Em rara cúpula breve, líderes da UE mantêm política para Rússia
19 de dezembro de 2014Os correspondentes de imprensa reunidos em Bruxelas se espantaram nesta quinta-feira (18/12): pela primeira vez na história da União Europeia (UE), uma conferência de cúpula foi abreviada – e em um dia. Normalmente, os chefes de Estado e governo dos 28 países-membros discutem copiosamente – hábito que muitas vezes levou à prorrogação das reuniões e a penosas sessões noturnas.
Desta vez, o novo presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, anunciou em seguida ao jantar, pouco depois das 23h: "Acabamos." O segundo dia da cúpula estava cancelado.
Foi a primeira vez que o político de 57 anos assumiu a coordenação de um evento do gênero. Na qualidade de primeiro-ministro da Polônia, ele já esteve em 47 dessas cúpulas, sendo considerado experiente e apto.
Tusk só colocou dois tópicos na pauta: a futura política da UE em relação à Rússia e o programa europeu de investimentos, visando o aquecimento da economia do bloco. Ambos os assuntos eram mais ou menos ponto pacífico. Tudo mais será discutido na próxima cúpula, em fevereiro.
Uma porta-voz da Comissão Europeia anunciou na rede social Twitter que as próximas conferências de cúpula só deverão durar mesmo um dia. Veteranos da diplomacia europeia duvidam, no entanto, que Tusk consiga manter esse formato de "cúpula light" na hora de tratar de temas realmente cabeludos, como o orçamento do bloco.
Nem relaxamento nem endurecimento
Na política para a Rússia, a UE continuará perseguindo uma estratégia dupla: as sanções econômicas serão mantidas, mas ao mesmo tempo procurar-se-á manter abertos todos os canais para a solução diplomática do conflito em torno do leste da Ucrânia e a anexação da península da Crimeia.
A grande maioria dos dirigentes europeus concorda que as sanções não devem ser relaxadas. Em contrapartida, eles são também quase unanimemente contra um endurecimento, como o que vem sendo preparado nos Estados Unidos.
Segundo fontes diplomáticas, contudo, a Itália e a República Tcheca pretendem pleitear um abrandamento das medidas, já que as restrições comerciais também afetam a conjuntura econômica em certas nações da UE.
A chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, advertiu em Bruxelas aqueles que observam com satisfação a queda da cotação do rublo. "As dificuldades financeiras da Rússia não são uma boa notícia" – certamente não para Moscou, mas tampouco para a Ucrânia, a Europa ou o resto do mundo, lembrou a democrata italiana.
Dinheiro para Kiev, só com reformas
Também a Ucrânia se encontra sob pressão devido à crise monetária no país vizinho e exigiu ajuda financeira imediata da UE, alegando encontrar-se à beira da falência estatal.
Nesse ponto, os chefes de Estado e governo europeus mostraram-se reticentes. A chanceler federal alemã, Angela Merkel, enfatizou que só haverá novas injeções de capital se Kiev implementar as reformas prometidas.
"Queremos ajudar a Ucrânia. No entanto, a pré-condição é ela realmente levar a cabo reformas econômicas e combater a corrupção, em grande escala e de forma enérgica." Neste inverno, a UE já está assumindo uma parte das contas de gás que o país tem a saldar com a companhia russa Gazprom.
Fundo de investimentos sob escrutínio dos países
A cúpula da UE em Bruxelas aprovou, em linhas gerais, o fundo de investimentos proposto pelo novo presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, como peça nuclear de sua política econômica. Mas diversos detalhes permanecem em aberto, como ressalvou a presidente da Lituânia, Dalia Grybauskaite.
Ainda cabe esclarecer se Juncker realmente pretende atrair investidores privados com um capital inicial próprio de 21 bilhões de euros e se conseguirá, assim, atingir o volume total ambicionado de 315 bilhões de euros. Além disso, falta definir que projetos serão subsidiados e sob que critérios.
Os Estados-membros já submeteram a Bruxelas uma longa lista de projetos de infraestrutura e pesquisa a serem financiados pela nova fonte de verbas. Eles vão de viadutos a creches, passando por uma usina nuclear no Reino Unido.
Mas, antes de garantirem sua própria parcela no capital inicial no fundo de incentivo à economia europeia, os chefes de governo da UE desejam mais clareza. No fim de janeiro, a Comissão Europeia proporá a estrutura legal concreta para o fundo, a ser então aprovada pelo Conselho e o Parlamento Europeu.