Empresa move processo bilionário contra advogado de Trump
25 de janeiro de 2021A Dominion Voting Systems, uma das maiores fabricantes de urnas eletrônicas nos Estados Unidos, anunciou nesta segunda-feira (25/01) um processo contra Rudolph Giuliani por difamação e exigiu uma indenização de 1,3 bilhão de dólares. Advogado de Donald Trump, Giuliani foi um dos principais atores da campanha de desinformação liderada pelo ex-presidente que espalhou boatos e mentiras sobre a integridade do pleito presidencial de novembro.
A ação contra o ex-prefeito de Nova York de 76 anos, apresentada ao tribunal federal de Washington DC, acusa Giuliani especificamente de espalhar falsamente que a Dominion conspirou para fraudar as eleições e conceder votos ao presidente Joe Biden.
"Ele e seus aliados fabricaram e disseminaram a 'Grande Mentira', que viralizou e induziu milhões de pessoas a acreditarem que a Dominion havia roubado seus votos e fraudado a eleição", diz um trecho da ação, que tem 107 páginas.
"Giuliani supostamente pediu 20.000 dólares por dia (da campanha de Trump) por essa 'Grande Mentira'. Ele também teria lucrado apresentando um podcast no qual espalhava mentiras sobre a eleição e vendia moedas de ouro, suplementos medicinais, charutos e proteção contra 'ladrões cibernéticos'", diz o texto.
Estratégia para agitar a base
A Dominion – que já havia apresentado um processo semelhante contra outro membro da equipe legal de Trump, a advogada Sidney Powell, exigindo 1,4 bilhão de dólares em indenização – lembrou ainda que, mesmo após a invasão do Capitólio por partidários de Trump "enganados por Giuliani e seus aliados", o ex-prefeito continuou repetindo as falsidades. Powell, a outra advogada processada, chegou a afirmar de maneira delirante que a Dominion agia sob ordens do regime chavista da Venezuela.
Giuliani, por sua vez, além de espalhar essa suposta conexão venezuelana, também alimentou boatos de que a empresa seria ligada ao bilionário George Soros, uma figura que costuma ser usada como bode expiatório em teorias da conspiração difundidas pela extrema direita.
Embora tenha espalhado mentiras sobre a empresa nas redes sociais e em entrevistas, Giuliani evitou mencionar a empresa no processo que apresentou à Justiça para tentar reverter o resultado das eleições, uma atitude que reforça que as acusações contra a Dominion eram apenas uma forma de manter a base de Trump agitada e semear caos no processo eleitoral.
Na ação, a Dominion insiste que "não foi fundada na Venezuela para favorecer Hugo Chávez nas eleições", nem tem laços com o filantropo George Soros. A empresa "foi fundada em 2002 no porão de John Poulos em Toronto para ajudar cegos a votarem em cédulas de papel", e tem sede em Denver, Colorado.
Como consequência das mentiras difundidas pelos apoiadores de Trump, o fundador da Dominion, John Poulos, e seus funcionários foram perseguidos e sofreram ameaças de morte nos últimos meses. A empresa também aponta que "sofreu danos sem precedentes e irreparáveis".
Conexão brasileira
A ofensiva contra a Dominion recebeu ajuda até de agitadores brasileiros de extrema direita. Em novembro, Trump chegou a retuitar uma entrevista do ativista bolsonarista Allan dos Santos ao canal de TV pró-Trump One America News Network.
Santos, um dos investigados pelo Supremo Tribunal Federal no inquérito das fake news e um costumaz propagador de boatos na internet, usou a entrevista para espalhar boatos sobre a Dominion. Na ocasião, Santos, num inglês precário, também insistiu em alimentar boataria sobre as supostas conexões entre a Dominion e a Venezuela.
No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro também é um adepto de teorias conspiratórias sobre a segurança das urnas eletrônicas. Ele já disse várias vezes, sem apresentar provas, que só não venceu as eleições de 2018 no primeiro turno por causa de uma suposta manipulação. Em março de 2020, ele chegou a afirmar que apresentaria provas para embasar a acusação, mas nunca o fez.
O líder brasileiro, que custou a reconhecer Biden como presidente eleito americano, também endossou as acusações infundadas de Trump sobre fraude eleitoral nos EUA.
jps/ek (AFP, ots)