Economia do Irã enfrenta sérios problemas
22 de maio de 2013A inflação, a pobreza e o desemprego modificaram de forma crucial a vida de muitos iranianos. O país luta contra a inflação galopante e os preços dos produtos básicos sobem diariamente.
Mohammad, um jovem técnico em informática, conta um pouco dessa drástica mudança: "Minha família mal consegue manter o nível de vida. Não falo de artigos de luxo, e sim de coisas elementares, como leite para o café da manhã. Muitas famílias deixaram de comprar supérfluos e diminuíram o consumo de produtos alimentícios." Ele conta que até pouco tempo ainda saía com amigos para tomar um café, coisa que hoje já não faz. "Prefiro economizar o dinheiro".
No final de março passado, o governo iraniano reconheceu, oficialmente, uma taxa de inflação acima de 30%, o que representa um recorde na história do país. Ainda segundo as fontes oficiais, os preços de produtos básicos e alimentícios subiram mais de 60% em um ano. Especialistas acreditam que o aumento tenha sido, na realidade, ainda maior.
Desde a entrada em vigor do embargo da União Europeia (UE) e dos Estados Unidos contra o Irã, em meados de 2012, o rial, a moeda local, perdeu valor drasticamente. Atualmente, um dólar americano vale 35 mil riais. Há menos de nove meses, girava em torno de 20 mil riais. Os comerciantes em Teerã dizem que o poder de compra da população diminuiu bruscamente.
A crise monetária se reflete sobre o faturamento, conta o dono de uma loja de doces na capital iraniana: "Hoje em dia, cerca de 80% das frutas secas vêm do exterior, pois os nossos produtos se tornaram muito caros. Eu não acredito que neste ano nosso setor obterá lucro".
Falta de remédios
Apesar de os medicamentos estarem fora da lista de produtos embargados, os grandes laboratórios farmacêuticos evitam negócios com a república islâmica, pois as sanções internacionais dificultam as operações financeiras com o Banco Central do Irã. Já há uma escassez aguda de remédios como contra o câncer, esclerose múltipla ou diabetes.
Medicamentos genéricos feitos na China, Paquistão e Índia já tomam conta do mercado paralelo. Esse remédios são, contudo, inacessíveis para muitos iranianos, como diz uma funcionária de um hospital de Teerã, que preferiu se manter anônima: "Há casos de pacientes que sofreram ataques epilépticos por causa da má qualidade dos tranquilizantes, ou ainda casos de morte porque a penicilina aplicada era falsificada".
No final de 2012 a então ministra da Saúde, Mazieh Vahid Dastjerdi, foi demitida após criticar o governo iraniano pela incapacidade de prontificar os recursos necessários à importação de medicamentos.
Atrasos no salário e preços altos
Por causa da crise econômica, as fábricas não conseguem pagar os salários em dia, o que acaba ocasionando greves. A indústria automobilística se tornou alvo claro desta política de sanções, diz Jafar Azimzadeh, presidente do Sindicato Livre dos Trabalhadores no Irã. "O dinheiro que um funcionário de fábrica recebe só dá para pagar o aluguel de um apartamento de 50m² num bairro operário", explica ele à DW.
O subsídio oferecido pelo governo não passa de propaganda, segundo ele. "Recebemos cerca de 1,8 milhão de riais para uma família de quatro pessoas", o que corresponde a cerca de 40 euros. "Esse valor não é suficiente nem para a mesada de um jovem, quanto mais para um pai de família", lamenta Azimzadeh.
A crise já existia antes das sanções
Sem dúvida, os embargos contra o Irã acirraram a situação, mas especialistas salientam que a crise já era profunda mesmo antes das sanções.
"A inflação é resultado da má política econômica do governo Ahmadinejad", diz Shahin Fatemi, que conhece bem o Irã e é professor de Economia na Universidade de Paris. De acordo com sua visão, nem o atual governo e nem o próximo têm condições de libertar o país desta violenta crise.
O governo iraniano cortou as subvenções para energia e alimentos em 2011, acelerando, com isso, a inflação. Ao mesmo tempo, bilhões foram aplicados como subsídios ao custo de vida. Foi criada inclusive uma "bolsa cidadania" com o intuito de gerar uma maior igualdade entre as classes sociais. O Banco Central do Irã manteve artificialmente, durante anos, o curso do rial, às custas do faturamento com a exportação de petróleo. Os embargos foram o golpe derradeiro na economia do país.
Apenas os milionários e funcionários de alto escalão do governo do Irã conseguem escapar das consequências das sanções e da hiperinflação. Quem sofre é sempre o lado mais fraco, ou seja, as camadas mais baixas da população.
E isso no país que possui a terceira maior reserva de petróleo do mundo.