Eduardo Campos construiu carreira política no Nordeste
13 de agosto de 2014Eduardo Campos já nasceu no meio político. Neto de Miguel Arraes, governador de Pernambuco por três vezes, e filho da deputada Ana Arraes, foi da família que ele se cercou durante toda a sua carreira. Segundo seus aliados, ele tinha na esposa e mãe de seus cinco filhos, Renata, a conselheira mais influente. Ela e seu filho mais novo, Miguel, de apenas 8 meses, decidiram horas antes não embarcar no avião que caiu nesta quarta-feira (13/08) em Santos.
Formado em economia pela Universidade Federal de Pernambuco, o político de 49 anos começou sua militância como presidente do diretório acadêmico da faculdade, em 1985. Durante os estudos, negou um convite para fazer mestrado nos Estados Unidos e optou por seguir a tradição política familiar desde cedo. Tinha uma ligação cultural forte com o Nordeste e manifestava isso com orgulho.
Logo passou a ser chefe de gabinete do avô, então governador de Pernambuco e o qual conhecera apenas aos 14 anos – Miguel Arraes passou boa parte da ditadura no exílio. Filiou-se ao PSB – deixando o PMDB junto com o avô – em 1990 e exerceu mandato de deputado estadual e cargos na administração pernambucana.
Campos era filho do poeta Maximiano Campos (1941-1998) e dizia ter em Ariano Suassuna, morto em julho passado, um segundo pai. O político morou numa casa em frente à do escritor e contava que costumava seguir os seus conselhos. Em abril, o poeta chegou a dizer que Eduardo Campos era o político "mais brilhante" que conheceu.
"Ele é a grande esperança. Getúlio, Jânio, Juscelino e Lula. Para mim, foram os melhores presidentes que o Brasil já teve. Se Eduardo Campos fizer pelo Brasil metade do que ele fez em Pernambuco, vai ganhar de todos os quatro", afirmou Suassuna então, ao jornal O Globo.
Campos foi ainda três vezes deputado federal e depois ministro da Ciência e Tecnologia durante o primeiro governo Lula (2004-2005). Governava Pernambuco desde 2007, reeleito em 2011 com 82% dos votos. Um dos programas de sua gestão com maior expressão é o Pacto Pela Vida, programa de segurança pública que, segundo estatísticas oficiais, diminuiu os índices de violência no Estado.
Para preparar o caminho rumo ao Palácio do Planalto, anunciou a saída do PSB da base do governo em setembro do ano passado, o que foi visto pelo PT como ato de "ingratidão". Ele tinha o desafio de se tornar conhecido entre os eleitores dos estados mais ao sul e, para isso, via o "mau humor das ruas" como uma oportunidade.
Certa vez, quando tachado de "coronel" por uma reportagem da revista The Economist, se irritou. Disse que a alcunha só era dada a políticos do Nordeste. Durante a curta campanha, adotou um tom moderado: uniu posturas suficientemente à esquerda para dialogar com as camadas mais pobres, criticou ações da presidente Dilma Rousseff, mas, ao mesmo tempo, não prometeu grandes mudanças.
Para alguns analistas, ele parecia tentar agradar a todos. A aliança com Marina Silva foi recebida como uma boa jogada política. Os dois vendiam a parceria como um "encontro de sonhos e de propostas" para "combater e superar o atraso da política brasileira". Nas ruas, porém, a proposta não vinha surtindo efeito.
Na última pesquisa Datafolha, Campos apareceu com apenas 8% das intenções de voto, 28 pontos atrás de Dilma e 12 atrás de Aécio Neves, candidato do PSDB.