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Brasil e o dólar

21 de abril de 2011

Importação de equipamentos pela indústria brasileira cresceu significativamente em relação ao mesmo período do ano passado. No entanto, setor ainda está preocupado com a perda da competitividade dos produtos nacionais.

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Máquinas para indústria estão chegando mais baratasFoto: picture-alliance/ dpa

Se por um lado a supervalorização do real frente a diversas moedas no mercado mundial, especialmente o dólar, vem incomodando o setor produtivo por dificultar a competitividade dos produtos nacionais em relação aos importados, por outro, analistas econômicos afirmam que isso traz oportunidades para modernização e ampliação do parque tecnológico brasileiro.

Máquinas importadas de países que trabalham com tecnologia de ponta – como Estados Unidos, Alemanha e França – estão chegando mais baratas para as indústrias do Brasil.

Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) divulgados no início desta semana, a importação de equipamentos mecânicos nas três primeiras semanas de abril cresceu 34,5% em relação ao mesmo período do ano passado. Em março, a entrada destes equipamentos aumentou 35,6% em relação ao mesmo mês do ano anterior. No caso de equipamentos elétricos e eletrônicos, o aumento foi de 37,9%.

Produtos mais baratos

Para Jankiel Santos, economista-chefe do banco de investimentos BES Investimento do Brasil, o real forte favorece a introdução de novas formas de produção, o que poderia inclusive contribuir para a queda de preços em alguns setores. "A indústria e o setor produtivo também se beneficiam com o câmbio mais fortalecido. Podem ampliar seu parque fabril, modernizá-lo, torná-lo mais produtivo e trazer insumos para sua produção de maneira mais eficiente. Isso gera produtos mais baratos", afirma.

Avaliação semelhante fez o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, durante encontro com investidores estrangeiros nos Estados Unidos na segunda-feira (18). Ele ressaltou que, ao atrair investimentos externos, o Brasil tem a chance de importar maquinários a preços mais em conta e de se modernizar.

Perda de competitividade

O setor produtivo admite que o período beneficia parte do empresariado que tem recursos para investir. "É natural que, com o real valorizado, os agentes econômicos reajam aos estímulos que isso induz. Quem pode comprar máquinas e equipamentos está comprando", confirma José Augusto Fernandes, diretor-executivo da Confederação Nacional das Indústrias (CNI).

No entanto, segundo ele, a aumento das importações de maquinários tem prejudicado empresas nacionais que produzem equipamentos. Muitas estariam deixando o país por não terem preços competitivos no mercado interno. "Temos registro de empresas que se transferiram para a China, Argentina, Uruguai, onde encontram ambiente econômico mais favorável", afirma Fernandes.

Além da supervalorização do real, a alta carga tributária e deficiências na infraestrutura são apontadas pelo setor produtivo como as principais barreiras para manterem as portas abertas no Brasil. O setor também ressalta que produtores de máquinas no exterior contam com importantes suportes financeiros em seus países. Sendo assim, mesmo com as taxas impostas pelo governo brasileiro, seus produtos chegam extremamente competitivos diante dos nacionais.

Frágil superávit

Symbolbild Euro Reals Währung EU Brasilien
Valorização do real afeta setor produtivoFoto: Fotomontage/AP/DW

O economista Rogério de Souza, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), avalia que a balança comercial brasileira já reflete alguns efeitos da perda de competitividade da indústria nacional. O superávit de 4,2 bilhões de dólares acumulado entre janeiro e a terceira semana de abril – 165% a mais do que o verificado no mesmo período do ano passado – deve-se, segundo o economista, principalmente ao aumento dos preços das commodities no mercado mundial, como minério de ferro, aço, algodão, milho e açúcar.

"Nossa balança comercial está tendendo para um lado bastante frágil. Qualquer suspiro de crise que acontecer pode dar problema, pois esses preços são muito voláteis", afirma Souza.

O economista destaca que a indústria de transformação vem perdendo espaço no país. Em 2005, a produção chegou a acumular saldos positivos de 30 bilhões de dólares. No entanto, com os altos juros dos últimos anos, desestimulando investimentos, e com a queda do dólar, os saldos começaram a cair. No ano passado, o saldo chegou a 35 bilhões de dólares negativos. Ele ressalta que o Brasil, atualmente, tem o décimo maior parque industrial do mundo, perdendo há dois anos uma posição para a Índia nesta escala.

"Todo mundo está saindo da crise um pouco mais lentamente do que o Brasil. A partir do momento em que todos pegarem um ritmo de crescimento maior, é de se esperar que o Brasil, de certa forma, comece a ficar para trás", observa Vander Lucas, professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB).

Segundo ele, este seria o grande momento de o governo estimular investimentos privados em grandes programas públicos de infraestrutura, especialmente para os grandes eventos mundiais sediados no Brasil, como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.

Supervalorização

Segundo levantamento da CNI, de 2003 até janeiro deste ano, o real teve uma valorização de 45% – a maior entre as principais moedas do mundo, como dólar, iene e euro.

Ao longo dos últimos meses, o governo brasileiro vem anunciando medidas para conter o avanço do real diante da moeda norte-americana. No intuito de conter a entrada de dólares no país, a equipe econômica elevou a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para pessoas físicas e jurídicas que contratarem empréstimos no exterior e também para compras no exterior com cartão de crédito. Segundo o governo, as regras já começaram a surtir efeito: no início do mês, a saída de dólares superou a entrada.

O Ministro da Fazenda, Guido Mantega, declarou no início desta semana que todas as medidas tomadas para frear a valorização do real levam tempo, especialmente porque neste momento o dólar está fraco.

A expectativa é de que a moeda norte-americana só volte a ganhar força no segundo semestre, quando a economia dos EUA apresentar importantes sinais positivos de sua recuperação, como redução do desemprego e aumento dos investimentos, disse Mantega.

Autora: Mariana Santos
Revisão: Carlos Albuquerque