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MigraçãoBrasil

Diante da crise, brasileiros buscam emprego no Paraguai

15 de dezembro de 2021

Apesar de ter IDH mais baixo que o do Brasil, país vizinho está entre os dez que mais abrigam imigrantes brasileiros. Um deles é o engenheiro civil Adriano Galvão Ribeiro, que emigrou após ficar desempregado.

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Palácio do governo em Assunção, no Paraguai
O Paraguai é o único país latino-americano a figurar na lista dos dez que mais recebem imigrantes brasileirosFoto: Jorge Saenz/AP/picture alliance

Único país latino-americano a figurar na lista dos dez que mais recebem imigrantes brasileiros, o Paraguai não costuma ser aquela escolha óbvia que faz brilhar os olhos de quem pensa em fazer a malas e buscar uma vida fora. Mas para o engenheiro civil Adriano Galvão Ribeiro, de 32 anos, a nação vizinha se apresentou como uma terra de mais oportunidades profissionais frente a um Brasil em forte crise.

Depois de interromper uma graduação em Economia, Adriano formou-se em Engenharia Civil em 2015 na Pontifícia Universidade Católica de Goiás, em Goiânia, sua terra natal. Naquele momento, o setor de construção era um dos mais atingidos pela crise econômica deflagrada no país.

"Consegui trabalho em uma obra em Brasília, mas logo depois, naqueles indícios de crise, fiquei desempregado. Não tinha mais serviço", conta. Foi quando encontrou-se com um amigo do seu irmão mais velho, que veio com uma dica: valeria a pena observar o mercado da construção no Paraguai.

Em abril daquele ano, Adriano mudou-se para Assunção. Hoje, ele é um dos 240 mil brasileiros que vivem no país vizinho. Seu primeiro trabalho foi na área de telecomunicações — atuou em uma empresa que estava atualizando as antenas de celular de lá, tendo em vista a tecnologia 4G. "Não era bem minha área, mas foi um começo", comenta.

Gráfico mostra para onde vão os brasileiros que emigram

Cinco meses depois, a empreitada acabou. Adriano chegou a trabalhar de forma autônoma, na execução de uma casa particular. Quando terminou, resolveu passar o fim de ano com a família em Goiânia — e depois decidir os rumos para o ano seguinte.

Retornou à capital paraguaia em fevereiro de 2017, desta vez para trabalhar em uma empresa de estruturas metálicas. A decisão de ficar foi ganhando corpo. "Em julho, resolvi que voltaria ao Brasil para comemorar o aniversário de 70 anos do meu pai. E aproveitaria para preparar a papelada para homologar meu diploma de engenheiro aqui no Paraguai", conta.

Amor brasileiro

Foi uma viagem marcante. O trajeto de mais de 1.600 quilômetros foi vencido em duas pernas de ônibus — ele fez uma escala em Foz do Iguaçu. No total, foram 35 horas de viagem. "Cheguei, era noitinha de uma sexta-feira. Meu companheiro de farra insistiu para que fôssemos a uma boate", relembra. "Acabei assaltado no fim da noite."

Adriano Galvão Ribeiro e sua companheira Lorena Ribeiro
Adriano e Lorena estão entre os 240 mil brasileiros que vivem no ParaguaiFoto: Privat

Mas se o início das férias não parecia bom, uma semana depois a outra balada renderia a ele o amor da sua vida: a também engenheira Lorena Ribeiro, hoje com 28 anos. Apaixonaram-se. Tanto que um mês depois do retorno de Adriano ao Paraguai, ela foi visitá-lo — ficou 15 dias. Gostou tanto do namorado como do lugar. Retornou em outubro, desta vez para ficar um mês. Em fevereiro de 2018, Lorena viajou novamente para encontrar Adriano. Com malas maiores. Era para ficar.

"Ela que veio atrás de mim, juntou o útil ao agradável", brinca o engenheiro. Nesse meio-tempo, a homologação dele foi concretizada, e a vida começou a entrar nos eixos. Com o reconhecimento profissional, ele passou a trabalhar em uma construtora — podendo assinar os projetos.  

"Estrangeiro sem referência é difícil"

"O começo foi difícil, doloroso. Aqui no Paraguai a parte [de engenharia] civil era mais forte, e eu tinha trabalhando antes mais com estruturas metálicas. Tive de buscar emprego sozinho, ninguém me ajudou", diz ele. "Estrangeiro sem referência é difícil, principalmente sem documento, antes de homologar meu diploma."

Mas ele acredita que foi uma boa decisão. Avalia que o mercado da construção civil em Goiânia é muito saturado de mão de obra qualificada e, na região de Assunção, ele vê mais oportunidades de crescimento profissional.

Acabou se fixando na cidade de Lambaré, na região metropolitana da capital do país. "É uma área tranquila, arborizada, tenho vista para o rio Paraguai", explica.

Ele, que não sabia nada de espanhol, aprendeu no dia a dia. Calcula dominar uns 80% do idioma. Já o guarani é mais difícil. "Entendo uns 20%. Na obra é uma coisa importante, porque o pedreiro, o pessoal mais simples, fala guarani", afirma.

Adriano não sabe se quer ficar para sempre no Paraguai, mas por enquanto vai ficando. Tem planos de se casar com Lorena. "Ela está querendo ano que vem, mas vai ser só em 2023", desconversa. O plano é que seja "em duas partes": uma festa no Brasil e outra no Paraguai. "Estamos na luta, juntando dinheiro. Mais pela patroa, porque eu estou de boa com esse trem de casamento."

Saudade da comida brasileira

O Paraguai é o único país no ranking dos dez que mais recebem brasileiros a ter um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mais baixo do que o do Brasil. Todos os outros nove são considerados de IDH "muito alto" — tanto Brasil como Paraguai estão no escalão imediatamente inferior da classificação.

Mas Adriano diz que a vida lá é melhor, "sem sombra de dúvidas". "Ir para outro país pode dar mais qualidade de vida, mais oportunidades", reflete ele, lembrando que seu irmão mais velho, Juliano, também engenheiro, foi tentar a sorte no Canadá.

"Se sinto falta do Brasil? Uai, da comida", comenta. "Aqui falta um arroz, um torresmo… A gente não encontra em todo lugar essa comida do dia a dia. Falta o jiló. Quiabo, não tem. Arroz até existe, mas não feijão. Torresmo, bom, agora encontrei um brasileiro que faz o corte aqui. Também gosto do sertanejo [a música], sou goiano, aqui não encontro lugar que toca."

Para ele, o que melhor sintetiza essa ideia de qualidade de vida é a despensa cheia de produtos importados. "Com taxas de importação mais baratas, são bem mais acessíveis", exalta. "Chocolate importado, tem uma bolacha italiana que derrete na boa, minha mãe ficou fã. Tudo você consegue com menor custo."