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Em campanha, Sarkozy se apresenta como o interlocutor na Europa

12 de abril de 2012

Além de tentar associar sua imagem à Alemanha – o que, segundo especialistas, não deve trazer resultados – o presidente francês adotou um discurso de integração europeia que atende a interesses dos franceses.

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Foto: dapd

A corrida presidencial já havia começado quando, em uma entrevista do presidente da França, Nicolas Sarkozy, e da chanceler federal alemã, Angela Merkel, a um canal de televisão no início de fevereiro, a alemã declarou seu apoio à campanha presidencial do colega francês.

Com isso, Merkel pretendia aproximar Sarkozy do chamado "modelo alemão" e mostrar como se pode lidar com a crise a partir de consistentes reformas sociais, avalia Claire Demesmay, do Conselho Alemão de Relações Internacionais, em Berlim.

Ao mesmo tempo, Sarkozy queria aproveitar o fato de reformas sociais terem sido implementadas já no governo do social-democrata alemão Gerhard Schröder, para atacar seu principal adversário de esquerda, François Hollande.

"Sarkozy quer mostrar que no resto da Europa existe uma esquerda moderna e corajosa, que pode implementar tais reformas. E que, diferentemente disso, na França há apenas este ultrapassado socialismo com Hollande à frente", explica Demesmay.

Rejeição ao modelo alemão

Mas a estratégia de Sarkozy parece não dar certo. Ainda que os franceses reconheçam que o país vizinho vem enfrentando claramente melhor a crise da dívida graças às reformas sociais implementadas anos atrás, segundo Demesmey eles não querem se ver sob um modelo alemão. "Sobretudo eles não querem um modelo que venha de cima, ou de outro país. Eles querem sua soberania assegurada."

Também a especialista Etienne François, do Centro Francês da Universidade Livre de Berlim, não acredita que o apoio de Merkel tenha sido realmente uma ajuda. Segundo ela, isso inclusive poderá custar votos a Sarkozy. Na disputa eleitoral, como o presidente francês já reconheceu, questões de política interna contam mais. Quando Sarkozy ameaçou com a suspensão do acordo Schengen (que regulamenta a livre circulação de pessoas na União Europeia), a questão foi colocada de lado pelo eleitores céticos com o bloco.

Isso se refletiu rapidamente nas pesquisas de opinião. Um ponto de virada pode ser ainda os atentados de Toulouse, em que um jovem muçulmano radical matou sete pessoas.

As buscas pelo criminoso e os funerais das vítimas foram, por um lado, uma oportunidade para Sarkozy polir sua imagem de líder paternal e protetor. Por outro, trouxe à tona também seu tema preferido, a segurança interna, que acabou virando tema de campanha.

No primeiro dos dois turnos previstos nas eleições francesas, os dois candidatos com mais votos precisam primeiramente ir atrás dos apoios em suas respectivas alas, explica Stefan Seidendorf, do Instituto Franco-alemão em Ludwigsburg.

Pesca na esquerda

"Para conseguir votos suficientes, Sarkozy precisa pescar os votos dos mais à direita na Frente Nacional", confirma Claire Demesmay. Também estes prezam os temas soberania e autodeterminação da França, acredita a especialista. Na crise da dívida da Europa, ele se portou como um grande europeu, conquistando inclusive os mais céticos em relação à União Europeia. "Ele quer mostrar que é a favor da integração europeia, mas que ao mesmo tempo ela precisa servir aos interesses da França".

Demesmay explica que com esta estratégia ele pretende conquistar também os eleitores pró-bloco europeu do candidato mais ao centro, François Bayrou.

Seidendorf acredita que no segundo turno Sarkozy tente faturar votos contra Hollande usando sua responsabilidade de governo e sua experiência com política europeia e externa. E neste momento a associação com a imagem de Merkel poderia ser útil.

"Merkozy" e "Schmitterand"

A França já tem histórico de apoios externos em campanhas políticas. Até mesmo a brincadeira com a combinação de nomes – como "Merkozy" – não é algo novo. Quando o então presidente francês François Mitterand apoiou o chanceler federal alemão Helmut Schmidt em sua campanha pela Resolução Dupla da Otan, que intermediou negociações do Pacto de Varsóvia para limitar o número de mísseis de médio alcance dos EUA e da então União Soviética, a imprensa batizou a dupla como "Schmitterand".

E os líderes de governos europeus seguem a tendência. O primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, não recebeu François Hollande quando este visitou rapidamente a Polônia, ressalta Etienne François. E também os primeiros-ministros da Espanha, da Itália e do Reino Unido mantiveram-se distantes do rival de Sarkozy.

Igualmente fortes são os laços entre os social-democratas com relação aos políticos socialistas. Assim, o chefe do Partido Social-Democrata alemão, Sigmar Gabriel, assegurou apoio a Hollande na corrida presidencial. Como Gabriel é praticamente desconhecido na França, este apoio não deve valer muito.

As pesquisas apontam Hollande como vencedor da corrida presidencial. Sarkozy, no entanto, vem recuperando terreno na apertada disputa, mas os analistas acreditam que Hollande levará a melhor no dia 6 de maio, quando acontece o segundo turno.

Autora: Daphne Grathwohl (msb)
Revisão: Roselaine Wandscheer