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Doze artistas alemães participam da 30ª Bienal de São Paulo

7 de setembro de 2012

Com trabalhos de 111 artistas, tem início neste fim de semana a 30ª edição da Bienal de São Paulo. Sob o título "A iminência das poéticas", a mostra procurou criar constelações de arte com obras que dialogam entre si.

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Foto: Andres Otero

A justaposição, transformação e interação entre diferentes mídias, ideias e locações é o mote da Bienal de São Paulo deste ano. O foco do evento, que chega à sua 30ª edição, está na construção de narrativas: as obras são um caminho para decifrar A iminência das poéticas, título dessa edição do evento.

A equipe de curadoria liderada pelo venezuelano Luis Pérez-Oramas conta também com o brasileiro André Severo e o alemão Tobi Maier, como curadores associados, e com a venezuelana Isabela Villanueva, como curadora assistente.

O time viajou pelo mundo e selecionou obras de 111 artistas, que compõem o conceito de "constelações de arte contemporânea", apresentadas agora em São Paulo.

Tobi Maier
Tobi Maier, curador associado da Bienal de São Paulo em 2012Foto: Denise Adams

Essas obras formam uma narrativa não linear e criam um conjunto de trabalhos que dialogam entre si. "Queríamos criar espaços com possibilidades de acomodar grandes e variadas obras, como um conjunto único de pequenas exposições", disse o curador alemão Tobi Maier em entrevista à DW Brasil.

Procurando fugir do circuito óbvio da arte internacional e expandir o conceito e a abrangência da arte contemporânea, Maier explicou que "não queríamos forçar os trabalho num tema. Queríamos motivos que nos guiassem pela seleção de trabalhos. 'Iminência das poéticas' é um motivo muito amplo, assim como as obras selecionadas."

Transformações do tempo

A opção por não ter uma narrativa é um caminho para mostrar os tempos que vivemos: de excesso, de fragmentação, do caos, da incerteza e da globalização. A curadoria buscou no passado alguns artistas que tratam dessas questões e conseguem ser relevantes, décadas depois de suas obras terem sido concretizadas.

É o caso da alemã Charlotte Posenenske, que experimentou o extraordinário em suas esculturas abstratas. "Ela gostava de exibir seu trabalho em estações de trem e aeroportos. Estamos reforçando sua visão exibindo seu trabalho na Estação da Luz, e assim também criamos um dialogo com a tradição do neoconcretismo no Brasil", disse o curador. A escultura modular pode ser vista pelas mais de 400 mil pessoas que passam todos os dias pela maior estação ferroviária da cidade.

Biennale Sao Paolo 2012
Anna Opermann duela entre contexto e espaçoFoto: Anna Oppermann

Além do trabalho de Posenenske, a Bienal apresenta obras de outros artistas alemães mortos. As fotografias de August Sander são como um catálogo tipográfico do povo alemão em tempos de transformação. Horst Ademeint expõe o universo do indivíduo em crise através de fotos e anotações caóticas. O duelo entre contexto e espaço aparece nas instalações de Anna Opermann. As obras da artista, que envolvem questões existenciais e sociais, são exibidas pela primeira vez na America Latina.

O trabalho de Franz Erhand Walther será apresentado no grande salão do prédio da Bienal. "O espaço dá uma outra perspectiva à obra, que necessita do espectador para ser ativada. Acredito que isso é muito importante no campo da poética, deixar a voz do público participar de forma criativa", completou Maier sobre a obra do alemão, cujas esculturas de tecido necessitam o corpo do espectador para tomar forma.

Outra realidade

Artistas alemães contemporâneos também participam da Bienal. O trabalho de Jutta Koether desafia normas. Suas reproduções de obras de Poussin revertem a ideia de gênero, jogando com o olhar masculino e feminino. "Demos a possibilidade para ela expor no MASP de uma maneira não disponível para a maioria dos artistas. Criamos mais um diálogo, pois o museu projetado por Lina Bo Bardi recentemente restaurou um quadro de Poussin", disse Maier.

Biennale Sao Paolo 2012
Foto do alemão August SanderFoto: August Sander

Os espaços também são essenciais para construir a narrativa não linear atrelada ao conceito de constelações. É o caso do coletivo anglo-alemão Mobile Radio, que apresenta seu trabalho no mezanino do prédio da Bienal, no Parque do Ibirapuera. Desde 2002, eles mantêm a emissora Resonance104.4fm em Londres, uma plataforma para a arte experimental.

Com uma estação temporária de radio, a dupla formada pelo alemão Knut Aufermann e pela inglesa Sarah Washington se apresenta em festivais e eventos com transmissões especiais e contribuições dos visitantes e de artistas de todo o mundo.

O sistema de agrupar as obras em "constelações" ajudou, segundo o curador, a construir uma narrativa e a criar uma linguagem para esses espaços. As possibilidades de explorar e observar o conjuntos de obras é aberta e abstrata, mas trabalha em prol do caos e em nome da imprevisibilidade.

Maier disse que a alemã Katja Strum estava apreensiva com a falta de textos explicativos nas paredes. "Depois de montar seu trabalho, ela estava radiante, porque não se precisou de texto para contextualizar as obras com o entorno. O trabalho de Strum está próximo ao de Waldemar Cordeiro e da também alemã Viola Yeşiltaç. Essa ideia das formas e desdobramentos geométricos, do neoconcreto, do neoabstrato, fica aparente na constelação", explicou o curador, que se diz feliz por poder agrupar essas obras e criar o dialogo.

Biennale Sao Paolo 2012
Os desdobramentos geométricos de Katja StrumFoto: Katja Strunz

"A Bienal precisa da cidade"

A política aparece da forma menos óbvia e em diferentes vertentes no evento desse ano. "Poética não exclui política, ela aparece na maneira como os trabalhos foram feitos e em tópicos abordados por diversos artistas, como a questão do gênero, coletividade ou feminismo", disse Maier. Ele cita a Bienal de Berlim como um “gesto bravo” no mundo dos grandes eventos de arte hoje por seu caráter declaradamente político.

Para o curador um dos pontos principais da Bienal de São Paulo deste ano é a interação das obras com as diferentes locações em São Paulo. Além do prédio da Bienal, o evento ocorre no Museu da Cidade, MASP, Capela Morumbi, Casa do Bandeirante, Casa Modernista, Avenida Paulista, entre outros.

O contexto histórico e social dessas locações também contribuem para criar espaços extraordinários para artistas, curadores e público. Isso envolve não somente a exposição de obras, mas também eventos, performances e discussões.

"A bienal está presente no cenário cultural da cidade de São Paulo, abrindo-se a uma real interação e cooperação. Colocar a cidade em diálogo com a arte contemporânea renova a maneira como observamos a arquitetura desses espaços. Queremos colocar a cidade, artistas e visitantes em contato com as iminências da poética", concluiu Maier.

Autor: Marco Sanchez
Revisão: Carlos Albuquerque