Economia alemã quase não sofreu com a crise, mas há necessidade de mudanças
12 de setembro de 2013"A partir da perspectiva europeia, a Alemanha às vezes dá a impressão de 'Alice no País das Maravilhas'", afirmou o candidato social-democrata a chanceler federal Peer Steinbrück em um pronunciamento a representantes alemães do setor da indústria.
Ele salientou que "a principal razão" da trajetória bem-sucedida do país nos últimos anos reside na indústria alemã. "Por isso vocês poderão esperar de mim uma política que acentua o fortalecimento e a manutenção de uma cadeia industrial de valores", prometeu Steinbrück em plena campanha à eleição de 22 de setembro.
Empresas familiares de sucesso
De fato, a Alemanha tem o maior setor industrial na Europa. Um quarto do PIB alemão é gerado pela indústria. No Reino Unido, onde o setor financeiro foi intensamente ampliado, a indústria é responsável por um percentual de apenas 11% a 12% da produção nacional. Também na França houve um processo de "desindustrialização". A Itália, embora apresente dados melhores, não pode concorrer com a Alemanha no que diz respeito aos bons resultados econômicos.
Nenhuma outra nação industrializada do mundo possui uma rede de empresas de médio porte tão bem-sucedida nas mãos de famílias quanto a Alemanha. Uma empresa de médio porte é caracterizada como tal quanto não emprega mais de 500 funcionários e cujo faturamento não supera a marca dos 50 milhões de euros por ano. Um total de 80% das empresas alemãs pertencem a famílias.
Além disso, na Alemanha existe uma cadeia de produção que vai desde a indústria da matéria-prima até o acabamento final do produto. Aquilo que é produzido no país é geralmente requisitado no mundo todo, principalmente nos países emergentes em expansão, quer se trate de carros, máquinas ou produtos químicos.
Cerca de 75% das exportações alemãs vêm da indústria – um setor altamente inovador. Note-se, por exemplo, que 90% dos recursos destinados à pesquisa e desenvolvimento no país vêm da indústria. Outras nações industrializadas europeias destinam por volta de 70% à pesquisa.
Queda vertiginosa, ascensão rápida
Em consequência da crise financeira, a conjuntura alemã sofreu em 2009 uma redução de 5%, mas passados apenas dois anos os patamares anteriores à crise já eram novamente atingidos, com um crescimento econômico em 2010 girando em torno de 4,2%. Hoje, embora a conjuntura esteja longe de atingir tais níveis, a Alemanha, numa comparação europeia, ainda está bem com um crescimento econômico de 0,5%.
A coalizão entre social-democratas e verdes, que assumiu o governo alemão em 1998, impulsionou várias reformas no mercado de trabalho e no sistema de segurança social na chamada Agenda 2010. Esta grande reforma prosseguiu no governo seguinte, liderado por Angela Merkel, tendo ao seu lado o atual rival, Peer Steinbrück, como ministro das Finanças. As medidas tomadas ajudaram o país a enfrentar melhor a crise que se seguiria em 2009.
"Estamos hoje bem assim, porque realizamos reformas nos mercados de trabalho e nos sistemas de segurança social", diz Merkel. "Caso contrário, não estaríamos onde estamos", completa. O especialista em questões sociais Bert Rürup acrescenta: "Nosso país se reinventou economicamente nos últimos anos".
De olho no futuro
E quais os problemas agora? Em 2013, os temas são burocracia, falta de mão de obra especializada e os atos custos de energia e matéria-prima. Do ponto de vista dos políticos, os problemas são semelhantes: mudança energética, reviravolta demográfica, redução da dívida pública e regulação do setor financeiro são as palavras de ordem.
Para os eleitores, a justiça social é de grande importância. Muitos bilhões de euros do contribuinte foram gastos para salvar os bancos em tempos de crise e 80% das novas dívidas públicas fluíram para o saneamento do setor bancário. Trata-se de um dinheiro que o contribuinte perdeu, que não poderá mais ser investido em educação e infra-estrutura, por exemplo. E quem vive em espaços urbanos no país não precisa procurar muito até achar ruas estragadas e escolas em estados deploráveis.
Justiça social: tema de campanha eleitoral
Também no que diz respeito ao trabalho há muitas reclamações de falta de igualdade social: empregos temporários, contratos terceirizados, jornadas reduzidas e falta de respeito do empresariado aos pisos salariais negociados, fazendo com que o trabalhador seja cada vez mais mal pago.
Segundo uma pesquisa do Instituto de Pesquisa da Agência Nacional do Trabalho, 25% dos alemães podem ser categorizados hoje em dia como de baixa renda. Isso significa, no país, receber menos que 9,54 euros por hora. Ou seja, o setor de baixa renda na Alemanha se tornou maior do que em todos os outros países da UE.
Novo afã por reformas?
O empresariado ouve as advertências e reage, como salienta Ulrich Grillo, presidente do BDI, insistindo na impossibilidade de mais justiça social sem sucesso econômico. Para mudar a situação, acentua Grillo, é preciso fazer novas reformas.
Segundo ele, caso não haja novos investimentos nos setores de educação, infra-estrutura e ampliação das redes de energia, o crescimento econômico alemão irá se reduzir sensivelmente."