Eleições no Irã sob o olhar europeu
17 de junho de 2005Para a política nuclear do Irã, é possível que não seja tão relevante qual será o próximo presidente. No jogo de xadrez da política local, acredita-se que ele mais sirva como uma peça que pode ser manipulada de um lado para o outro. Questões estratégicas neste âmbito são, via de regra, resolvidas por autoridades religiosas.
Questão de honra
Mesmo diante das pressões exercidas pelos EUA e pela UE, principalmente pela Alemanha, França e Reino Unido, Teerã insiste na perpetuação de seu programa nuclear. "Trata-se aqui de uma questão de honra nacional", observa Johannes Reissner, especialista alemão da Fundação de Ciência e Política.
A principal preocupação do governo iraniano, segundo Reissner, é não se deixar levar por aquilo que o Ocidente determina. "Acredito que no Irã ainda não haja uma decisão final sobre a construção da bomba atômica", conclui Reissner. Mesmo assim, as suposições dos EUA de que Teerã planeja se transformar em uma potência nuclear parecem infundadas ao analista alemão.
Problemas mais imediatos
Distante de todo o leque de preocupações de europeus e norte-americanos, o governo iraniano tem problemas bem mais imediatos a enfrentar, entre estes o desemprego e a inflação, em torno de 14,8% ao ano. Embora o índice de desemprego oficial fique por volta de 10%, boa parte dos jovens do país se consideram sem perspectivas. Outros problemas enfrentados pelo Irã são a corrupção e a economia informal.
A maior esperança da população em geral, no entanto, é a de que o novo presidente consiga melhorar a situação econômica do país. Apenas em segundo lugar vem o desejo de uma maior liberdade política.
Dos oito candidatos oficiais, estima-se que apenas quatro tenham chances reais de serem eleitos. O ex-presidente conservador Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, de 70 anos, é considerado o favorito no pleito. Ele ocupou o posto de presidente entre 1989 e 1997, tendo conduzido então as parcas reformas implementadas no país.
Grupos insatisfeitos
São exatamente os jovens que se sentem insatisfeitos com o governo do país. Uma enquete recente apontou que 44% destes gostariam de emigrar. E mais da metade da população do país não considera o governo legítimo. "Muitos grupos exigem mudanças essenciais. Mulheres – que levam desvantagens numa sociedade dominada pelos homens –, artistas e escritores. Todos os que são manipulados pela censura", afirma o jornalista Bahmann Nirumand.
Explosão de blogs
Nos últimos seis anos, foram proibidas no Irã nada menos que 100 publicações, entre estas 14 jornais diários. Certamente é por isso que os blogs se tornaram uma das formas preferidas de disseminação de informação no país. "Aconteceu uma verdadeira explosão da esfera blog", observa o semanário alemão Die Zeit.
Apenas em 2004, segundo o jornal, foram registrados 64 mil blogs persas. Um número admirável, considerando que em outros países do Oriente Médio o número de blogs se reduz a apenas algumas centenas.
Os bloggers não abordam única e exclusivamente temas ligados à política, injetando uma boa dose de cultura pop no conteúdo. No momento, no entanto, as eleições ocupam boa parte deles.
Análises sem ilusões
Um blogueiro iraniano em entrevista ao Die Zeit resume, sem muitas ilusões, o atual cenário político daqueles que se dizem defensores de reformas no país: "Eles continuam sendo fundamentalistas no que diz respeito à liberdade religiosa, ao homossexualismo, ao uso do lenço pelas mulheres e a Israel, mas por outro lado estão dispostos a atacar os tabus da República Islâmica. Eles querem reconhecer minorias e envolver as mulheres nos processos de decisão. Embora haja uma lacuna enorme entre palavras e atos, o fato de se falar sobre estes assuntos já é um fato sem precedentes no país".