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Dilma busca parceria estratégica com EUA usando tom mais brando que Lula

8 de abril de 2012

Em sua primeira visita aos Estados Unidos como presidente, Dilma Rousseff vai com agenda menos política. Perfil mais técnico e menos contestador da líder indica que Brasil quer explorar oportunidades de lucro.

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Foto: AP

Nem reforma do Conselho de Segurança tampouco crítica aos subsídios agrícolas. A passagem de Dilma Rousseff pelos Estados Unidos deve seguir à risca a definição de "visita de cortesia" e deixar os assuntos polêmicos de fora. Ela desembarca em Washington no dia 9 de abril, pela primeira vez como presidente.

Na agenda oficial, temas como educação, tecnologia e segurança energética irão nortear as conversas entre Dilma e Obama, informou o Itamaraty. Acordos de peso, no entanto, devem ficar para a próxima oportunidade – Barack Obama ainda corre o risco de não ser reeleito em novembro, e qualquer contrato firmado agora teria que ser revisto numa presidência posterior.

Com perfil mais técnico, voltando-se para a exploração de oportunidades comerciais – e menos de relações de simpatia e antipatia, como na era Lula –, a administração de Dilma tem objetivos claros. "O país quer que, a médio prazo, o governo dos Estados Unidos lhe reconheça um status de 'parceiro estratégico' que, entre os emergentes, só a China e Índia têm", pontua Rafael Duarte Villa, especialista da Universidade de São Paulo, em conversa com a DW Brasil.

A antiga dependência

O Brasil está mais rico, menos dependente do mercado norte-americano, não precisa mais do suporte financeiro dos Estados Unidos ou do Fundo Monetário Internacional. Mas um cenário permaneceu praticamente inalterado: o país ainda não consegue impulsionar sozinho o seu desenvolvimento tecnológico.

"No passado, foi por meio de um amplo programa de cooperação entre MIT, Cornell University e a Força Aérea Brasileira que foram criadas as bases da indústria aeronáutica no Brasil", lembra Eiiti Sato, da Universidade de Brasília. Hoje, afirma o especialista, o país deve buscar a cooperação com os norte-americanos em setores como a biotecnologia.

Mais cedo, ou mais tarde, um ponto sensível – mas "essencial" – também deverá ser abordado nessa parceria, pontua Marcus Vinícius de Freitas, professor de direito e relações internacionais da Fundação Álvares Armando Penteado. "A cooperação militar para a proteção de recursos naturais. Particularmente na questão marítima, onde o Brasil terá grande exploração de petróleo." Segundo Freitas, as Forças Armadas estão defasadas e precisam melhorar a aquisição de equipamento.

O que deveria estar em jogo

Os Estados Unidos não são mais o principal parceiro comercial do Brasil – depois de 80 anos de liderança, a China desbancou os norte-americanos em 2009. Mas o vizinho de continente ainda é um importante consumidor de produtos manufaturados brasileiros e pode usar o país como fonte para matar sua sede de petróleo.

"O Brasil quer se transformar num fornecedor confiável de petróleo para os Estados Unidos, que enfrentam problemas clássicos com seus fornecedores – como Arábia Saudita e Venezuela", ressaltou Freitas. Há ainda o interesse pelo etanol brasileiro, que deixou de sofrer a taxação extra cobrada pelos norte-americanos desde janeiro. Nessa área, no entanto, o Brasil fica devendo, já que enfrenta dificuldades para atender a demanda interna.

As negociações com Washington também são importantes para aperfeiçoar um setor estratégico para o desejado futuro próspero brasileiro: a educação. Os Estados Unidos ainda detêm as melhores universidades do mundo, e o Brasil enfrenta graves problemas de qualificação de mão de obra. É por isso que a viagem oficial de Dilma Rousseff inclui visita a Harvard e encontros com acadêmicos.

Uma postura diferente

A presidente brasileira chega aos Estados Unidos com uma alta de popularidade em casa. Segundo a pesquisa encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) ao Ibope, a taxa de aprovação subiu de 72% para 77%.

A postura de Dilma também deve aumentar as chances de uma agenda mais cooperativa. "A esperança é que esse diálogo esteja entrando numa nova fase onde, em ambos os lados, os ruídos diminuam e haja melhor entendimento das expectativas que cada um alimenta em relação ao outro", comenta Eiiti Sato.

Na visão de Rafael Duarte Villa, isso é o que também os Estados Unidos aguardam. "Bilateralmente, eles esperam, sim, um tratamento mais brando, de menos contestação, e de maior alinhamento que aquele que operou durante os anos dos governos Lula."

Autora: Nádia Pontes
Revisão: Carlos Albuquerque