Descobertos inéditos de Brecht
4 de outubro de 2003Documentos originais, livros, tiposcritos, cartas e manuscritos cênicos, além de partituras, diversos esboços e doze textos inéditos da série de histórias de almanaque protagonizadas por Sr. Keuner: este é o conteúdo das caixas achadas na casa onde o dramaturgo e poeta Bertold Brecht morou em Zurique, de 1947 a 1949, antes de regressar à Alemanha.
Por que Brecht teria deixado tudo isso para trás, ao mudar para Berlim Oriental? Será que o escritor despatriado queria manter uma porta aberta na Suíça, uma possibilidade de refúgio?
Trampolim para a Europa
O achado superou as expectativas do pesquisador alemão Werner Wüthrich, autor de um livro recente sobre a fase suíça do mentor do teatro épico, intitulado Bertold Brecht und die Schweiz (Bertold Brecht e a Suíça). No ano passado, dois anos após a morte de Renata Bertozzi-Martens, proprietária do apartamento onde Brecht morou na Suíça após o exílio norte-americano, o pesquisador se deparou com um volume inesperado de documentos novos.
Após voltar à Europa, Brecht escolheu Zurique como local de residência e trabalho. Além de diversas de suas peças terem estreado na cidade durante a guerra, a Suíça lhe parecia o lugar adequado para manter um contato simultâneo com a Alemanha, Itália e França.
Por intermédio do jornalista François Bondy, Brecht chegou a Renata Bertozzi-Martens, futura documentarista de destaque, que lhe alugou o apartamento em Zurique. Além de Brecht e Bondy, muitos outros intelectuais da época circulavam pelos saraus de Bertozzi-Mertens, entre eles, o teórico Georg Lukács e os escritores italianos Ignazio Silone e Elio Vittorini.
Persona non grata: “agente de Stalin”
As pesquisas realizadas por Wüthrich demonstram que Brecht pretendia ficar na Suíça, ao contrário do que se afirmava até hoje. As correspondências encontradas revelam que ele tinha o plano de criar um teatro ambulante e mudar para Genebra.
No entanto, logo após a estréia de Senhor Puntilla e seu Criado Matti em Zurique, em junho de 1948, Brecht deveria ter sido expulso da Suíça. A medida se baseava no parecer de um relatório do serviço secreto, de 1939, que enquadrava Brecht como “agente de Stalin”. A expulsão foi evitada no último momento, por intervenção do político socialista Hans Oprecht.
O achado de inéditos de Brecht deverá ampliar o acervo do seu arquivo na Academia de Artes de Berlim. Informações mais detalhadas sobre o conteúdo do achado deverão ser divulgadas após a aquisição oficial do espólio pela Academia.