Posse de Dilma
2 de janeiro de 2011O jornal alemão Die Welt lembra que Dilma Rouseff terá muitas reformas "cabeludas" pela frente e observa que a nova presidente não teve que vencer somente um câncer para chegar ao cargo, mas também o machismo.
Entretanto, no artigo intitulado Após Lula vem Dilma – e depois Lula? o diário ressalta que justamente seu mentor, Lula, poderá ser um grande problema, por ter mantido em aberto a possibilidade de voltar à presidência em 2014. "Isso contribui para enfraquecer Dilma, fazendo dela uma simples seguradora de lugar", comenta o diário.
O Frankfurter Rundschau opina ser improvável que a nova presidente trilhe um caminho muito diferente do do seu antecessor "já que foi por muito tempo a mão direita de Lula". O veículo observa também que "a formação do seu gabinete dá impressão de que sua gestão seguirá o curso social-democrata de desenvolvimento e distribuição de renda de forma ainda mais resoluta".
"Ela lê Proust e ele, revistas de futebol"
A publicação destaca, ainda, as diferenças entre Dilma e Lula. "Enquanto ela lê Proust e Shakespeare, Lula aparenta não ir muito além de uma revista de futebol", acrescentando que a Dilma falta o carisma de seu mentor: "a dúvida é se sua sobriedade tecnocrata também poderá ser capaz de atravessar crises", acrescenta.
Para o Neue Osnabrücker Zeitung, o país herdado por Dilma Rousseff precisa de novos investimentos, sobretudo, em infraestrutura e na educação. E aponta para a possibilidade de Lula querer voltar daqui a quatro anos.
Para a rede pública ARD, um grande desafio para Dilma será "sair da gigantesca sombra de seu antecessor". O correspondente da TV estatal alemã no Rio de Janeiro destaca "pobreza, educação deficiente, violência e corrupção" como grandes problemas a serem enfrentados pelo novo governo.
O marxista Junge Welt comenta que, embora Dilma seja considerada "tecnocrata e de estilo seco, ela tem uma biografia política que "não fica nada atrás da de Lula".
Divergências com Lula
Veículos das imprensas francesa e austríaca acham que Dilma Rousseff poderá sair da sombra de Lula se defender pontos de vista diferentes dos de seu antecessor.
O parisiense Le Monde comenta que Dilma já mostrou divergir de Lula com relação à controversa aproximação realizada com o Irã, quando ela se disse preocupada com os direitos humanos, especialmente com o tratamento dado às mulheres no país asiático.
O jornal francês lembra que "mais de quatro em cada cinco brasileiros dizem que ela poderá governar bem ou até melhor que o presidente mais popular da história do Brasil".
O austríaco Die Presse afirma que Dilma Rousseff deve mostrar logo a que veio, para "moldar uma imagem de presidente forte". Segundo o diário, ela deve combater a corrupção na política, o clientelismo e a burocracia, além de integrar a sociedade civil mais fortemente nas decisões políticas.
Autor: Marcio Damasceno
Revisão: Roselaine Wandscheer