Dia Mundial da Tuberculose discute avanços no tratamento da doença
24 de março de 2013A erradicação da tuberculose parece uma meta ainda distante de ser alcançada. Todos os anos, cerca de 9 milhões de pessoas são infectadas pela doença, e o número de óbitos chega a 2 milhões. A fim de chamar a atenção para o problema, em 1982 a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a União Internacional Contra Tuberculose e Doenças Pulmonares lançaram o 24 de março como o Dia Mundial da Tuberculose. A data remete à descoberta, cem anos antes, do bacilo causador da doença pelo médico alemão Robert Koch.
A tuberculose é causada pelo bacilo de Koch, Mycobacterium tuberculosis, que pode atingir todas as partes do corpo – mas em 80% dos casos o pulmão é o principal afetado. Assim como o vírus do HIV, a tuberculose enfraquece o sistema imunológico e os bacilos da doença se multiplicam rapidamente.
O tratamento é lento e utiliza medicamentos criados na década de 60. Só agora, depois de 50 anos, surge uma nova esperança para os pacientes de tuberculosos: o Bedaquilin. O medicamento foi aprovado em janeiro nos Estados Unidos pela agência norte-americana que regula alimentos e medicamentos, a FDA.
Marco contra a tuberculose?
Para o médico Tom Schaberg, professor e membro do Comitê Alemão da Luta contra a Tuberculose (DZK, sigla em alemão), a nova droga ainda não pode ser considerada uma descoberta revolucionária, mas sim, um novo mecanismo de ação. "É um grande passo para o tratamento da tuberculose. Esta nova droga vai atuar onde ainda há resistência a outros medicamentos", afirma Schaberg. Fundado em 1895, em uma época que a tuberculose era uma doença comum na Alemanha, o DZK é atualmente umas das organizações mais influentes no assunto.
O Bedaquilin inibe a produção de uma enzima importante para o ganho de energia das microbactérias e, assim, elas morrem. O medicamento funciona até mesmo em bactérias ultrarresistentes, que já tinham desenvolvido mecanismos de defesa contra a maioria dos antibióticos.
Tratamento mais rápido
Os primeiros sintomas da tuberculose, na maioria das vezes, não dão sinais claros da doença: fadiga, cansaço e depois tosse. Por isso, geralmente, o paciente demora para consultar um médico, o que aumenta o risco de infecções e permite com que a doença avance.
O objetivo da pesquisa é reduzir o tempo de tratamento que, atualmente, dura cerca de seis meses. "Diminuí-lo para três ou quatro meses seria um grande passo", diz Schaberg. O importante é que se pode combinar a Bedaquilin com as substâncias já utilizadas no mercado, pois, para que a doença não desenvolva resistência, a tuberculose é sempre tratada com um grupo de medicamentos diferentes.
Como existe uma variedade super resistente dos agentes da tuberculose, o paciente precisa continuar o tratamento com uma segunda linha de medicamentos por um período de dois anos. Oliver Moldenhauer, da organização Médicos Sem Fronteiras, afirma que nesses casos o Bedaquilin pode dar uma contribuição importante. "Esperamos que seja um marco no tratamento, mas isso só podemos afirmar com o tempo. A droga ainda foi pouco usada e, por enquanto, não dá para dizer que seja um marco no tratamento da tuberculose."
Segundo o professor Walter Haas, do Instituto Robert Koch em Berlim, o contágio pode persistir por anos e até mesmo décadas. Para ele, a maior realização na luta contra a tuberculose seria o desenvolvimento de uma vacina.
Atuação das ONGs no combate à tuberculose
A nova droga foi desenvolvida após um trabalho conjunto entre ONGs, uma empresa farmacêutica norte-americana e a TB Alliance, uma associação composta pela Organização Mundial da Saúde, a Fundação Bill e Melinda Gates e outras ONGs.
A associação tem se dedicado nas últimas décadas à luta contra a doença e o dinheiro coletado é depositado em um fundo internacional de prevenção à tuberculose, Aids e malária. O apoio ao desenvolvimento desse novo medicamento contra a tuberculose, de acordo com Scharenberg, foi realizado com a condição de que a droga seja oferecida a preços reduzidos em países com poucos recursos financeiros.
Por enquanto, o novo medicamento está liberado apenas nos Estados Unidos. Em casos excepcionais, pode ser usado na Alemanha mediante solicitação às autoridades. "O medicamento é apenas para pacientes em situação crítica, quando não há mais nada a ser feito", diz Oliver Moldenhauer.
Incidência no Brasil
Dados do Ministério da Saúde no Brasil indicam que quase 70 mil pessoas foram registradas com tuberculose em 2011 no país, e a taxa de óbitos foi de 2,4 para cada grupo de 100 mil habitantes. Apesar de uma queda de 15% na incidência de tuberculose na última década, ela ainda preocupa as autoridades brasileiras, já que esta é a quarta causa de óbitos por doenças infecciosas e a primeira entre os portadores do vírus HIV.