Emissões de metano aceleram aquecimento global mais que CO2
13 de dezembro de 2016Ambientalistas estão cada vez mais preocupados com a concentração de metano na atmosfera, que vem aumentando rapidamente desde 2007. O gás é muito mais potente do que o dióxido de carbono como agente responsável pelo efeito estufa: ele retém 28 vezes mais calor, assim acelerando as mudanças climáticas.
Uma equipe internacional de pesquisadores liderada por Marielle Saunois, da Universidade de Versailles Saint-Quentin-en-Yvelines adverte que estas altas emissões de metano podem comprometer todos os esforços para limitar o aquecimento global em 2ºC.
"Ao contrário do dióxido de carbono, a concentração atmosférica de metano vem aumentando com mais rapidez do que nas duas décadas anteriores." Em 2014 e 2015, o aumento das emissões chegou a ser 20 vezes maior que no início dos anos 2000. "É importante fazer alguma coisa", adverte Saunois, em entrevista à DW.
Saunois e sua equipe são autores do estudo Global methane budget, sobre a concentração global de metano, publicado nesta segunda-feira (12/12). Em editorial na revista científica Environmental Research Letters, eles insistem que é hora de levar a sério a concentração crescente do gás, e que modelos climáticos também devem levá-lo mais em consideração do que até agora.
Agricultura é principal suspeita
Uma questão interessante para os climatologistas e ambientalistas é de quem realmente é a culpa pelas altas emissões de metano dos últimos anos. Fontes naturais são, por exemplo, processos de putrefação em pântanos e outras áreas úmidas. No setor da pecuária, o metano é produzido no estômago das vacas. Ele também é liberado por plantações de arroz e aterros sanitários. Além disso, pode vazar de campos de petróleo e gás e de gasodutos.
Os cientistas não conseguem identificar a principal fonte das emissões com certeza absoluta, mas podem fazer estimativas. Através de análises de dados já registrados, Saunois e seus colegas consideram a agricultura a causa mais provável das altas emissões de metano nos últimos dois anos. A agropecuária tem crescido acentuadamente, assim como a produção de arroz em muitos países asiáticos.
Stephanie Töwe, ativista de agricultura sustentável do Greenpeace, diz não se surpreender com os resultados do estudo: "A agricultura desempenha um papel cada vez mais importante nas negociações climáticas, porque a pecuária é a maior fonte de metano." Não se trata apenas do maior número de animais, mas também das grandes quantidades de esterco armazenadas ou utilizadas incorretamente.
Os cientistas pesquisam atualmente se outras rações – com mais óleo de linhaça, por exemplo – podem reduzir a produção de metano pelo gado. Saunois apoia a ideia, mas Töwe não acha que ela resolva o problema. "Temos que simplesmente comer menos carne."
Vazamentos de gás
Saunois ressalta que "não só a agricultura, mas também o crescimento da extração de petróleo e gás aumentam as concentrações de metano na atmosfera", sugerindo que uma das primeiras medidas seja fechar os vazamentos em plataformas petrolíferas e gasodutos.
Ralf Sussman, pesquisador de atmosfera do Instituto de Tecnologia de Karlsruhe, concorda. Ele e seus colegas constataram no início deste ano que pelo menos 40% do aumento do metano entre 2007 e 2014 se deve à maior produção de petróleo e gás.
"Possivelmente mais até", pondera o especialista. "A maioria das perfurações é vedada, mas sempre há ovelhas negras aqui e ali." Por isso, ele propõe disposições legais garantindo que os escapes de metano não capturados, sejam pelo menos queimados, transformando-se em dióxido de carbono antes de chegar à atmosfera.
Metano no permafrost
As emissões de metano aumentaram especialmente nos países tropicais e na China, enquanto as regiões do Ártico não foram afetadas até agora, registra a equipe liderada por Marielle Saunois.
Essa é uma boa notícia, pois, como alertam os climatologistas, o derretimento do pergelissolo (ou permafrost) pode ser devastador. "Na Sibéria, por exemplo, há áreas pantanosas congeladas cheias de bolhas de metano", adverte Sussman. "Se a temperatura subir devido à mudança climática, esse metano pode ser liberado", o que também poderia contribuir significativamente para a mudança climática. "Ainda não há evidência de que isso aconteça, mas a ameaça existe."
Além disso, se o clima se tornar cada vez mais quente e úmido, é provável que haja mais processos de apodrecimento no mundo, aumentando a formação de metano. Por isso é importante agir o quanto antes, alertam os defensores do clima. "Devemos tomar várias medidas ao mesmo tempo", frisa Saunois.