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Egito pós-Morsi impõe desafio aos liberais

Matthias Sailer (mas)12 de julho de 2013

Forças que impulsionaram o golpe conseguiram manter relativa unidade até o momento. Mas velhas diferenças entre liberais e partidários de Mubarak ameaça minar transição, que tem desafio ainda de não ignorar islamistas.

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Foto: Reuters

Desde que Mohamed Morsi foi derrubado, a oposição não islamista vem ganhando força no Egito. Com a formação de um governo de transição, conquistou a vice-presidência – ocupada agora pelo Nobel da Paz Mohamed ElBaradei – e vem participando ativamente nas negociações políticas com os militares. Seu maior desafio, no entanto, continua em suspenso: conseguir unidade entre as diversas forças que apoiaram o golpe de Estado.

A derrota no primeiro turno das eleições presidenciais de 2012 ainda está fresca na memória. Se a oposição tivesse se unido em torno de um nome, a Irmandade Muçulmana talvez nunca tivesse chegado ao poder. E após a queda de Morsi, dizem observadores, está cada vez mais difícil buscar a sonhada – e necessária – unidade.

Um dos maiores desafios dos não islamistas é cooperar com os ex-partidários do ditador Hosni Mubarak. Muitos dos que tomaram as ruas em 30 de junho são dessa vertente. Sem a ajuda deles, Morsi talvez não tivesse sido derrubado tão rapidamente. No entanto, muitos dos que participaram ativamente da revolta de 2011, especialmente os jovens revolucionários, ainda têm dificuldade de se associar a esses grupos.

Quando lutaram contra Mubarak, eles tiveram que resistir à violência e à brutalidade do aparato de segurança do regime ditatorial e, agora, consideram absurdo que militares, polícia e manifestantes estejam na Praça Tahrir.

"Não podemos nos livrar do ódio que existe entre os revolucionários e os representantes do antigo regime se não garantirmos uma justiça. O mais importante que aprendemos nos últimos dois anos é que não se pode começar um novo futuro, sem ter completado o passado", diz Ziad el-Alemi, cofundador do Partido Social Democrata e ex-membro do Parlamento.

Conflitos com novo presidente

Para Alemi, lidar com o passado é fundamental. Mas num curto prazo, isso também deve complicar a reconciliação entre partidários de Mubarak, do regime militar e da Irmandade muçulmana. Todos esses conflitos acabam se refletindo, novamente, nos partidos políticos não islamistas.

"Os mais importantes grupos que começaram os levantes em 30 de junho foram excluídos do processo de escolha do novo primeiro-ministro. Eles também não tiveram nenhuma oportunidade de incorporar seus ideais e direitos na nova Constituição", opina Ziad Abdel Tawab, diretor do Instituto de Estudos dos Direitos Humanos no Cairo.

Ägypten Unruhen Pro Mursi Proteste 9. Juli 2013
Os conflitos deixaram os partidos não islamistas em estado de alertaFoto: Reuters

Enquanto o aparato de segurança praticamente não se incomodou com a nova Carta, forças liberais se opuseram com veemência. Primeiramente, a Frente de Salvação Nacional (NRF), um partido não islamista, rejeitou completamente a declaração. No entanto, depois que o presidente Adly Mansour garantiu que mudaria o documento, voltaram atrás.

Ziad el-Alemi coloca esse como o primeiro conflito entre o presidente e os partidos: "O presidente tomou posse há apenas quatro dias, assim é muito cedo para julgar a cooperação dos partidos com ele. Ainda não podemos dizer se não vai haver cooperação ou se esse foi apenas um erro de principiante", diz.

A questão de até quanto se deve fazer para integrar os islamistas, recém-sacados do poder, também é importante. A declaração constitucional, que em tese deve guiar a transição egípcia, mostra claramente que seus autores tentaram olhar também para os salafistas.

A nomeação de Hezam Beblawi, renomado economista, como primeiro-ministro, pode ser interpretada como uma espécie de concessão de parte dos militares aos islamistas – ele é um candidato bem menos polarizador que ElBaradei. Todos esses conflitos deixaram os partidos não islamistas em estado de alerta permanente. Mantê-los sobre controle é uma tarefa homérica.