"Elvis não morreu"
24 de novembro de 2004A canção alemã Muss i denn, muss i denn zum Städtele hinaus ressoa dos alto-falantes no hall de entrada, um telão exibe o filme Saudades de um Pracinha (G.I Blues). Ao lado, na parede, protegida por vidros resistentes, a transcrição fonética que Elvis Presley fez da canção popular antes de gravá-la. O cacho de cabelo que o barbeiro guardou na época em que o astro prestava serviço militar na Alemanha também está bem protegido. "Não queremos que as coisas acabem indo parar no site da e-bay", diz Jürgen Reiche, o organizador da exposição, rindo. A Casa da História em Bonn está preparada para receber uma multidão de visitantes.
Cegueira após os shows
A mostra é composta de mais de 300 objetos de coleções públicas e particulares, entre os quais roupas com que o cantor se apresentava nos palcos, cartazes e discos. Uma farda foi emprestada pelo fã ardoroso que a roubou do carro de Elvis, na década de 50. O saco de viagem que ele trazia consigo ao desembarcar em Bremerhaven, em 1958, igualmente exposto, faz parte do acervo do próprio museu. Da mesma forma os móveis e instrumentos originais da barbearia no quartel de Friedberg, onde Elvis mandou cortar sua basta cabeleira.
Completada por áudios e vídeos, a mostra informa também sobre lados menos glamourosos da vida do cantor. O visitante fica sabendo, por exemplo, que Elvis sofria de muitas doenças, como glaucoma e diabetes. Após cada apresentação no palco, ele perdia temporariamente a visão. Ainda assim, seu empresário, Tom Parker, insistia em agendar sempre novos shows.
O revolucionário
Elvis na Alemanha
é o nome da exposição, mas ela poderia se chamar Elvis não morreu, na opinião de Reiche. "A questão é que ele continua existindo em nossas mentes, é conhecido por diferentes gerações, deu origem a uma revolução sexual, musical e social."Nos anos 50, ainda reinava a segregação racial nos Estados Unidos, a sociedade se orientava por valores conservadores. Elvis chegou então, com suas calças justas, os movimentos lascivos e um estilo musical que unia os ritmos dos brancos e dos negros. Elvis ousou renovar, afirma Reiche: "Ele concedeu impulso e movimento à sociedade. Era embaixador de um estilo que se dirigia a pessoas dispostas a mudar as coisas".
Novo mundo
Elvis Presley personificou como ninguém o American dream, ascendendo de motorista de caminhão a superstar. Foi ele que uniu os estilos country e gospel com o rhythm 'n' blues, tornando acessíveis aos brancos ritmos até então cultivados apenas por negros. Com isso, o estilo musical do rock 'n' roll conquistou uma camada de bom poder aquisitivo, deixando ser underground para se tornar um fenômeno de massas. Para os adolescentes, o novo ritmo significava ao mesmo tempo um estilo de vida próprio, distante do conservadorismo da geração de seus pais.
A geração do pós-guerra na Alemanha sentiu-se especialmente atraída por Elvis, não apenas pelo fato de ele ter prestado seu serviço militar no país durante um ano e meio. "Ele abriu para eles uma janela para o mundo, serviu de orientação com sua música e todo o seu jeito. Afinal, muitos deles tinham crescido sem pai", esclarece Reiche.
A exposição pretende ser também uma viagem pelo tempo, já que a chegada de Elvis à Alemanha marcou o início de um processo que levou à adoção de um certo estilo americano de vida. Elvis na Alemanha está à mostra na Casa da História de Bonn até 27 de fevereiro de 2005.