Egoexpress x Robocop Kraus: quem eles pensam que são
15 de agosto de 2005Agosto é mês de alto verão na Alemanha. Pelo menos, teoricamente, já que uma pá de nuvens indesejáveis continua cobrindo o sol e as temperaturas dificilmente passam de 20 graus, quando chegam a tanto. Mas nem todo mundo se deixa irritar pelo mau tempo. Para outros, o frio até vem a calhar.
Passando o verão de preto
Como, por exemplo, para os fãs de música gótica. Mais de 20 mil góticos se reuniram em Hildesheim para o festival M'era Luna, um dos maiores da Alemanha ao lado do Wave Gotik, de Leipzig. Mais de 40 bandas góticas tocaram ao longo de dois dias – de clássicos nacionais, como Deine Lakaien, a clássicos internacionais como os canadenses do Skinny Puppy e o ingleses do Sisters of Mercy.
O bom é que, no frio, o sabonete não derrete e as cabeleiras podem brilhar na multidão (tarefa da qual um gel comum não dá conta, isso é sabido desde os anos 80). Extravagância aqui é bem-vinda: muito couro, vinil e verniz, véus e sobretudos, botas e acessórios. Até vestido de noiva se viu: só que em preto. Louvável que uma cena consiga se manter década após década com tanto glamour…
Até o papa é pop
Dizer que a música pop há muito já se desvinculou de seu caráter revolucionário é bater numa velha tecla. Mas, agora que se começou a trocar as caixas de CDs pela anonimidade dos tocadores de MP3s, nota-se uma tendência de "canonizar, catalogar e levar para o museu", como criticou a Spiegel Online.
Uma exposição em Colônia, intitulada Got the look – Gráficos da Música Pop reúne (até 18 de setembro) 50 anos de capas de discos e cartazes de shows. São mais de 1200 objetos expostos em dois andares, de fotos de jazz e capas de discos da gravadora Blue Note até álbuns de hip hop atual, passando pela psicodelia e pelos Beatles.
"Olha a Beija-Flor aí, gente!"
Neste ano, o festival de world music Heimatklänge voltou os olhos ao futebol. Música, futebol e comida das grandes nações do futebol. Em 2005 é a vez da América Latina com o tema COPA AMERICANA. Em 2006, o AFRICA CUP homenageará o continente anfitrião da copa de 2010.
Foi assim que o "forrozeiro" pernambucano Silvério Pessoa e o sambista carioca Neguinho da Beija-Flor vieram parar na Alemanha. Além deles, vieram a cantora porto-riquenha que vive na Argentina Mimi Maura, o grupo de electro-tango Bajofondo Tango Club (Argentina/Uruguai) e os mexicanos do El Gran Siléncio.
Leia mais na próxima página sobre os novos álbuns do Egoexpress e do The Robocop Kraus.
Pela primeira vez em sua curta existência – afinal a DW Antena ainda está na quinta edição – esta coluna se viu indecisa. Que álbum comentar, a quem ceder o lugar de maior prestígio por pixel quadrado. A solução foi dividir o espaço: metade pro rock, metade pros eletrônicos!
Egoexpress: Hot Wire My Heart
Mais de cinco anos depois do último disco (Bieker, de 1999), o Egoexpress voltou com Hot Wire My Heart. Muitos já se perguntavam se o duo de Hamburgo, formado por Mense Reets e Jimi Siebels, ainda existia ou se os dois haviam desistido.
Mas desistir depois de alcançar seu (respeitável) lugar em uma cena eletrônica que é tudo menos pequena seria fácil demais. Afinal, para eles a coisa nunca foi tão fácil.
Ainda em 1996, quando começaram, os dois chegaram a tocar em um festival na cidade de Bielefeld, na Renânia do Norte-Vestfália, onde tiveram de encarar a inflexibilidade típica de fãs de rock (quem só ouvir rock e se incomodar com comentários deste tipo, vá direto à metade de baixo da coluna!).
"Hoje já nem dá mais para imaginar, mas naquela época ainda se brigava para defender a guitarra do sampler. Ainda existia a idéia de que se podia 'trair' o rock", dizem. Na verdade, o duo se vê como uma banda de rock que se deixou levar pelas batidas eletrônicas.
Embora o Egoexpress não se prenda a gêneros musicais. Mesmo que a faixa Knartz IV abra com a frase "Oh my god, it's techno music", fica a cargo de quem ouve decidir se o que eles fazem é house, techno ou o que alguns decidiram chamar de Intelligent Dance Music (IDM). Eles mesmo dizem que começaram a fazer música eletrônica sem saber o que era isso.
Quando saiu Foxy, o álbum de estréia, em 1996, o single Telefunken virou um hit de pistas. Mas o álbum mesmo, pouca gente escutou: para quem gosta de rock, ele era eletrônico demais. Para quem curte eletrônicos, aquilo era rock.
Em 1998, veio a virada: uma certa noite, o duo tocou no clássico clube berlinense WMF e, na platéia, estava o DJ Westbam. Pelo menos a partir desse momento, todo mundo ouvia Egoexpress.
Biker, de 1999, foi um disco cheio de hits, como Weiter e Music, No Music Music. Aí veio a grande pausa e a pergunta dos fãs: cadê? Taí: um novo álbum cheio de faixas legais, algumas pesadas, cheias de groove, e outras mais leves, atmosféricas. Não perca Pay the beat: só o texto já é delicioso: "cheap beats/ hot feet/ scratch the wax and freeze the hit, make a hit/ deep shit/ make it hot and deep-freeze it".
Eles pensam que são o Robocop Kraus!
Na verdade, este é o quarto álbum do The Robocop Kraus. E aqui não há dúvida de que se trata de uma banda de rock – carregado, pungente, dançante, bem-humorado e sem medo de experimentar. Bem no estilo das bandas do pós-punk new-wave retrô que dominou a Inglaterra. Como o Franz Ferdinand, que foi até convidado pelo príncipe William para tocar no aniversário da rainha.
O estilo está em alta e os cinco garotos de Nurembergue fizeram tudo direitinho, todos vestindo ternos de segunda-mão com os cabelos para o lado. O resultado está aí pra todo mundo ouvir no álbum They Think They Are The Robocop Kraus, com letras eloqüentes, ritmos dançantes e muita gritaria (prova de que gritar não é o mesmo que se esgoelar!), embora uma faixa se chame You Don't Have to Shout.
Você não vai conseguir ficar parado, ao menos até escutar In Fact You're Just Fiction. Não dá pra não cantar junto: "Watching the television you must have fallen asleep"…
A imprensa alemã fez elogios rasgados e muitos os elegeram uma das melhores bandas alemãs ao vivo. Tanto que eles viraram os queridinhos de quase todos os festivais de verão da Alemanha.
Hora mais, hora menos, você vai acabar ouvindo falar deles no Brasil, pois o álbum será distribuído no mercado internacional pela Epitaph Records. Mas a gente antecipa…
O vencedor do CD Eat Books, do Tiefschwarz, sorteado por esta coluna no mês passado, é Marcones Pereira de Macedo, de São Paulo–SP. Não se preocupe, Marcones, você será avisado por e-mail e receberá o CD no endereço fornecido.