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Em depoimento a Moro, Lula nega ser dono de triplex

11 de maio de 2017

Diante do juiz federal, ex-presidente diz estar sendo perseguido e pede que acusação apresente provas. Após interrogatório, Lula afirma estar se preparando para ser candidato à presidência em 2018.

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Em Curitiba, Lula foi recebido por apoiadores
Em Curitiba, Lula foi recebido por apoiadoresFoto: Reuters/N. Doce

Depois de quase cinco horas, terminou nesta quarta-feira (10/05) o depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao juiz Sérgio Moro, em Curitiba. No interrogatório, o petista negou as acusações e alegou estar sendo perseguido.

Durante a oitiva, o ex-presidente respondeu a perguntas de Moro, da assistência de acusação, de procuradores do Ministério Público Federal e fez as alegações finais.

O depoimento é parte do processo em que Lula é réu na Lava Jato sob a acusação de, quando presidente, receber vantagens indevidas da empreiteira OAS. Ele seria o beneficiário de um apartamento no Guarujá e da reforma de um sítio em Atibaia.

O ex-presidente negou ser o dono dos imóveis e afirmou estar sendo julgado pelo que fez no governo. Lula pediu ainda que a acusação apresente documentos que provem que ele é dono dos imóveis. "Peço que tenham respeito comigo, se cometi um crime, provem que cometi e serei punido", destacou.

Lula confirmou ter estado no apartamento apenas uma vez para ver o imóvel. "O apartamento, nunca, nunca, nunca, foi me oferecido antes da data que eu fui lá ver. E quando eu fui ver eu não gostei. Foi isso", acrescentou. Em outro momento, o petista afirmou que nunca teve a intenção de adquirir o triplex.

Ao ser questionado sobre a visita da sua ex-esposa Marisa Letícia ao triplex em agosto de 2014, quando afirmou já ter desistido da compra, Lula disse que não tinha conhecimento disso. "Não sei se o senhor tem mulher, mas nem sempre ela pergunta para a gente o que vai fazer", acrescentou.

A ação

O interrogatório é o passo final antes da sentença de Lula em um processo que já dura oito meses. O ex-presidente é o último a prestar depoimento numa série de interrogatórios já realizados com acusados envolvidos nos processos referentes às reformas no triplex e em Atibaia. A oitiva aconteceu depois de Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, ter dito a Moro que o triplex pertence de fato a Lula.

Terminada esta fase, o Ministério Público Federal e as defesas podem agora pedir as últimas diligências. Depois disso, o juiz marca a apresentação das alegações finais, para então definir a sentença.

Essa foi a primeira vez que Lula ficou como réu frente a frente com Moro, símbolo da Lava Jato. O ex-presidente chegou a conversar diretamente com juiz em 30 de novembro, quando foi testemunha de defesa do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha. A videoconferência foi cordial.

O ex-presidente chegou ao prédio da Justiça Federal em Curitiba acompanhado de seu advogado Cristiano Zanin. Diversos apoiadores e políticos aliados acompanharam o petista até o local. A ex-presidente Dilma Rousseff também foi a Curitiba prestar apoio a Lula. 

"Estou me preparando para ser candidato"

Ao terminar o depoimento, o ex-presidente seguiu para uma praça no centro da capital paranaense, onde participou de um ato ao lado de Dilma, organizador por seus apoiadores. Dilma defendeu a candidatura de Lula para 2018.

Em discurso, Lula disse ser inocente e estar em busca da verdade. "Se um dia eu mentir para vocês, prefiro que um ônibus me atropele em qualquer rua deste país", afirmou ao público, que respondeu aos gritos de "Lula, eu te amo".

"Se fosse culpado não seria digno do carinho que vocês têm por mim", acrescentou. O ex-presidente disse ainda que está se preparando para ser candidato à presidência em 2018.

Durante todo o dia, manifestantes contra e a favor de Lula realizaram atos em pontos diferentes de Curitiba. De acordo com o governo estadual, cerca de 6 mil pessoas que apoiam o ex-presidente foram para a cidade para acompanhar o interrogatório.  Ao todo, foram 128 ônibus vindos de vários estados do país.

Grupos contrários também foram para a cidade, mas a Polícia Militar informou que não recebeu notificações de ônibus fretados.

Embate de longa data

Embora nunca tenham estado frente a frente, a relação entre Lula e Moro é marcada por troca de farpas.

Em março de 2016, Lula foi alvo de um mandato de condução coercitiva durante a 24ª fase da Lava Jato. Lula disse ter se sentido um prisioneiro e acusou a ordem de ser "prepotente, um espetáculo de pirotecnia". A queixa-crime contra Moro por abuso de autoridade foi negada pela Justiça.

O caso mais emblemático foi a divulgação de uma conversa telefônica entre a então presidente Dilma Rousseff e Lula, na qual ambos discutiam a posse de Lula como ministro da Casa Civil. A gravação foi publicada duas horas após o anúncio do Palácio do Planalto. Moro chegou a pedir desculpas ao STF. Advogados de Lula chegaram a pedir a prisão do juiz em novembro. Moro respondeu afirmando ser "lamentável que autoridades públicas, no exercício de seu dever legal, fiquem sujeitas a retaliações por parte de investigados".

Em dezembro, Moro teve um bate-boca com advogados de Lula. O advogado Juarez Cirino dos Santos chegou a afirmar que o juiz atua como "acusador principal", e o advogado José Sérgio Gabrielli acusou Moro de fazer "perguntas de um inquisidor, e não as de um juiz". Num outro depoimento, Moro afirmou que os advogados do ex-presidente faziam "propaganda política" do governo petista.

CN/abr/ots