Empatia demais pode fazer mal
24 de outubro de 2017Quando vemos imagens de vítimas de guerra ou de crianças famintas na TV, são os sentimentos de empatia e compaixão – ou a falta deles – que determinam se choramos ou sofremos, se queremos ajudar ou se desviamos o olhar.
Apesar da proximidade entre ambos os sentimentos, há diferenças entre eles. "A empatia e a compaixão são apoiadas por diferentes sistemas biológicos e estruturas cerebrais", explica Tania Singer, cientista do Instituto Max Planck de Ciência Cognitiva e Neurociência.
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A compaixão – sentimento de pesar, associado ao desejo de confortar o outro – gera um efeito positivo, nos fazendo reduzir o sofrimento alheio. "São ativadas áreas do cérebro associadas à recompensa e à filiação em certo grupo social que agem de forma positiva em nossa saúde", diz Singer, autora do e-livro Compassion – Bridging Practice and Science (Compaixão – Estabelecendo pontes entre a prática e a ciência, em tradução livre).
Já no caso da empatia – ou seja, a capacidade de compreensão emocional e de sentir o que o outro sente –, pesquisas mostram que é ativada a rede neural no cérebro que representa nossas próprias experiências dolorosas. O problema é que a fronteira entre a própria dor e o sofrimento alheio se desfaz rapidamente.
A aflição ao ver o sofrimento de outras pessoas pode, portanto, se tornar demasiada e transformar-se em "estresse empático". É aí que desligamos a TV para não ver mais as imagens ruins, por exemplo. "A empatia pode levar ao esgotamento", aponta Singer.
O estresse empático surge, principalmente, diante do sofrimento de grandes grupos de pessoas, afirma o psicólogo social Stefan Pfattheicher, pesquisador na Universidade de Ulm.
"Isso pode ser visto no comportamento dos doadores. É mais fácil obter doações quando se trata de uma única pessoa do que de um grupo grande", diz. Segundo o cientista, isso não tem a ver com frieza, mas com uma espécie de sobrecarga. O estresse empático dificulta a compaixão.
Pfattheicher se interessa pelo lado obscuro da empatia e da compaixão. "Se, por exemplo, alguém vê uma vítima de um ataque terrorista, percebendo bastante a sua dor e considerando-a injusta, então, é possível que ele desenvolva tendências hostis e agressivas para com aqueles que causaram esse sofrimento", explica os resultados de um de seus estudos.
A gentileza e a oxitocina
O hormônio oxitocina desempenha um papel decisivo na compaixão. A influência social positiva do hormônio foi demonstrada em experimentos com duas subespécies de ratos.
Enquanto membros da espécie Microtus ochrogaster possuem um cérebro equipado com muitos receptores de oxitocina e mantêm relações duradoras e monogâmicas, membros da espécie Alticola barakshin são considerados solitários que mudam constantemente de parceiros. Nesses últimos, os receptores de oxitocina são menos numerosos.
Pesquisadores verificaram que se interrompem a atividade de oxitocina dos amáveis Microtus ochrogaster, eles se tornam tão insensíveis quanto seus parentes da outra espécie.
Há muitas evidências de que a oxitocina possui, basicamente, um efeito semelhante no comportamento social de humanos. Sob a influência do hormônio, nota-se um aumento da generosidade.
Menos estresse
Engana-se quem pensa que a compaixão é somente um presente altruísta para as pessoas ao nosso redor. Aqui também vale a pena analisar um hormônio, o cortisol, emitido em situações estressantes. A compaixão e a subsequente emissão de oxitocina reduzem o cortisol e, assim, o estresse.
Ao mesmo tempo, o sofrimento de um ser humano pode gerar uma reação de estresse na qual o cortisol é secretado. O hormônio nos coloca, então, em ação e nos deixa prontos a ajudar. Portanto, um nível baixo de cortisol pode, assim como a falta de oxitocina, gerar frieza.
Num estudo em grande escala no Instituto Max Planck para Ciência Cognitiva e Neurociência em Leipzig, Singer examina os efeitos de diferentes técnicas meditativas sobre a capacidade de sentir mais compaixão.
"O treinamento mental direcionado pode resultar em mudanças estruturais no cérebro, até mesmo em pessoas adultas", diz a especialista. A empatia e a compaixão podem ser treinadas, aponta.
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