Global Design
1 de março de 2010Os efeitos da globalização podem ser vistos em quase todas as esferas de nossa vida – não somente na política e economia, mas também no cotidiano. Muitos desses efeitos se tornaram tão óbvios que não mais os percebemos em nosso dia-a-dia.
Um dos utensílios que mais se propagaram através da globalização foi o contêiner de transporte. Com 6 ou 8 metros de comprimento, 2,33 metros de largura e 2,36 metros de altura, essa caixa de metal possibilitou o atual comércio mundial e tornou-se símbolo da interligação entre os continentes.
Consequentemente, a exposição em Zurique retrata o contêiner como um selo de globalização, explica Angeli Sachs, curadora da Global Design: "O contêiner é um módulo, um design por si mesmo, uma forma esvaziada, que se preenche com conteúdo, – uma forma de sistemas de transporte que veio com a globalização. Isso implica que os custos de transporte podem ser quase menosprezados, que quase não custa nada uma firma ter sua sede em um local e produzir em outro ou que a produção seja finalizada em um terceiro local e distribuída a parte dali".
Ao mesmo tempo, acrescentou Sachs, o contêiner teve, naturalmente, uma influência estética sobre outros campos. A maioria das filiais da empresa de móveis sueca Ikea, por exemplo, se parece hoje com enormes contêineres.
"Turbilhão do lixo"
Os materiais usados em transporte e embalagens desempenham papel importante na exposição– e, em consequência, também a poluição ambiental. No Oceano Pacífico, existe até um "turbilhão do lixo": através da corrente marítima, principalmente o lixo plástico é levado para um determinado local na costa do Havaí, sendo depositado, posteriormente, ao longo das praias. Trata-se de um imenso depósito de lixo no meio do oceano – the Global Garbage Patch, em inglês.
Também o design de escritório sofreu modificações radicais nos últimos 40 anos. A tradicional escrivaninha de madeira com ficheiros e máquina de escrever se tornou um local de trabalho multifuncional, equipado com diversos aparelhos eletrônicos – semelhantes em todo o mundo.
Segundo Angeli Sachs, entre os típicos produtos da globalização estão "o telefone celular, o laptop, a mala com rodinhas, os atuais terminais de aeroportos". Existe uma escala infinita de coisas que foram desenvolvidas para pessoas que estão sempre viajando, disse a curadora.
Formatos internacionais
O viajante típico de hoje é o homem de negócios que voa frequentemente. Ele pode ser visto nos saguões de aeroportos observando a cotação das bolsas de valores. Essa cena foi reproduzida na exposição, que também mostra o lado obscuro da mobilidade global: boat people – as pessoas que deixam o país usando pequenas embarcações – e migrantes que procuram entrar clandestinamente no chamado Primeiro Mundo.
Mas não somente os saguões são iguais em todas as partes. A televisão, que no passado era um produto tipicamente nacional, globalizou-se de forma ampla: os noticiários se assemelham em todos os lugares.
Formatos de programas de TV como Big Brother são copiados em vários países. Da mesma forma, emissoras comerciais de música como MTV podem ser captadas mundialmente.
Tudo acaba em pizza?
No entanto, em vários setores, firmas regionais ainda concorrem com empresas globais. Existem, por exemplo, cervejarias multinacionais. Por outro lado, certos tipos de arroz e cervejas locais ainda continuam na preferência de consumidores.
Em contrapartida, pratos como o sushi e a pizza, que eram considerados especialidades regionais, são hoje comercializados no mundo inteiro – ainda que frequentemente com notas de sabor distintas.
Também na arquitetura observam-se tendências internacionais – frequentemente influenciadas pela Bauhaus – ou existe um movimento de transferência. Arquitetos ocidentais como Jean Nouvel ou Frank Gehry estão construindo em Abu Dhabi uma completa ilha cultural, através da qual a cultura ocidental deverá ser transportada ao mundo árabe.
Seleção criativa
Segundo a curadora da mostra de Zurique, o uniforme da globalização é o terno de negócios. Por outro lado, existem também roupas de uso cotidiano mundial como a calça jeans ou a camiseta.
Mas os clientes combinam de forma bem individual as peças fornecidas pela indústria, ressalta Sachs: "Em estudos recentes, sociólogos constatam satisfatoriamente que os consumidores são capazes de lidar de forma criativa com essas coisas, ou seja, escolher aquilo que vão usar, fazer novas combinações com outros objetos, e, vendo dessa forma, nenhum dos lados é fácil de enganar."
Autor: Christian Gampert (ca)
Revisão: Augusto Valente