Entre euforia e frustração: os alemães e 'seu' papa
9 de setembro de 2006Um céu de azul intenso brilhava sobre a ensolarada Munique na chegada do papa Bento 16, na tarde deste sábado (09/09), para uma visita de seis dias. Recebido no aeroporto pelo presidente da Alemanha, Horst Köhler, pela chanceler federal, Angela Merkel, e pelo governador da Baviera, Edmund Stoiber, Bento 16 ressaltou a motivação pessoal de sua viagem.
"É com o coração emocionado que piso, pela primeira vez desde que assumi a cátedra de São Pedro, o solo da Baviera."
Mais de um ano e meio se passou desde a eleição do cardeal Joseph Ratzinger para Sumo Pontífice da Igreja Católica, em abril de 2005, um acontecimento que levou o popular Bild a estampar em letras garrafais a manchete: "Nós somos papa". E a Jornada Mundial da Juventude, encontro de Bento 16 com jovens de todos so continentes em Colônia que adquiriu o caráter quase de um festival pop, também já se passou há mais de um ano.
A relação dos alemães para com 'seu' papa tem sido surpreendentemente menos tensa do que a que muitos católicos tinham antes em relação ao cardeal em sua função de prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé.
A chegada do sumo Pontífice atraiu dezenas de milhares para as ruas do centro da capital da Baviera. Mas há sinais de que o orgulho e a euforia iniciais deram lugar a uma normalização da relação.
Mesmo confirmando a alegria dos católicos da Alemanha com o fato de um alemão ter se tornado papa, o secretário-geral do Comitê Central dos Católicos Alemães, Stefan Vesper, relativiza: "A nacionalidade do papa tem importância para os cristãos católicos nos respectivos países, mas a personalidade do papa é mais importante ainda".
Ecumenismo, esperança difícil de se concretizar
Um avanço na aproximação entre cristãos católicos e luteranos é um desejo de muitos na Alemanha, expresso também pelo presidente Köhler na chegada de Bento 16 a Munique neste sábado (09/09). "Há muito mais coisas nos unindo do que nos separando", declarou Köhler, que é luterano como também a chanceler federal Merkel.
Nikolaus Schneider, da Igreja Luterana da Renânia, vê até certo ponto a chance de um entendimento mais fácil, por se tratar de um papa que vem do mesmo meio cultural e lingüístico. A proximidade se manifesta no diálogo dos alemães com este papa, diz ele. Mas o fato de Bento 16 defender ferrenhamente a autoridade da doutrina e do direito da Igreja Católica Romana lhe dá pouca esperança de um avanço na questão ecumênica.
Frustração também entre católicos
Os itens que preocupam as organizações católicas na Alemanha são outros. Um exemplo: ainda em junho último, a Conferência dos Bispos Alemães proibiu – certamente atendendo ao Vaticano – que leigos atuantes em organizações da Igreja se engajassem na Donum Vitae, uma iniciativa para o aconselhamento de mulheres grávidas em situação de conflito, ou seja, desejosas de abortar. O impulso para a criação dessa iniciativa partira justamente do ZdK.
Além disso, o atual prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal William Joseph Levada, instou a Conferência dos Bispos Alemães a rechaçar uma resolução em que o ZdK exigia maior direito de decisão e participação para os leigos católicos.
Em ambos os acasos, a reação do ZdK foi moderada. Talvez pelo fato de o papa ser alemão? Em todo o caso, Stefan Vesper defende que a crítica objetiva aos mandatários da Igreja não seria sinal de falta de lealdade. E o secretário-geral do ZdK alimenta ainda a esperança de que "também na Igreja Católica, tenha validade o princípio de aquele que tem um cargo importante e é prudente estará aberto a palavras francas de seus – digamos – subalternos".