Desempregados na França, esquecidos pela UE
25 de maio de 2019Um grupo de jovens parte em diversas direções, em duplas, de Les Halles, no centro de Paris. Eles carregam grandes cartazes pretos de papelão e panfletos verdes com os dizeres "Eu não deixo os outros escolherem meu deputado do Parlamento Europeu". Nos cartazes estão citações controversas de parlamentares europeus, para motivar os passantes a uma discussão, por exemplo, sobre a política migratória.
Porém aquilo que parece óbvio para esses ativistas, que a Europa é importante para a juventude, não ocorre a todos os jovens franceses. Pois quase um terço deles está desempregado, muitos se sentem desamparados na União Europeia e não veem sentido nas próximas eleições.
"A Europa faz simplesmente parte da normalidade para mim", diz Léo Allaire, que participa de ações dos Jovens Europeus, como a desta sexta-feira. A associação se engaja há mais de 30 anos por uma Europa democrática e federalista.
O rapaz de 21 anos estuda línguas aplicadas numa universidade parisiense, e aprende alemão desde os tempos da escola. Para ele, é normal ter amigos na Alemanha, Itália e Espanha. Mas, em sua opinião, a UE também fornece uma vantagem profissional bem definida para os jovens.
"Um amigo meu, por exemplo, está fazendo estágio na Alemanha, com o apoio do programa Erasmus. E há muitas outras iniciativas para nós, jovens, financiadas com verbas da UE. Por isso é tão importante participar da decisão na eleição", enfatiza Allaire.
Alguns metros adiante está Marie Pouliquen, de 23 anos, estudante ciências políticas da Universidade Sciences Po de Paris. O slogan dos panfletos se repete em sua camiseta verde. "Não consigo mais imaginar um mundo sem a União Europeia, isso significaria que cada país estaria de novo só com a própria sorte", diz, com veemência.
No entanto ela tem dificuldade de distribuir seus panfletos entre os jovens, que muitas vezes recusam com a mão e seguem caminho. Ela atribui o fato também à atual campanha eleitoral, "uma catástrofe absoluta". "Tudo praticamente gira em torno de nacionalismo, e os políticos esquecem os temas mais importantes, como o desemprego juvenil. E no entanto nós somos o futuro da Europa."
A campanha eleitoral europeia se transformou na França num duelo entre pró-europeus, como o presidente Emmanuel Macron, e antieuropeus, como a extremista de direita Reunião Nacional (RN, antiga Frente Nacional), de Marine Le Pen. Isso é também consequência dos meses de manifestações dos "coletes amarelos", que dividiram o país ainda mais. O desemprego juvenil praticamente não é debatido – nem pelos dois favoritos, a RN e A República em Marcha! (LREM) de Macron, nem pelos demais 32 partidos franceses.
Do ponto de vista de muitas desempregadas e desempregados franceses, isso contribui ainda mais para que a UE lhes pareça abstrata. Como o grupo de participantes de um seminário no centro de trabalho para jovens Mission Locale, no departamento de Seine-et-Marne, próximo a Paris, nessa manhã de sexta-feira.
Na região, o desemprego está até abaixo da taxa nacional, de 19,2% para os jovens com menos de 25 anos. Ainda assim, a procura de trabalho não é fácil, comenta Inès Hadbi, que há meses se candidata para uma vaga no setor de administração. Ao contrário dos universitários da associação dos Jovens Europeus, ela nunca ouviu falar do programa de intercâmbio Eurasmus. O mesmo se aplica aos demais participantes do seminário, alguns dos quais sequer completaram o ensino médio.
"Sinto-me abandonada pela UE", desabafa a moça de 19 anos. "Só podemos nos ajudar a nós mesmos. Se encontramos um emprego, é por esforço próprio, e não porque a UE faça alguma coisa por nós. Os políticos europeus nem nos veem, a gente tanto faz para eles."
A seu lado está Roméo Oaw, também de 19 anos, que quer ser policial. Para ele, a UE está longe de ser presente. "Eu venho de um lugarejo de 300 habitantes. Lá, o logo europeu pode até estar em todos os prédios públicos, mas isso não significa nada. O que vale, quando muito, são as iniciativas locais."
Nem Hadbi nem Oaw pretendem ir às urnas no pleito para o Parlamento Europeu, neste domingo (26/05). Christopher Dembik, economista do Saxo Bank em Paris, entende por que a UE parece tão longe para a juventude, mas atribui o fato também ao limitado campo de ação dela.
"A UE só pode disponibilizar verbas através de fundos estruturais. Mas seus programas não são cunhados para países, grupos populacionais nem mesmo classes isoladas. A Europa indica uma direção, mas cabe aos governos nacionais agir concretamente. O caso da França é especialmente difícil devido a sua alta taxa de natalidade, que compromete o país a criar ainda mais vagas de trabalho, a fim de reduzir seu desemprego juvenil.
Mesmo assim, Hagar Akhrouf, de 24 anos, vice-presidente dos Jovens Europeus, acha que os programas da UE poderiam contribuir muito para sua qualificação. Mas ela admite que eles ainda precisam ser ampliados, a fim de atingir mais jovens e convencê-los.
"Aqui há tanta criatividade", diz a estudante de ciências europeias na Universidade Sorbonne de Paris. "Podemos competir tranquilamente com o paraíso das start-ups Silicon Valley. Somos jovens, dinâmicos e temos potencial, mas para que o empreguemos inteiramente, a UE tem que nos apoiar mais."
No entanto é questionável se esse tipo de programa garantirá emprego para muitos jovens sem grau universitário. Entre os não diplomados, o desemprego é quatro vezes maior na França do que entre os que possuem o título.
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