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Dívida precoce, falência tardia

rw24 de junho de 2003

Jovens alemães dispõem de mais dinheiro, mas estão cada vez mais endividados por causa do consumo excessivo. Escolas incluem controle de gastos no currículo.

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Celular, símbolo de status e fator de endividamentoFoto: Bilderbox

Um estudo do Instituto de Pesquisas da Juventude, de Munique, revelou que os jovens entre 13 e 24 anos dispõem, em média, de 5650 euros para gastar ao ano. Crise econômica à parte, a juventude alemã vai dispor este ano de 62 bilhões de euros, seja da mesada, bicos ou presentes em dinheiro. São quase dez bilhões de euros a mais que no ano passado.

Karin Fries, diretora do instituto de pesquisas, tem uma justificativa para este aumento: Pode ser paradoxal, mas quando a situação econômica dos pais é ruim, quem lucra são as crianças. Pais e mães cada vez mais estressados compensam com dinheiro o pouco tempo que têm para os filhos. Dispor de tanto dinheiro, entretanto, pode ser uma armadilha no moderno mundo do consumo.

O apoio econômico em demasia dos pais a um filho pode ser o início de um círculo vicioso, alertam os especialistas. Sem saber administrar uma conta aberta pelos pais, o adolescente corre o risco de tornar-se um adulto falido. Ao lado do carro, da bicicleta motorizada e dos móveis, o celular é um dos principais fatores de endividamento da juventude.

É comum observar-se jovens alemães em conversas que parecem intermináveis com seus celulares nas ruas, nos parques ou nos transportes coletivos. Uma pesquisa da Central de Defesa do Consumidor do Estado de Baden-Württemberg revelou que os gastos mensais dos menores de idade com mensagens SMS ou telefonemas chegam a 72 milhões de euros no país. A facilidade de conseguir empréstimos junto a amigos ou familiares acaba despertando na criança a sensação de crédito ilimitado.

Jovens e falidos

Cerca de 10% dos jovens alemães têm uma dívida média de 1550 euros, seja junto a amigos, aos pais ou com o banco. "Lidar com dinheiro deveria fazer parte do aprendizado de uma criança. Já quando aprendem a contar, elas precisam aprender a controlar os gastos. Nada cai do céu" assinala Joachim Hoffmann-Göttig, vice-secretário da Cultura no Estado de Hessen.

A problemática tornou-se tão séria na Alemanha que as escolas reagiram, levando o assunto para a sala de aula, a título de prevenção. Um exemplo é Stuttgart. Sua prefeita acompanha de perto a questão, junto com conselheiros de finanças e pedagogos. "As dívidas na idade precoce podem ser a base para a falência do adulto", adverte Gabriele Müller-Trimbusch.

Em seu livro Jung, lässig und pleite (Jovem, desleixado e falido), Lucia Reich aborda o potencial de consumo das crianças e jovens alemães, cobertos de dinheiro e mimos pelos familiares, dignos representantes da sociedade do bem-estar. "Já uma menina de um ano e meio pressiona a compra dos acessórios que acompanham uma boneca".

Aos três anos, já distinguem logomarcas como a do McDonalds. Quanto mais velhos, mais definidos tornam-se os hábitos de consumo. Para 60% dos que têm entre 6 e 14 anos, a marca Milka, por exemplo, é a preferida entre os chocolates, assinala a autora.