Disco celeste da Idade do Bronze é decifrado
28 de fevereiro de 2006A descoberta do disco de Nebra teve repercussão mundial quando anunciada ao público em 2002. Agora a utilidade do instrumento de 3600 anos de idade não é mais alvo de especulações.
Um grupo de acadêmicos alemães estudou o achado arqueológico, e as evidências sugerem que o disco era usado como um complexo relógio astronômico para a sincronização dos calendários solar e lunar.
"É um evidente acréscimo ao que sabíamos sobre o significado e função do disco celeste", diz o arqueólogo Harald Meller.
Um décimo-terceiro mês?
Diferentemente do calendário solar, que indica a posição da Terra em sua trajetória ao redor do Sol, o calendário lunar é baseado nas fases da lua.
Um ano lunar é 11 dias mais curto do que um ano solar, porque 12 meses sinódicos – ou 12 retornos da lua à fase nova – levam somente 354 dias, enquanto a Terra termina seu movimento de translação em 365.
O disco celeste de Nebra era usado para determinar se e quando um décimo-terceiro mês – denominado mês intercalar – deveria ser adicionado ao ano lunar, a fim de mantê-lo sincronizado com as estações do ano.
"A funcionalidade desse relógio era conhecida provavelmente por um grupo mínimo de pessoas", disse Meller.
Ciência da Idade do Bronze
O disco de 32 centímetros de largura e ornamentos dourados que simulam o sol, a lua, e as estrelas é a mais antiga representação visual do cosmos conhecida até hoje. Um agrupamento de sete pontos foi interpretado previamente como a constelação Plêiades, como aparecia há 3600 anos.
A divulgação da funcionalidade do disco traz à luz os conhecimentos astronômicos e as habilidades da Idade do Bronze, quando as pessoas usavam uma combinação dos calendários solar e lunar como um importante indicador para as estações agriculturais e para a passagem do tempo.
"O fato mais interessante é que as pessoas da Idade do Bronze tenham conseguido harmonizar os anos solares e os anos lunares. Nunca imaginamos que eles fossem capazes disso", diz Meller.
De acordo com o astrônomo Wolfhard Schlosser da Universidade Rurh, em Bochum, os "observadores do céu" na Idade do Bronze já conheciam o que os babilônios viriam a descrever somente mil anos mais tarde.
"Ainda não está claro se essa foi uma descoberta local, ou um conhecimento vindo de longe", diz Schlosser.
Da Saxônia à Babilônia
Desde que o disco foi descoberto, próximo ao mais antigo observatório da Europa, em Goseck, Saxônia-Anhalt, a forma como a lua está representada nele intriga arqueólogos e astrônomos.
"Eu queria explicar a espessura do crescente no disco celeste de Nebra, porque não é a fase da lua nova", diz o astrônomo Ralph Hansen, de Hamburgo.
Em seu esforço para explicar por que os astrônomos de Nebra criaram um mapa celeste com uma lua quatro ou cinco dias atrasada, Hansen consultou a coleção "Mul-Apin" de documentos babilônios dos séculos 6 e 7 a.C..
Esses documentos em escrita cuneiforme representam, segundo Hansen, um compêndio do "conhecimento astronômico de tempos remotos". Eles também contêm uma regra para calcular a fase crescente, bastante similar à do disco de Nebra.
De acordo com a equação babilônia, um décimo-terceiro mês deveria ser adicionado ao calendário lunar somente quando a posição da lua e da constelação de Plêiades corerespondessem exatamente às imagem no disco de Nebra.
Conhecimento que vem e vai
Os astrônomos da Idade do Bronze teriam segurado o relógio de Nebra contra o céu e observado a posição dos objetos celestiais.
O mês intercalar era inserido quando eles percebiam, no céu, posições correspondentes às do mapa que tinham em mãos, o que ocorria a cada dois ou três anos.
Mas os pesquisadores alemães também descobriram que, nos 400 anos em que o disco foi utilizado, seu status se modificou.
As perfurações na ponta do objeto assim como um navio que foi adicionado posteriormente ao mapa sugerem que o conhecimento sobre o menor número de dias do calendário lunar perdeu-se ao longo do caminho. "Isso significa que, no fim, o disco virou um mero objeto de culto", diz Meller.
O disco celeste foi encontrado em 1999 por dois caçadores ilegais de tesouros. As autoridades o apreenderam na Suíça em 2002, durante um batida policial, juntamente com outros objetos da Idade do Bronze.