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Documentário expõe paradoxos dos "Viciados em Atuar"

Udo Taubitz /sv9 de junho de 2004

Chega às telas alemãs "Die Spielwütigen", o perfil de quatro atores acompanhados de perto pelas lentes do diretor Andres Veiel durante sete anos. O resultado é um longa cru, autêntico e absolutamente recomendável.

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Stephanie Stremler em cena do longa de Andres VeielFoto: Timebandits Films

Por mais de sete anos, Andres Veiel observou quatro jovens com sua câmera: Stephanie, Constanze, Karina e Prodromos – durante a prova de admissão na Escola de Arte Dramática Ernst Busch em Berlim, na sala da casa dos pais, em momentos de conflito com os docentes da escola, encarnando seus primeiros papéis, procurando agiotas, em uma agência de casting de atores em Nova York ou num casamento em Israel. O filme expõe o processo de tornar-se adultos dos quatro jovens, em suas aparições nos palcos, na tevê ou no cinema.

Estrelas cadentes

Die Spielwütigen (literalmente algo como Os Furiosos pela Atuação ou, na tradução escolhida pelos distribuidores para o inglês, Addicted to ActViciados em Atuar), é uma resposta autêntica aos shows de casting, que no momento pululam na televisão alemã.

"As pessoas são sugadas, por um pequeno espaço de tempo levadas para cima, passam algumas poucas semanas vagando pelo estrelato e aí pronto, chegam os novos, que por sua vez são puxados para cima de novo", comenta Veiel.

"Em programas da tevê nacional, como Alemanha procura o superstar ou Starsearch, os efeitos têm que se tornar sempre mais estridentes e a troca dos aspirantes a estrela cada vez mais veloz", finaliza.

Heróis frágeis

O documentário de Andres Veiel coloca aí um contraponto, proporcionando um olhar lento e exato sobre a trajetória rumo à maturidade dos atores até se tornarem realmente profissionais. O diretor mostra a transformação gradual dos desejos dos jovens em realidade, não deixando de omitir a enorme concorrência no mercado, com resultados muitas vezes parcos.

Além do fato de nem todo papel ser encarnado com prazer pelos jovens atores. Com um detalhe: o sucesso nem sempre aparece no longa de Veiel como sinônimo de sorte. Acima de tudo, Viciados em Atuar traz à tela pessoas reais, em situações absolutamente reais. Veiel não exibe seus "personagens", não os expõe ao ridículo.

Mesmo quando outras pessoas no filme o façam, como por exemplo na cena em que Prodromos se candidata a uma sessão de casting em uma agência em Nova York, provocando o sarcasmo de seus interlocutores quando descobrem que ele não havia se preparado para atuar em inglês. Veiel leva seus "heróis" a sério, com suas qualidades e fragilidades.

"Quando alguém chora ou se desmorona, não é possível pegar a câmera e fazer um zoom, para documentar cada lágrima. Muitas coisas eu simplesmente não mostro e deixo às figuras a aura da vida privada", esclarece o diretor.

Ingenuidade

O que não torna o filme menos interessante, muito pelo contrário: exatamente porque Veiel apenas insinua muitas coisas, ficando a cargo da fantasia do espectador concluir determinadas imagens. Muita fantasia não é contudo necessária no fim dos 104 minutos de filme para chegar à conclusão de que a profissão de ator pode ser ao mesmo tempo esplêndida e terrível, uma vez que o palco, ao propiciar viagens em direção a vidas desconhecidas, cerceia ao mesmo tempo a própria existência. Ricos e famosos, nessa história, se tornam apenas alguns poucos.

Além disso, fica claro que nenhuma estrela cai do céu. Os Viciados em Atuar são vistos em situações de resistência extrema, precisam nutrir uma enorme curiosidade e, por fim, uma espécie de obsessão, para que do talento possa ser extraída a capacidade prática. E no filme de Andres Veiel são exatamente aqueles que no início passavam a imagem de ingênuos e pouco talentosos que no final parecem ter as melhores chances de se tornarem estrelas reais.