Design com técnica astronáutica
9 de junho de 2004Os tocedores de futebol que já passaram dos 40 talvez se lembrem dos uniformes dos clubes antes que o futebol entrasse na era da comercialização, quando só cumpriam a função de diferenciar um time do outro e cobrir a nudez dos jogadores.
Eles não eram nada cômodos e nada tinham a ver com moda. O material era tão áspero que chegava a ferir a pele. As golas eram grandes e pontuadas e os calções, tão apertados que cabia questionar se os homens que os usavam conseguiriam um dia apreciar o esporte juntamente com seus filhos.
O suave deslize
Hoje, na era dos tecidos leves e de regulagem térmica, a experiência dos jogadores com suas camisas é o suave deslizar de um poliéster sedoso. O futebol moderno exige mais dos atletas e também do equipamento. O esporte é mundial e os clubes que lideram as competições têm que jogar em lugares tão diferentes como as planícies gélidas da Ucrânia ou estádios que são verdadeiros fornos.
Os jogadores precisam de vestuário e equipamento que lhes permitam concentrar-se no que é mais importante: o jogo. Todos os clubes da Eurocopa 2004 usarão uniformes que estão muito longe dos de antigamente, independente de que o fabricante seja Nike, Adidas, Umbro, Puma ou Kappa.
Tecnologia de ponta e fibra de prata
Graças a invenções como os sistemas reguladores da umidade, a chamada técnica play dry, cujo objetivo é manter os jogadores frescos e secos, jogar futebol hoje tornou-se um luxo. E a Eurocopa 2004 provavelmente entrará para a história como a mais seca e arejada, com nota dez em matéria de moda. Dá até pena que os jogadores acabem sujando essas excelentes camisas high-tech na partida.
Cabe perguntar por que os fabricantes não pensaram antes em maior comodidade, afinal não é nada do outro mundo produzir roupas que não arranhem a pele. Hoje, porém, recorre-se às mais avançadas invenções científicas. A seleção inglesa, por exemplo, contratou especialistas da Nasa, a agência espacial americana, para resolverem o problema do calor em Portugal.
Sua nova camisa foi confeccionada quase inteiramente de um sistema de fibras de prata x-static, que aquece o jogador quando faz frio e refrigera no calor. Segundo o fabricante, os sistemas de transferência de calor e regulagem da umidade são novidades no mercado.
Moda, mais um fator
Resta saber se os craques vão jogar melhor com um produto tão de vanguarda. Mas as camisas não são feitas apenas para serem usadas pelos jogadores. Os estádios de Portugal estarão repletos de fãs vestindo as cores do seu país. As camisas dos clubes de futebol tornaram-se um grande negócio – e também uma moda.
Foi o mais tardar em 1994 que camisa de time tornou-se um acessório da moda, quando Giorgio Armani criou o uniforme para a seleção italiana na Copa do Mundo. O estilo era tipicamente italiano e a camisa tornou-se tão popular dentro como fora do campo. Nessa época, a imagem das torcidas de futebol aos poucos se distanciava dos hooligans e, na percepção da sociedade, os jogadores deixaram de ser proletários, passando a ser VIPs, ao mesmo tempo em que o futebol se transformou em fashion.
Em meados dos anos 90 a tendência se impôs. As torcidas passaram a usar as cores dos seus times não apenas nos dias de jogos. E hoje em dia é quase obrigatório para os fãs de verdade usar uma camisa ou um blusão do seu clube. Seja para demonstrar a lealdade, como tributo individual aos heróis, ou simplesmente porque o look é legal. Este ano, usar camisa ou blusão verde-amarelo virou moda na Alemanha, sinalizando a aprovação e a identificação com o futebol canarinho.
Corte especial para camisas femininas
Há muito que o futebol deixou de ser um esporte exclusivamente masculino. As mulheres se entusiasmam por ele e também compram artigos do seu clube. Os fabricantes de artigos esportivos registram um número crescente de compradoras e já criaram cortes especiais, adequados à figura feminina.
Clubes, associações desportivas e fabricantes usam a camisa como instrumento de marketing, pois há muito tempo reconheceram seu potencial. A venda de camisas é sempre um item importante no orçamento de todos os clubes. O Real Madrid, por exemplo, ajuda assim a financiar a aquisição dos seus jogadores.
A Eurocopa é um período muito lucrativo para os fabricantes de artigos esportivos. No caso da gigante alemã Adidas, que veste as seleções alemã, francesa, espanhola, grega e letã, a venda de camisas perfaz 15% do faturamento total, como informou à DW-WORLD, Anne Putz.
E na Adidas-Salomon estão todos muito confiantes quanto à Eurocopa. Tanto no que diz respeito às vendas, como às "suas" seleções. Afinal, com exceção de um, todos os campeões europeus de futebol usaram uniformes da marca com as três listras.