Dois policiais são baleados em protestos por Breonna Taylor
24 de setembro de 2020Dois policiais foram feridos com tiros em Louisville, no estado do Kentucky, na noite desta quarta-feira (23/09), durante protestos contra a decisão das autoridades de não acusar ninguém pela morte da afro-americana Breonna Taylor, baleada por agentes da polícia durante buscas em seu apartamento, em março.
Os dois agentes da polícia alvejados foram levados para um hospital e estão fora de perigo, disseram as autoridades. Um suspeito foi detido.
A polícia de Louisville afirmou que o incidente ocorreu pouco antes do toque de recolher decretado para conter os protestos, já esperados por causa da decisão de não acusar ninguém pela morte de Taylor, uma profissional de saúde de 26 anos. O toque de recolher havia sido decretado mesmo antes da decisão do grande júri.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ofereceu ajuda do governo federal para conter os protestos. Também houve manifestações em outras cidades pelo país, como Nova York, Washington, Atlanta e Chicago. "Rezo pelos dois agentes que foram alvejados esta noite em Louisville. O governo federal está pronto a ajudar", afirmou Trump, acrescentando que falou com o governador Andy Beshear. "Estamos prontos para trabalhar juntos", disse.
O candidato democrata à presidência, Joe Biden, apelou por manifestações pacíficas e disse que é necessário resolver o problema da "utilização de força excessiva" pela polícia.
Procuradoria vê legítima defesa
Um grande júri do estado do Kentucky decidiu não acusar a polícia de Louisville pela morte de Taylor, o que motivou a concentração de centenas de pessoas em protesto.
O caso não está mais sendo investigado como homicídio. O único dos três agentes indiciados foi libertado sob fiança de 15 mil dólares e acusado de negligência por disparar contra um outro apartamento no prédio.
Os procuradores disseram que os dois agentes que dispararam as suas armas contra a jovem de 26 anos agiram em legítima defesa.
Os policiais, três homens brancos, chegaram ao apartamento de Taylor com um mandado de busca no âmbito de uma investigação por tráfico de drogas, em 13 de março. Eles dizem que bateram na porta e se identificaram como policiais, o que foi confirmado pelo testemunho de um vizinho. Como não obtiveram resposta, invadiram o apartamento.
No local, eles disseram ter visto um homem e uma mulher. O homem, o namorado de Taylor, Kenneth Walker, foi o primeiro a disparar, atingindo um dos policiais numa perna. Ele chegou a ser acusado de tentativa de homicídio. Posteriormente os procuradores retiraram a acusação.
Os policiais reagiram e dispararam 32 vezes, segundo o relato do procurador-geral estadual, Daniel Cameron. Cinco disparos atingiram Taylor, e um deles foi fatal. Nenhum disparo atingiu o namorado.
Disparos de um dos policiais atingiram um apartamento vizinho, onde estavam três pessoas, incluindo uma mulher grávida e uma criança. Os disparos deste policial, que é o único acusado no caso, não atingiram Taylor, segundo o procurador-geral.
Procurador: "Justiça popular não é justiça"
Algumas questões ficaram em aberto. As circunstâncias em que o mandado de busca foi expedido continuam sendo investigadas, pois a pessoa procurada não estava na residência de Taylor. E o namorado dela declarou ter ouvido batidas na porta, mas disse não ter ouvido que se tratava da polícia. Por isso, segundo ele, pensou que se tratavam de arrombadores.
Cameron, um afro-americano em ascensão no Partido Republicano, emocionou-se ao explicar a decisão judicial, admitindo que muitos possam ficar revoltados com o resultado, mas defendendo que "justiça popular não é justiça" e que "justiça com base na violência é apenas vingança". Ele elogiou o trabalho da polícia.
Em 15 de setembro, as autoridades da cidade de Louisville abriram um processo contra os três policiais, a pedido da mãe de Taylor, concordando em pagar-lhe 12 milhões de dólares e em levar adiante reformas no sistema policial local.
AS/lusa/rtr/dpa