Eleição no Afeganistão com participação feminina
17 de setembro de 2005Dos 294 assentos que compõem o parlamento afegão, 64 deverão ser ocupados por mulheres. Trezentas e trinta candidatas concorrem às eleições parlamentares. Uma delas é a afegã-alemã Zorah Chopan, que residiu durante 26 anos na Alemanha.
De um mês a anos
Com a queda dos talibãs há mais de quatro anos, Chopan resolveu passar um mês em seu país de origem, o qual não mais reconheceu. “Durante todo o mês, não consegui dormir. Tudo era estranho para mim em Cabul, as pessoas, a cultura, a cidade e sobretudo o papel da mulher.”
Chopan mudou-se para o quarto andar de um conjunto habitacional construído durante a ocupação soviética na capital Cabul. O projeto de um mês transformou-se em anos. De Cabul, Chopan viaja freqüentemente à província de Baghlan, pela qual concorre.
Campanha com ovelhas e vacas
Tendo iniciado em uma outra província um projeto de construção de escolas e de um orfanato, ela foi chamada por conhecidos de Baghlan, que lhe pediram um maior engajamento na região de origem de sua família. E daí nasceu a idéia de entrar na política.
“Precisamos de tudo, especialmente de escolas. Não temos clínica, hospital e água potável. Temos muitos problemas”, reclama Chopan. “Como candidata, eu tenho que dar comida a todos, ou comprar uma ovelha ou uma vaca. Para mim não é fácil, toda sexta-feira tenho que convidar de 500 a 1500 pessoas. Viajo a todas as cidades e províncias e tenho que falar com todos. Somente assim vou conseguir me eleger”, diz.
Difícildades enfrentadas pela mulher
Chopan comenta também que “em Baghlan, uma mulher não pode sair sozinha de casa, ela deve estar sempre acompanhada de homens”. A candidata admite sentir imensas saudades da Alemanha, onde deixou marido e filhos. Não somente a falta da família, mas também o fato de ser mulher dificulta a vida da respeitada médica e professora. Como mulher, ela é obrigada a ficar em casa nos finais de semana, e para os vizinhos continua sendo a estrangeira.
“Tenho que usar este véu na cabeça, para mim não é fácil, os cabelos todos devem estar escondidos em Baghlan. Se eu não usá-lo, as pessoas pensam que venho da Europa e que não sou muçulmana. Não é um véu pequeno, ele tem dois metros de comprimento”, conta Chopan.
Futuro político
Quanto ao futuro político, se for eleita para uma cadeira no Wolesi Jirga, ela acrescenta: “Não sei o que virá depois. Quero me tornar uma pessoa importante aqui, então poderei fazer muitas coisas, mas o que virá, ainda não sei. Ninguém me mandou vir para o Afeganistão, tudo que faço é de livre e espontânea vontade. E com muito interesse”.