Em debate, Dilma entra em confronto direto com Marina e Aécio
29 de setembro de 2014A uma semana do primeiro turno, foi realizado neste domingo (28/09) o penúltimo debate entre presidenciéveis antes do pleito. A candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) entrou em confronto direto com seus principais adversários: Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB).
Na primeira oportunidade, Dilma acusou Marina de mudar de opinião constantemente e perguntou sobre o seu voto, como senadora, em relação à CPMF. Durante a campanha, Marina declarou diversas vezes ter votado a favor da criação do imposto quando era do PT, apesar da orientação contrária do partido. A situação era mencionada pela candidata como exemplo de que ela não faria "oposição pela oposição".
"A senhora mudou de partido quatro vezes, mudou de posição em problemas de extrema importância, como a homofobia, o pré-sal e a CLT [Consolidação das Leis do Trabalho]. Qual foi o seu voto como senadora em relação à CPMF?", perguntou Dilma.
A fala da presidente seguiu a estratégia do PT usada durante a campanha, de colar na ambientalista a imagem de inconsistente e pouco confiável. Marina lembrou que a votação do imposto passou por várias etapas e que, em determinado momento, ela votou pela criação da CPMF.
"Mudei de partido para não mudar de ideais e de princípios", respondeu. Dilma manteve o ataque, afirmando que a ambientalista havia votado contra a criação do imposto e que "atitudes como essa produzem insegurança".
"Eu não entendo como a senhora pode esquecer que votou quatro vezes contra a CPMF. Me estarrece que a senhora não se lembre disso", atacou a candidata à reeleição.
Marina assegurou ter sido coerente na votação e disse que o PT "deturpava" informações.
Bancos públicos
Em outra pergunta a Marina, Dilma insistiu na estratégia de desconstrução. "Não se pode mudar de posição de um dia para o outro", disse. E acusou Marina de querer enfraquecer os bancos públicos.
A pessebista classificou a afirmação como "boato" e prometeu manter o crédito para a agricultura e o programa Minha Casa, Minha Vida.
"Nós vamos fortalecer os bancos. A Caixa e o BNDES têm uma função importante, o que nós não vamos permitir é que os recursos sejam destinados a meia dúzia de empresários", respondeu. Marina também defendeu uma maior transparência no crédito.
Além de Dilma, outros candidatos criticaram Marina por suas supostas inconsistências. Em outro momento do debate, Luciana Genro (PSOL) declarou que a ambientalista "cede às pressões do agronegócio, banqueiros e reacionários do Congresso".
Etanol
Quando foi a vez de Marina perguntar a Dilma, a candidata criticou a política do governo em relação ao etanol, classificando-a como "fracasso".
"O setor de álcool e combustível tem pago um alto preço no seu governo. Setenta usinas foram fechadas, cerca de 40 estão em recuperação judicial, 60 mil empregos foram perdidos, o que aconteceu para que você mudasse o rumo da política, causando tanto prejuízo econômico e desemprego?"
A petista argumentou que, em seu governo, a política de etanol foi baseada em subsídios e na desoneração de impostos. "Nós criamos uma série de medidas para reforçar o setor", respondeu.
Corrupção e Petrobras
Durante todo o debate, os recentes escândalos de corrupção na Petrobras foram usados por diversos candidatos para atacar a atual presidente. Aécio foi o primeiro a abordar o tema, em pergunta ao candidato Pastor Everaldo (PSC).
"As nossas empresas públicas e instituições foram tomadas por um grupo político que as usa para se manter no poder", disse o tucano. Em outro momento, Aécio cobrou de Dilma mais indignação com o escândalo da Petrobras.
"Não há um sentimento de indignação, não vejo em momento algum a senhora dizendo 'não é possível que tenham feito isso nas minhas barbas sem eu saber o que estava acontecendo'", criticou.
Dilma também trouxe o assunto à tona, ao acusar Aécio de querer privatizar a Petrobras e de usar os escândalos de corrupção para enfraquecer a estatal.
O tucano negou a versão da petista: "Eu vou reestatizá-la [a Petrobras], vou tirá-la das mãos desse grupo político que tomou conta dessa empresa há doze anos", disse.
Aécio também mencionou o desvio de dinheiro da estatal, protagonizado pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa. "Apenas a denúncia do diretor nomeado pelo seu governo, apenas o que ele assume que foi desviado, permitiria que 450 mil crianças estivessem na creche, permitiria a criação de 50 mil casas do Minha Casa, Minha Vida", atacou.
Por ter sido mencionada por outros candidatos, que abordaram a corrupção na Petrobras, Dilma foi concedida direito de resposta. A atual presidente disse que ela foi a única candidata a apresentar propostas para o combate da corrupção, como a de tornar crime a prática de caixa dois.
"Quem demitiu o Paulo Roberto fui eu. E foi a Polícia Federal [PF], no meu governo, que investigou todos esses ilícitos", afirmou. Ela ressaltou ainda ter dado autonomia à PF para prender o ex-diretor.
Aécio rebateu que essa é uma prerrogativa constitucional. "Ela não tem que autorizar a PF a prender ninguém."
Política externa
A presidente também foi fortemente criticada por seu discurso na abertura da Assembleia-Geral da ONU. Pastor Everaldo, em pergunta a Aécio, destacou que Dilma defendeu "não combater os terroristas" do "Estado Islâmico".
Aécio também condenou as palavras de Dilma na ONU. "A presidente protagonizou um dos mais tristes episódios da política externa brasileira. Ela foi lá para fazer elogios ao seu governo, fez um discurso eleitoral. E para a perplexidade de todos, inclusive diplomatas, ela defendeu o diálogo com terroristas que estão decapitando pessoas."
O tucano ainda concordou com o Pastor Everaldo, que afirmou que os petistas “fazem terrorismo, ao difundir a ideia de que todos os candidatos pretendem acabar com o Bolsa Família. "O terrorismo também está aqui no Brasil, o PT diz que os adversários irão acabar com o Bolsa Família mas não vão. Ao PT interessa administrar a pobreza. Nós vamos superar a pobreza", disse Aécio.
O debate, organizado pela TV Record, reuniu sete presidenciáveis: Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PSB), Aécio Neves (PSDB), Pastor Everaldo (PSC), Luciana Genro (PSOL), Eduardo Jorge (PV) e Levy Fidelix (PRTB).