Ditadura do medo
6 de julho de 2011Em fevereiro, quando os moradores do Barein saíram às ruas para iniciar uma revolução no pequeno reinado do Golfo, a família dominante reagiu duramente. Mas, para que os protestos fossem controlados, era necessário pedir ajuda, especialmente "ao grande irmão" vizinho.
Já em meados de março, a Arábia Saudita enviou mil soldados, membros da Guarda Nacional do rei saudita Abdullah. Para ele, o movimento de protesto no Barein era, de qualquer maneira, uma pedra no sapato. Há quem diga que os sauditas marcharam sem que a ajuda deles tivesse sido sequer solicitada.
A força dos vizinhos
A versão oficial diz que os soldados do país vizinho entraram em ação apenas para proteger instalações estratégicas importantes. Ativistas dos direitos humanos, como a bareinita Maryam al Khawaja, duvidam da versão oficial. "Segundo o governo, os sauditas deveriam, por exemplo, fazer a segurança das unidades de exploração de petróleo. Mas há testemunhas que dizem que as tropas sauditas se envolveram nos ataques a manifestantes em meados de março e que eles forneceram o pessoal para interditar ruas em todo o país", diz a ativista.
Com máscaras escuras cobrindo o rosto e armados com metralhadoras, os soldados sauditas estariam à procura dos chamados "traidores xiitas", relatam testemunhas. Em Riad, a família real sunita não tolera insurgentes de outras crenças nem o início de um movimento democrático. Assim, na visão de especialistas, foi de bom grado que os sauditas ajudaram a reprimir os protestos no Barein.
Dentro das fronteiras
Em seu próprio território, a liderança saudita não chegou tão longe – a Arábia Saudita cortou pela raiz o que parecia ser uma ramificação da primavera árabe. Quando, em março, houve um chamado via Facebook para um "dia de ira", seguindo o modelo egípcio, o ministro do Interior lembrou imediatamente, num tom ameaçador, que demonstrações são proibidas na Arábia Saudita. Foi o suficiente.
Houve apenas pequenas manifestações, que foram rapidamente dispersadas pela polícia. Num país onde as pessoas ainda são chicoteadas e a pena de morte é executada com a espada, há um profundo respeito pelo poder do Estado. Ou também pode-se dizer: o medo é dominante.
Da mesma maneira que usa a força contra seus inimigos, o rei Abdullah trata com enorme generosidade seus seguidores. O governante, de 86 anos, é o monarca mais velho do mundo e tenta agir de modo mais inteligente que Ben Ali e Mubarak. Como parte de um pacote de medidas, ele disponibilizou 36 milhões de dólares para que todos os cidadãos tenham acesso à moradia, trabalho e, quando preciso, uma espécie de seguro-desemprego.
Há ainda um outro setor no qual o reinado islâmico não se preocupa em gastar dinheiro: armamentos. Segundo jornais britânicos, a Arábia Saudita considera obter a bomba atômica para fazer frente ao Irã, arqui-inimigo dos sauditas. Mas o país já tem à disposição armas de alta tecnologia. O Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo (Sipri, do inglês) afirma que, em 2010, os sauditas gastaram 543 milhões de euros em armamentos. O valor deixa o país na nona posição no ranking de importação de armas.
Uma situação que deixa ativistas como Maryam al Khawaja perplexos. A repressão dos déspotas contra o movimento democrático é, assim, levada adiante com armas ocidentais: "A questão que se coloca é: porque os governos estrangeiros, que já não apoiam os insurgentes, ainda fornecem armas que serão usadas para reprimir os protestos", questiona a ativista.
Autora: Cornelia Wegerhoff (np)
Revisão: Alexandre Schossler