Dor da exclusão pode levar à violência, diz cientista
19 de novembro de 2015Decapitações diante de câmeras, guerras civis e atentados terroristas – imagens de tais atrocidades povoam os noticiários noite após noite. Fica difícil acreditar na bondade humana. "O homem é o lobo do homem", diz o ditado. Uma besta, que, uma vez libertada, se embriaga no sangue de seus companheiros e é capaz de atos cada vez mais abomináveis.
Diante da impotência, o veredicto é: esses agressores são "doentes", não têm mais nada em comum com "pessoas normais". O certo é que os assassinatos, estupros e mutilações que são cometidos diariamente nos pontos de conflito deste mundo não podem ser atribuídos somente à loucura de agressores isolados. Turmas inteiras de colegiais matam, no papel de crianças-soldado. Homens estupram em grupo ou executam "pessoas de outra fé" sob os aplausos de companheiros de combate.
A semente da violência se encontra, afinal, em cada um de nós?
O mito da "pulsão de agressão"
Sigmund Freud acreditava na violência no ser humano, numa "pulsão de agressão" nata. Gerações de cientistas pesquisaram o assunto. Já cinco anos atrás, também o neurobiólogo, médico e psicoterapeuta Joachim Bauer se ocupava da origem da violência global e cotidiana em seu livro Schmerzgrenze ("Limite da dor", em tradução livre).
"A questão de saber se isso pertence à natureza primitiva do ser humano é, naturalmente, de grande interesse também para os neurobiólogos", explicou Bauer em entrevista à DW.
E, assim, neurocientistas realizaram experimentos para mostrar se o sistema de recompensa é ativado no cérebro, quando seres humanos praticam a agressão sem provocação anterior. O resultado: para uma pessoa medianamente saudável, não é compensador praticar agressão infundadas.
"Os sistemas correspondentes no cérebro não apresentam maior atividade", explica o cientista. "O que os faz entrar em atividade é quando recebemos atenção, reconhecimento e valorização."
Reconhecimento como motor do mal
A tese soa paradoxal e, mesmo assim, parece ser cientificamente verificável: nosso desejo por reconhecimento, pelas substâncias mensageiras positivas do cérebro não é responsável necessariamente por boas relações interpessoais. Pelo contrário: "Por valorização e aceitação, as pessoas estão dispostas a fazer o mal", aponta Bauer.
E, assim, a pesquisa cerebral talvez possa explicar, neste caso, o que a sociologia e a psicologia social já descreveram várias vezes: como os jovens aderem a grupos violentos por ali se sentirem, finalmente, aceitos, e o sistema de recompensa em seus cérebros dispara de felicidade.
Um mecanismo que Joachim Bauer também acredita observar nos jovens que partem voluntariamente da Europa para o Jihad, a "guerra santa islâmica". "Poder-se-ia dizer com desdém que eles são losers, perdedores. Mas não se devem produzir perdedores numa sociedade, porque são eles justamente que correm risco de aderir a grupos radicais, onde vivenciam autoestima."
Exclusão age como dor
O fato de os agressores muitas vezes pertencerem aos perdedores da sociedade não é nenhuma descoberta nova. Negligenciados pelos pais, fracassados na escola, discriminados pela maioria da sociedade: padrões semelhantes aparecem sempre nas descrições dos agressores, e são repetidos pela mídia como um mantra, na tentativa de encontrar explicações.
O que raramente se diz é que a experiência da exclusão e da discriminação realmente afeta o cérebro. Nesse ponto há muito os cientistas já chegaram a resultados concretos. "Em caso de exclusão e humilhação, as áreas cerebrais que reagem são as mesmas que em caso de dor: é a chamada 'matriz da dor'", explica Bauer. "Ou seja, para o cérebro, dor não é somente ataque físico, mas também exclusão social e humilhação."
Hoje, a pesquisa neurológica sabe que a dor é um grande motor para a prática de violência. Possivelmente por esse processo ser evolutivamente determinado. Pois até hoje precisamos da capacidade de sermos agressivos, a fim de nos defendermos em caso de perigo.
O fato de o nosso cérebro equiparar a exclusão à dor é igualmente justificável em termos da evolução: afinal, nossos antepassados já viviam em grupos sociais e, via de regra, o banimento do grupo equivalia a uma sentença de morte. "Como a dor é o estímulo mais forte para que se agrida, pode-se entender por que pessoas ou grupos populacionais afetados pela exclusão mostram uma maior propensão à agressão", conclui o neurocientista.