Crise na Tunísia
15 de janeiro de 2011O Conselho Constitucional da Tunísia anunciou neste sábado (15/01) que o presidente do Parlamento, Fouad Mebazaa, deverá exercer a função de presidente interino do país e ser o encarregado de convocar as próximas eleições. Na última sexta-feira, o primeiro-ministro, Mohamed Ghannouchi, havia assumido a liderança do governo, depois da renúncia do presidente Zine El Abidine Ben Ali.
O Conselho anunciou ainda que, segundo a Constituição do país, as eleições presidenciais deverão ser realizadas no prazo de 60 dias. O Conselho Constitucional é o mais importante grêmio para questões constitucionais na Tunísia.
Após semanas de violentos protestos contra o governo, Zine El Abidine Ben Ali, presidente do país por mais de 23 anos e que acabava de renunciar, fugiu para a Arábia Saudita na sexta-feira. No mesmo dia, o primeiro-ministro Mohamed Ghannouchi anunciou que assumiria o cargo interinamente.
Espaço aéreo reaberto, mas insegurança continua
O espaço aéreo da Tunísia, fechado na sexta-feira, foi reaberto. A agência de notícias oficial do país noticiou que todos os aeroportos retomaram o funcionamento normal.
O Exército bloqueou neste sábado o acesso à Avenida Bourguiba, principal via de Túnis e palco de confrontos na sexta-feira. Centenas de soldados, tanques, jipes militares e blindados ocuparam os arredores, onde os rastros de violência de sexta-feira ainda são visíveis.
Saques continuaram a acontecer em diversas cidades e a estação ferroviária central da capital Túnis foi incendiada. Outro incêndio, ocorrido no sábado em uma penitenciária da cidade costeira de Monastir, deixou 42 mortos. A causa do fogo ainda não foi esclarecida.
Merkel pede reformas e oferece ajuda
A premiê alemã, Angela Merkel, apelou ao governo interino da Tunísia para que realize reformas e ofereceu ajuda tanto da Alemanha em especial quanto da União Europeia. "Aproveite essa profunda cisão na história do país para possibilitar um recomeço", conclamou Merkel. "Aproxime-se dos manifestantes e introduza uma democracia de fato", pediu a chefe de governo.
A Liga Árabe apelou no sábado a forças políticas tunisianas para que se unam e tragam de volta a paz ao país, afirmando que os últimos eventos são "históricos". A troca de poder na Tunísia é o primeiro caso na história recente em que o líder de um país do mundo árabe tenha sido afastado do cargo em função da pressão exercida por manifestantes em protestos de rua.
Acontecimentos repercutem no mundo árabe
A violência e a rápida evolução dos acontecimentos na Tunísia repercutiram em todo o mundo árabe, onde governantes autoritários estão profundamente enraizados, embora enfrentem crescente pressão por parte da população jovem, das dificuldades econômicas e da atração exercida sobre a população pelo islamismo militante.
As potências ocidentais há tempos faziam vista grossa para governantes na região que conseguiam sucesso na repressão a movimentos radicais islâmicos. Os Estados Unidos lideram apelos internacionais pela calma e para que a população da Tunísia venha a ter liberdade de escolha de seus dirigentes.
Operadoras resgatam turistas
As principais operadoras turísticas alemãs na Tunísia estão fazendo esforços para trazer de volta seus clientes. As empresas TUI e Thomas Cook pretendem tirar do país todos os turistas com ajuda de diversos aviões fretados especialmente para tal.
As primeiras 230 pessoas que regressaram através da Thomas Cook chegaram no final da tarde da sexta-feira em cidades da Alemanha e da Áustria. Outros 1800 clientes da operadora devem voltar para a Europa em oito voos especiais. A TUI, maior operadora alemã, pretende resgatar ainda no sábado seus cerca de mil clientes que ainda se encontram na Tunísia.
MD/rtrs/dpa/dapd
Revisão: Soraia Vilela