Entre a política e a Justiça
Dois iemenitas haviam sido detidos num hotel de Frankfurt no dia 10 de janeiro último, após caírem numa cilada armada pela CIA, serviço secreto norte-mericano. Trazidos do Iêmen com o argumento de negociarem na Europa uma alta doação para entidades caritativas, Mohamed Ali Hasan al-Moayad, de 55 anos, e seu secretário Mohamed Mohsen Yahya Zayed, de 30, passaram os últimos seis meses presos na ala de segurança máxima de um presídio em Frankfurt.
O partido iemenita de oposição El Islá encarregou um escritório de advocacia alemão da defesa dos dois suspeitos. A Justiça dos Estados Unidos pediu a extradição de al-Moayad, sob a acusação de apoiar as instituições terroristas Al Qaeda e Hamas com dinheiro, armas e recrutas.
O xeque, que teria se encontrado diversas vezes com Osama Bin Laden, pode ser condenado a 60 anos de prisão nos EUA por participação em uma organização terrorista. As autoridades alemãs, entretanto, alegam não ter recebido dos Estados Unidos provas concretas disso. No Iêmen, o xeque é imã da principal mesquita da capital e figura benquista por suas atividades benemerentes.
A prisão aconteceu em plena fase de estremecimento nas relações teuto-americanas, antes da guerra no Iraque. Mesmo assim, a prisão rendeu ao ministro alemão do Interior, Otto Schily, um louvor especial do secretário norte-americano da Justiça, John Ashcroft.
Caso ganhou dimensões políticas
O Tribunal de Apelação do Estado de Hessen concluiu que as circunstâncias da prisão foram corretas e que não há impedimentos para a extradição dos dois suspeitos, mas na condição de que fiquem presos nos Estados Unidos e não sejam condenados à morte.
O Iêmen também já havia solicitado a repatriação dos dois suspeitos e anunciou a visita de uma missão de Sanaa a Berlim para esta quinta-feira (24/07). No mesmo dia, o Tribunal Constitucional Federal anunciou ter recebido a queixa para averiguação de constitucionalidade da forma como foi feita a prisão, apresentada pelo advogado do xeque.
Está nas mãos do governo alemão, mais especialmente a ministra da Justiça, Brigitte Zypries, assinar o termo de extradição de ambos para os Estados Unidos. Berlim anunciou que vai esperar a sentença dos juízes de Karlsruhe, embora juridicamente ela não tenha efeito sobre a decisão da extradição.