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Disputa revela fraqueza dos sindicatos

ns23 de julho de 2003

A luta pelo poder no Sindicato dos Metalúrgicos foi solucionada com um acordo entre as duas alas. Isso enfraqueceu o sindicato, segundo o sociólogo H. Niedenhoff, que vê surgir uma concorrência mais ligada à bases.

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Peters (dir.) e Huber: a nova/velha dobradinha no IG-MetallFoto: AP

Com cerca de 8,5 milhões de filiados, o Sindicato dos Metalúrgicos, que na Alemanha engloba também os eletricitários, é o maior sindicato industrial do mundo. O gigante, porém, está sofrendo os efeitos do fracasso da greve no Leste da Alemanha, pela redução da jornada semanal de trabalho a 35 horas. A greve acabou sendo suspensa, sem ter atingido seu objetivo.

Responsabilizado pelo fracasso, o vice-presidente Jürgen Peters recusou demitir-se. Ele estava designado para assumir a presidência do sindicato em outubro, com a retirada de Klaus Zwickel por questão de idade. No final, antecipou-se o congresso sindical para agosto e foi Zwickel quem se demitiu, na segunda-feira (21/07), ao não conseguir manobrar sua sucessão. Peters compôs com o líder da ala reformista, Berthold Huber, e se propõe a presidir o sindicato apenas por quatro anos, passando então a batuta a Huber, que será o futuro vice-presidente, se o congresso concordar com o arranjo.

Desafios econômicos causam cisão

Diante da luta pelo poder no IG Metall, cabe perguntar que papel os sindicatos desempenham na disputa política no país, dominada - não apenas na Alemanha - por temas econômicos. Os grandes desafios são a reforma do deficitário sistema social, o equilíbrio das finanças públicas e a diminuição dos custos adicionais do trabalho, reivindicada pela iniciativa privada. E é neste tópico, considerado fundamental para a geração de novos empregos e para dinamizar a economia, que se insere a disputa sindical.

Klaus Zwickel
Klaus Zwickel, ao anunciar sua renúncia da presidência do sindicato. À sua frente durante vários anos, Zwickel é uma das grandes figuras do movimento sindical alemão. Partidário de reformas, ele pressionou Peters e acabou levando a pior.Foto: AP

Trata-se, no fundo, de quem ditará a linha no IG Metall: os defensores do status quo ou os sindicalistas abertos a reformas. Entretanto deveria estar mais ou menos claro para todos que se foram os tempos em que os sindicatos conseguiam bons aumentos nas negociações salariais. O que está em jogo é a manutenção do Estado do bem-estar social, sob as novas condições reinantes, produto das transformações sociais e econômicas.

Facções se anulam e enfraquem sindicato

Para o sociólogo Horst-Udo Niedenhoff, do Instituto da Economia Alemã, em Colônia, o fato de o Sindicato dos Metalúrgicos ter interrompido a greve sem obter resultados é uma verdadeira catástrofe. Também porque isso só havia acontecido uma vez na história da Alemanha, onde a luta sindical segue etapas e passos pré-estabelecidos, que ajudam a garantir o sucesso das reivindicações.

Uma catástrofe é também a queda do número de filiados nos últimos anos. De 11 milhões, no início da década de 90, restaram 8,5 milhões no início do novo milênio. A suspensão da greve no Leste Alemão também sugere que os instrumentos do IG Metall não são adequados à imposição de suas metas.

"No momento, ele não está em condições de agir com o poder de que precisaria um sindicato para negociar um acordo coletivo de trabalho. Ele está enfraquecido e não apenas pela greve. A luta entre a ala conservadora e a reformista é tão forte, que ambas se anulam reciprocamente," comentou Niedenhoff à Deutsche Welle.

Perigosa concorrência para os donos do poder sindical

A formação de unidades menores para a defesa dos interesses dos trabalhadores nas empresas está se impondo. Ela significa descentralização do movimento e concorrência para o gigantesco Sindicato dos Metalúrgicos, que tudo centraliza em torno da sua liderança, criando, com o tempo, um aparelho enorme, hierárquico e burocrático.

"Existe há dez anos um grupo de trabalhadores independentes que já reúne em suas fileiras dez mil integrantes dos conselhos de fábrica. Isso significa que este grupo está representado ali onde se faz a política. Também há associações menores, mas o importante é que elas estão presentes nas bases e nas empresas onde as decisões são tomadas em co-gestão. Isso é poder".

A questão do poder também se coloca na Confederação dos Sindicatos Alemães, a DGB. Ela é dominada pelos dois maiores sindicatos do país, o IG Metall e o Verdi, da prestação de serviços, que têm o maior número de delegados nos congressos. A confederação fracassou na questão da greve, ao não conseguir mediar o conflito. Niedenhoff avalia, por isso, que ela não passa de um "tigre de papel", condenada sempre a procurar um mínimo denominador comum com os outros sindicatos.