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Entenda o conflito em Ghouta Oriental

1 de março de 2018

Região agrícola nos subúrbios de Damasco é o último grande bastião dos rebeldes sírios. Ela foi alvo de um ataque de gás sarin em 2013 e está sitiada há quase cinco anos pelo regime de Assad.

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Uma rua da cidade de Duma, a maior de Ghuta Oriental, em 25 de fevereiro de 2018Foto: Reuters/B. Khabieh

Nas palavras do secretário-geral das Nações Unidas, Ghouta Oriental é o inferno na terra. Esta região agrícola e fornecedora de alimentos no subúrbio de Damasco é o último grande bastião dos rebeldes sírios e, desde 17 de fevereiro, alvo de uma ofensiva das forças pró-regime sírio, que tentam reconquistá-la. Elas cercam toda a região de Ghouta Oriental, fazendo com que, na prática, ela seja um enclave rebelde.

Antes da guerra, a região de Ghouta abrigava em torno de 2 milhões de pessoas. Hoje permanecem por lá cerca de 400 mil, a metade delas crianças, segundo estimativas. Elas estão sitiadas pelo governo sírio desde 2013. Ghouta Oriental foi uma das primeiras áreas a se rebelar contra o presidente Bashar al-Assad, já em 2011.

Ghouta Oriental também foi alvo de um ataque com gás sarin em 2013, que matou quase 1.500 pessoas e que é atribuído às forças que apoiam o regime de Assad. A reação internacional ao ataque forçou o regime a concordar com a eliminação de seu arsenal de armas químicas, ainda que haja indícios de que nem todas tenham sido destruídas.

Há várias cidades e vilarejos na região de Ghouta Oriental, cuja maior cidade é Douma, no norte do enclave. É nela que estão baseados os três principais grupos rebeldes na região, que lutam contra o governo de Assad e, em parte, também entre si.

O maior deles é o Jaysh al-Islam, ou Exército do Islã. Ele defende um governo baseado na sharia e teria recebido recursos da Arábia Saudita. Os outros dois grupos são o Faylaq al-Rahman, que é tido como moderado e ligado ao Exército Livre da Síria, e o Ahrar al-Sham, um grupo salafista e jihadista. Ambos são apoiados pela Turquia. Eles controlam territórios mais próximos de Damasco, que atacam com mísseis, matando também civis.

Cessar-fogo fracassado

Os três grupos se mostraram dispostos a respeitar o – nesse meio tempo – fracassado cessar-fogo pedido pelas Nações Unidas e a expulsar de Ghouta Oriental os combatentes da antiga Frente al-Nusra, que hoje atende pelo nome de Hayat Tahrir al-Sham e é ligada à rede terrorista Al Qaeda.

O anúncio foi uma referência à concessão feita à Rússia, de que o cessar-fogo não valeria para grupos terroristas, como a Frente al-Nusra. A Rússia e o governo de Assad, porém, classificam todos os principais grupos atuantes em Ghouta Oriental de terroristas.

O anúncio de um cessar-fogo unilateral pela Rússia em Ghouta Oriental, logo após o – ou até mesmo concomitantemente ao – fracasso da resolução do Conselho de Segurança pedindo uma trégua de 30 dias nos combates evidenciou tanto a primazia de Moscou como a impotência das Nações Unidas e do Ocidente nas questões relacionadas à Síria.

No sábado, o Conselho de Segurança aprovou por unanimidade a resolução pedindo o cessar-fogo na Síria. Sucessivamente retardada pela Rússia, a resolução só saiu depois de diversas concessões feitas para impedir o veto de Moscou, que é membro permanente do órgão mais poderoso da ONU.

Diplomatas ocidentais viram no atraso causado pela Rússia uma manobra para dar tempo ao regime de Assad, que tenta recuperar Ghouta Oriental das mãos dos rebeldes.

Nesta segunda-feira, depois de os combates continuarem em Ghouta Oriental, a Rússia praticamente transformou o documento da ONU em letra morta ao anunciar o seu próprio cessar-fogo, em seus próprios termos: cinco horas por dia de trégua para retirada de civis, começando nesta terça-feira.

Segundo Moscou, a população será informada com panfletos jogados de avião, mensagens de texto e vídeos e ônibus e ambulâncias estarão esperando num local pré-determinado para a retirada de doentes e feridos. Mas também o cessar-fogo da Rússia não conseguiu conter a violência.

A coluna Zeitgeist oferece informações de fundo com o objetivo de contextualizar temas da atualidade, permitindo ao leitor uma compreensão mais aprofundada das notícias que recebe no dia a dia.