicionais nas comissões internas do Bundestag.
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