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Enchentes causam prejuízos e transtornos à economia alemã

Neusa Soliz15 de agosto de 2002

Os agricultores alemães estimam em 2,5 bilhões de euros os prejuízos com a perda das colheitas. As inundações terão efeitos também sobre as companhias de seguro e outros ramos da economia.

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As águas inundaram muitas plantaçõesFoto: AP

Como se não bastassem a fraca conjuntura, o alto índice de desemprego, a queda do consumo e nas bolsas, as inundações trouxeram mais problemas e prejuízos para a Alemanha, que contudo não foi tão afetada quanto a Áustria e a República Tcheca. Com as plantações inundadas, os agricultores não podem colher o restante dos cereais.

Os danos causados pelas enchentes vão sobrecarregar as companhias de seguro e os cofres do Estado, além de pesarem no bolso dos agricultores, dos que perderam propriedades ou pertences e do consumidor em geral, se implicarem em aumento dos preços dos alimentos. As fortes chuvas no verão europeu também levaram por água abaixo as esperanças de melhores negócios da hotelaria, gastronomia e do comércio varejista, setores que estão em crise desde 11 de setembro e que costumam aumentar seu faturamento na época de férias.

No entanto, por mais dramática que seja a situação em algumas regiões localizadas - na Saxônia e provavelmente em outros estados do leste alemão, com a subida do nível do Rio Elba - as inundações terão um pequeno efeito de freio na conjuntura, mas não vão precipitar a economia alemã numa recessão, avaliam os analistas.

Cereais só servirão para ração

O presidente da Federação Alemã de Agricultores (DBV), Gerd Sonnleitner, calcula os prejuízos em 1,5 bilhão de euros, somente no que se refere às lavouras de cereais. A soma inclui a perda parcial das colheitas e custos adicionais para a secagem dos grãos que ainda puderem ser colhidos quando as águas baixarem. Os danos às plantações de frutas e verduras, bem como aos silos e demais construções no campo foram avaliados por Sonnleitner em mais um bilhão de euros.

As inundações atingiram as plantações de cereais quando ainda faltava colher 50% do trigo e 40% do centeio. Como a secagem de grãos diminuirá sua qualidade, eles só poderão ser usados no preparo de rações, o que significará uma queda de preços ao produtor dos cereais e uma redução da receita dos agricultores da ordem de 15% a 20%. Nas regiões mais afetadas a perda da colheita será de 30% a 100%.

Graças ao mercado comum europeu, a perda das colheitas na Alemanha poderá ser compensada pela boa produção de cereais na França ou por outros países. Sonnleitner, porém, considerou imprevisíveis, no momento, os efeitos da catástrofe sobre o preço de frutas e verduras, por terem sido atingidas regiões de produção no sul e leste da Europa.

Danos à infra-estrutura preocupam governo

O chanceler federal alemão, Gerhard Schröder, que visitou as regiões de enchentes, mostrando-se impressionado também com os prejuízos em termos de infra-estrutura, prometeu ajuda rápida e sem burocracia. O governo alemão aprovou um pacote de emergência na noite de quarta-feira (14/08), no valor de 300 milhões de euros.

O Banco de Créditos para Reconstrução, pertencente à União, vai oferecer créditos de 100 milhões de euros a juros baixos e o governo alemão colocará a mesma soma à disposição, para ajudar a aliviar os problemas mais urgentes. "É uma soma que será concedida rapidamente e sem burocracia, para ajudar aqueles que não podem voltar para casa, que perderam todos os seus pertences, precisam de alojamento e não dispõem de seguros ou outros meios", expôs Schröder.

As Forças Armadas Alemãs, o Serviço de Fronteiras e a Defesa Civil (THW) enviaram 3500 soldados e técnicos para ajudar na evacuação, reforço de diques e trabalhos de remoção. O Departamento Federal do Trabalho destinará 50 milhões de euros para o pagamento de 5 mil desempregados que ajudarão nesse trabalho.

Pequeno efeito sobre a taxa de inflação

A ministra da Agricultura, Renate Künast (Partido Verde), advertiu o comércio a não usar as inundações como pretexto para aumentar os preços dos alimentos.

Como vários países europeus foram afetados pelas enchentes, o analista Volker Nitsch, de Berlim, conta com aumento dos preços de verduras e frutas. No entanto, ele ressalva que o efeito desses aumentos sobre a taxa de inflação não será significativo, uma vez que os gêneros alimentícios representam apenas uma pequena porcentagem da cesta básica.

A taxa anual de inflação caíra para 0,8% em junho - seu nível mais baixo desde outubro de 1999. Em julho subiu para 1%, de acordo com cálculos parciais.

Reflexos para o comércio e turismo

Ao flagelarem o norte da Itália, a Áustria e o sul da Alemanha, as chuvas atingiram regiões de turismo. No entanto, os especialistas não esperam prejuízos maiores no ramo, pois já contavam com menor movimento em hotéis e restaurantes em 2002. Mas as chuvas acabaram com as esperanças de muitos hoteleiros alemães, de sair lucrando com a queda na demanda por viagens ao exterior após os atentados de 11 de setembro de 2001.

"O número de reservas de férias no sul da Alemanha diminuiu bastante nos últimos dias", admite Klaus Laippele, presidente da Federação de Agências e Promotores de Viagens. Os efeitos, contudo, serão de curto prazo, segundo ele. Por outro lado, as agências aproveitam o verão molhado para vender viagens a países quentes e ensolarados.

O comércio, especialmente as lojas de confecções, ressentem-se da mescla de conjuntura fraca com mau tempo, que inibe o consumo. "Não posso me lembrar de outra ocasião em que a situação estivesse tão ruim", diz Hubertus Pellengahr, da Associação do Comércio Varejista Alemão. "As notícias de crise econômica e catástrofes naturais levam as pessoas a evitarem compras".

Para o comércio de confecções a abstinência dos consumidores pesa mais, diante de uma crise que não vem de agora. O setor já havia registrado uma queda de 10% do faturamento no primeiro semestre.

Seguradoras e indústrias

As companhias de seguros não sairão incólumes das inundações. "Nas últimas semanas, foram comunicados às seguradoras 10 mil casos de danos somente na Baviera", diz o porta-voz da Allianz, a maior seguradora alemã. Em todo o primeiro semestre houve 30 mil casos. Em comparação a 2001, os casos de danos por catástrofes da natureza quadruplicaram. No entanto, a companhia espera prejuízos "dentro dos limites", pois nem todos os habitantes das regiões inundadas estavam segurados.

No leste e no sul da Alemanha, as inundações também causaram interrupção da produção em várias indústrias. Manfred Goedecke, da Câmara de Indústria e Comércio em Chemnitz, na Saxônia (leste), descreveu a situação como catastrófica. "Eu espero que as empresas não naufraguem e tenhamos uma onda de falências depois das chuvas", disse.

Além dos danos em prédios e instalações industriais, as empresas terão prejuízos com a paralisação da produção e atrasos no fornecimento. A situação se agrava com os estragos na infra-estrutura. "Não adianta muito querer voltar a produzir, se diante do portão das fábricas as ruas e pontes foram destruídas", acrescentou.

Na Saxônia, depois que a tradicional fábrica de porcelana Meissen suspendera a produção na terça-feira (13/08), aumenta a cada dia o número de indústrias que paralisam suas atividades. Em Bitterfeld, centro da indústria química no leste, foram reforçadas as medidas de segurança para evitar que substâncias químicas contaminem as águas.

A enchente do Rio Elba também causou transtornos na nova fábrica da Volkswagen em Dresden. A companhia ferroviária Deutsche Bahn também anunciou "prejuízos imensos" na Saxônia, onde muitas linhas estão inundadas. Os trens em direção ao leste transitam apenas até Leipzig, uma vez que Dresden está inundada.