Doping, o lado obscuro dos Jogos Olímpicos
14 de agosto de 2004No dia da festa de abertura das Olimpíadas em Atenas, o país anfitrião foi surpreendido com a notícia de provável doping envolvendo duas estrelas do esporte grego, os velocistas Kostas Kenteris e Ekaterini Thanou. A dupla simplesmente não apareceu a um controle antidoping, atitude considerada suspeita para quem não tem nada a temer.
Kenteris e Thanou deveriam prestar depoimento ao Comitê Olímpico Internacional (COI), nesta sexta-feira (13/08), mas não compareceram devido a um acidente de motocicleta. Ambos estão hospitalizados e só deverão receber alta na segunda-feira (16/08), quando então serão interrogados.
Thanou é campeã européia nos 100 metros rasos. Kenteris, campeão olímpico, europeu e mundial nos 200 metros rasos, era o mais cotado para acender a pira olímpica na cerimônia de abertura dos Jogos. As más línguas dizem que a internação seria uma manobra para abafar o caso e acalmar a imprensa.
Jogo de esconde-esconde
Seja como for, tudo leva a crer que o tal ditado "o importante é competir" está completamente fora de moda. Pelo jeito ele foi substituído por "o importante é ganhar", a qualquer custo, a qualquer preço, por qualquer risco. Casos de doping deixaram de ser uma exceção em competições esportivas e passaram a ser algo corriqueiro. E pior, uma verdadeira guerra de esconde-esconde.
Por um lado, na ânsia de conquistar vitórias, alguns atletas, inclusive de alta categoria e com caráter supostamente acima de qualquer suspeita, consomem drogas cada vez mais sofisticadas para melhorar o desempenho. Do outro lado estão cientistas e médicos, que desenvolvem e realizam testes cada vez mais específicos para diagnosticar a presença de substâncias proibidas no organismo dos competidores.
Tentando driblar o controle
Uma das mais modernas drogas é o hormônio do crescimento. Usado para ajudar crianças com alterações no desenvolvimento ósseo, este hormônio foi adotado pelos atletas por causar aumento de vários tecidos, inclusive o muscular, proporcionando mais força e velocidade. Além disso, era difícil de ser diagnosticado em exames antidoping.
Em Atenas, é justamente este hormônio que está na mira da Agência Mundial Antidoping (WADA). Diversos métodos para detectar a presença do hormônio do crescimento serão realizados durante os Jogos Olímpicos. Um deles foi desenvolvido por Christian Strasburger, do Hospital Universitário Charité, de Berlim.
O teste desenvolvido pelo médico alemão consegue diferenciar o hormônio fabricado pelo próprio corpo e o geneticamente fabricado em laboratório entre 24 a 36 horas depois de ter sido absorvido pelo organismo. Por ser quase imperceptível, esta diferença era, até pouco tempo atrás, difícil de ser atestada nos controles antidoping. Com o aprimoramento do exame, a situação sofreu uma inversão. Agora são os atletas que fazem uso desta substância que estão em desvantagem.
Em prol do espírito esportivo
De acordo com o Comitê Olímpico Internacional, serão realizados mais de três mil exames de urina e outros 400 testes de sangue durante as Olimpíadas de Atenas. A operação custará mais de cinco milhões de euros. Todos os atletas sabem que podem ser chamados a qualquer momento para um controle antidoping. Mesmo assim, há quem se arrisque pelo sonho de uma medalha.
"Cada teste positivo é uma vitória na luta contra o doping", resumiu Richard Pound, presidente da WADA. E não custa lembrar que é também um alento para os que realmente disputam os Jogos com o verdadeiro e aparentemente tão em desuso espírito esportivo.