Encontro de ministros do Exterior evidencia Europa dividida
5 de setembro de 2015Se alguém tinha a ilusão de uma aproximação entre países-membros da União Europeia (UE) no encontro dos ministros do Exterior do bloco, o ministro do Exterior da Hungria tratou de destruí-las logo em sua chegada a Luxemburgo. "A UE tem de parar de provocar expectativas não realistas e, assim, atrair mais e mais refugiados à Europa", disse o ministro Peter Szijjarto.
Esta é a linha do governo húngaro desde o controverso e criticado discurso do premiê húngaro, Viktor Orban, em Bruxelas: ele apontou o dedo para a Alemanha, alegando que Berlim possui uma parcela de culpa pelo grande fluxo de sírios, porque fez promessas generosas.
E no final da tarde, Orban e líderes políticos de República Tcheca, Eslováquia e Polônia reafirmaram manter a posição: uma quota fixa para a redistribuição dos refugiados está fora de questão. Em vez disso, há a ideia de criar uma espécie de corredor entre os países da Europa Oriental e Alemanha, através do qual os refugiados poderiam, então, passar sem serem registrados.
Sem consentimento da Alemanha
Em Luxemburgo, a decisão não recebeu os aplausos da Alemanha – há dias o governo alemão apela para que Hungria e os países vizinhos não deixem de cumprir suas obrigações europeias de receber e registrar migrantes. O ministro do Exterior da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, disse que o país está disposto a ajudar – Berlim, inclusive, já dobrou a ajuda financeira para a Grécia para questões migratórias.
A Comissão Europeia também promete mais dinheiro às pessoas afetadas, mas com o lema "quem aceita a ajuda, também deve assumir responsabilidades", argumentando ser inaceitável que os refugiados continuem simplesmente sendo empurrados para o norte.
A pressão do tempo aumenta
Dados os acontecimentos prévios na Grécia, Macedônia, Sérvia e especialmente na Hungria, onde milhares de pessoas desesperadas decidiram caminhar até a Áustria, a UE deve agir com rapidez. "Por que estamos tão lentos?", questionou o ministro do Exterior da Áustria, Sebastian Kurz, irritado.
"A Áustria já recebeu dez vezes mais pedidos de asilo do que Grécia e Itália juntos", reclamou. Ele pleiteia uma distribuição equitativa do contingente de migrantes na UE.
Algo aparentemente ainda distante de acontecer. Porque o cronograma já é pouco ambicioso: no encontro entre ministros do Interior do bloco europeu, em meados de setembro, haverá, no máximo, primeiros passos para um entendimento. Segundo o ministro do Exterior de Luxemburgo, Jean Asselborn, talvez em outubro, as primeiras soluções possam ser definidas.
Atualmente, ele é o presidente do Conselho Europeu, onde os governos dos Estados-membros devem tomar as decisões. Sua tarefa é levar as negociações adiante. Asselborn espera que agora "a ficha tenha caído" nos países-membros, e que estes participem de uma solução conjunta para a crise migratória. Mas outra função acoplada ao cargo de presidente do Conselho Europeu é manter o otimismo.
Steinmeier, por outro lado, deseja uma ação mais rápida, mas não ostenta a esperança de uma completa nova política da UE para asilo e refugiados. Os sinais indicam que os europeus vão fornecer soluções parciais e somente em pequenos passos, talvez progressos numa redistribuição única de 100 mil a 150 mil refugiados.
A frustração é grande
Mas, por enquanto, não há um consenso para um mecanismo permanente para lidar com a crise. A Comissão Europeia já apresentou todos os tipos de ideias: países podem, por exemplo, se livrar temporariamente da obrigação de receber e registrar migrantes em troca de taxas. Falou-se até em sanções econômicas. Mas há resistência de um grupo de países na Europa Oriental, que se mantém firme em sua posição.
Mesmo para o político profissional Asselborn – há mais de uma década ele é ministro das Relações Exteriores de Luxemburgo –, a frustração sobre o estado atual e a desunião na UE são claras. "Esta crise ainda vai ocupar a Europa por uma década e ela é muito mais grave do que os problemas da dívida da Grécia", afirmou.
E sobre as chocantes fotos que mostram o pequeno Aylan Kurdi, um menino de três anos da cidade síria de Kobane e que morreu afogado na travessia do Mar Egeu, Asselborn foi direto: "Eu acho que também emoções precisam colocar políticos em movimento".
De negação total a concessões parciais
Foi o que aconteceu com o primeiro-ministro britânico, David Cameron, que antes mantinha a posição totalmente contrária a uma política de refugiados comum da UE. Agora, motivado a praticar um gesto humanitário, ele prometeu receber milhares de refugiados da Síria. No entanto, o secretário do Exterior britânico nem participou das conversações em Luxemburgo – um sinal de que o Reino Unido pretende continuar a não trabalhar numa solução efetiva.
Enquanto isso, porém, cresce a impaciência em alguns países: Áustria e Eslováquia pedem por uma cúpula extraordinária da UE o mais rápido possível. Mesmo que a solidariedade na UE não tenha exatamente aflorado, e a Europa continue dividida, há esperança de que em alguma reunião noturna em Bruxelas, milagrosamente, os chefes de governo consigam chegar a um entendimento.