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Dinamarca estabelece meta de energia 100% limpa até 2050

Helle Jeppesen (cn)8 de maio de 2014

Pioneiro em mudanças na matriz energética, país pretende utilizar somente fontes de energia renováveis. Para especialistas, medidas adotadas pelo governo dinamarquês podem servir de modelo para outros países europeus.

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Foto: picture-alliance/dpa

Até 2050, a Dinamarca pretende produzir somente energia e calor limpos, eliminando as emissões de dióxido de carbono no setor. Para 2020, a meta é produzir cerca de 70% da energia a partir de fontes renováveis. Hoje, já são 43%.

"Atualmente, a energia renovável correspondente a 25% do consumo total de energia na Dinamarca", diz Kristoffer Böttzauw, vice-diretor da Agência de Energia Dinamarquesa, convencido de que é possível alcançar a meta prevista até 2050.

A Dinamarca é pioneira absoluta na União Europeia nesse setor, segundo Tobias Austrup, consultor político para mudança da matriz energética do Greenpeace na Alemanha. "Aqui fica claro ser possível que países europeus industrializados realizem uma verdadeira e rápida mudança energética", afirma.

Austrup vê a Dinamarca como modelo para a Europa. "Até a agora a mudança da matriz energética alemã, por exemplo, foi apenas no setor de energia elétrica", diz.

Segundo ele, há várias ideias dinamarquesas que poderiam ser implementadas na Europa: "A proibição do aquecimento com combustíveis fósseis e a ampliação da cogeração. Essas usinas são supereficientes. Elas utilizam o calor perdido na produção de energia elétrica para o aquecimento". Para Austrup, também é possível aprender sobre o uso de energia eólica com o país vizinho.

Parques offshore

Com 7.300 quilômetros de costa, as condições para a produção de energia eólica na Dinamarca são tão favoráveis como quase em nenhuma outra região europeia. O país fica entre dois mares – o do Norte e o Báltico – e, por isso, aposta na geração de energia eólica offshore, ou seja, no mar.

Um parque eólico com capacidade de geração de 600 megawatts está sendo construído na região de Kriegers Flak, no Mar Báltico. O parque é resultado de uma cooperação sueco-alemã-dinamarquesa e deve começar a produzir energia até 2020.

No ano passado, outro parque offshore com capacidade para a produção de 400 megawatts foi inaugurado próximo à ilha Anholt, situada no estreito de Kattegat, entre a Dinamarca e a Suécia. As turbinas eólicas foram fornecidas pela empresa alemã Siemens.

Windrad in Dänemark
Na Dinamarca, moradores são indenizados por perda no valor de imóveis devido à instalação de turbinas eólicasFoto: Morten Stricker/AFP/Getty Images

Entretanto, os parques offshore não são suficientes para alcançar a meta energética. Assim, usinas eólicas também estão sendo construídas em terra. No passado, iniciativas locais impediram a construção das cada vez maiores turbinas eólicas. Em 2008, o governo conseguiu o apoio da população com novas regras.

Primeiro, os moradores são indenizados diretamente, conta Böttzauw. Ou seja, quando uma casa perde valor imobiliário devido à instalação de uma turbina eólica, que pode ter até 150 metros de altura, a operadora precisa ressarcir o proprietário do imóvel por essa perda.

Além disso, pelo menos 20% dessa energia devem ser oferecidos localmente, possibilitando aos moradores uma participação direta no investimento. E há também um rateio por megawatt pago ao município, afirma Böttzauw. Por trazer vantagens diretas tanto para o município quanto para os moradores, a construção de turbinas eólicas passou a ser mais aceita pelas populações locais.

Transmissão e armazenagem

Na Dinamarca, o problema das linhas de transmissão foi resolvido com a construção de cabos subterrâneos. Böttzauw admite que a solução é cara, mas construir torres elétricas além das turbinas eólicas seria demais para a população. A energia elétrica produzida pelos parques offshore deverá ser distribuída pelo país por meio de três novas linhas de transmissão.

Segundo Böttzauw, o grande problema da extinção de fontes energéticas de origem fóssil está no setor de transporte. Uma parte dele poderia ser solucionada com carros elétricos. "Não dá para decidir quando há vento. Mas veículos elétricos podem ser usados para armazenar o excesso de energia eólica", reforça. Quando há pouca energia, a rede geral pode ser alimentada com a energia armazenada na bateria dos carros.

Elektroauto in Kopenhagen
Carros elétricos podem ser usados para armazenar energiaFoto: imago/Dean Pictures

A Dinamarca também investe em grandes aquecedores elétricos e bombas de calor. Assim, a energia eólica excedente é transformada em calor. "Quando há bastante vento, não existe energia mais barata que a eólica", completa Böttzauw.

E quando não há vento suficiente, talvez haja sol. Por isso, a Agência de Energia Dinamarquesa está investindo cada vez mais em energia solar. O resto da demanda de energia pode ser suprida com biomassa, somada à economia e à eficiência. Os dados da agência falam por si só: desde 1980, a economia no país cresceu 78%, mas o consumo de energia permaneceu quase o mesmo.

Cooperação com a China

Na Dinamarca, o governo optou por um caminho diferente para rebater o argumento da falta de competitividade de fontes renováveis. As empresas recebem um subsídio se usam energia renovável e aumentam a eficiência energética. Em 2010, a tecnologia dinamarquesa no setor de energia representou cerca de 10% das exportações.

Solaranlage in Dänemark
Além da eólica, Dinamarca investe em energia solarFoto: imago/imagebroker

Para alcançar a liderança global nesse setor do futuro, o país investe em pesquisa e financiamentos para fontes renováveis, eficiência tecnológica e sistemas de aquecimento renováveis. Assim, entre 6 e 8 mil novos postos de trabalho deverão criados no país de 5,5 milhões de habitantes por ano.

A experiência do país escandinavo interessou até à China. Desde 2006, há uma cooperação intensiva entre esses dois países nesse setor, conta Böttzauw. Começou com energia eólica, e desde 2010 há um projeto conjunto para o desenvolvimento de fontes de energia renovável.

"A China tem um interesse grande nos nossos sistemas de aquecimento à distância e também em biomassa e parques eólicos offshore", diz Böttzauw. Os interesses econômicos são o ponto central da cooperação. "Nós fomos à China para ajudar a resolver os problemas energéticos e climáticos que acompanham o crescimento econômico."