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Moradores de Lviv se mobilizam para proteger a cidade

Stephanie Burnett
5 de março de 2022

Relativamente poupada se comparada a Kiev ou Kharkiv, cidade vive temor de ataques enquanto prepara barricadas para se proteger de um avanço russo e acolhe refugiados em fuga para a Polônia.

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Ukraine-Krieg | Lwiw Ausbildung
Foto: Felipe Dana/AP/picture alliance

Igor* é um especialista em TI, professor universitário, ex-paramédico e pastor. Mas, em meio à guerra na Ucrânia, ele foi confrontado com um novo papel, como tantos outros cidadãos em seu país: um civil se preparando para ataques da Rússia. 

Quando a DW falou pela primeira vez com Igor por telefone, três dias após o primeiro ataque à Ucrânia, ele disse que estava a 10 quilômetros da fronteira polonesa, deixando sua filha em um local seguro. Mas o homem de 52 anos logo retornou à cidade ucraniana de Lviv para ver como poderia contribuir com a resistência às tropas russas, alimentado tanto pela raiva quanto pela "determinação", apesar do poderio militar de Moscou.

"Vale a pena lutar? Absolutamente. E não estamos lutando apenas pela terra ou algo assim", disse ele. "Estamos lutando por coisas maiores, estamos lutando pela liberdade. Estamos lutando pela possibilidade de fazer o que achamos que deveríamos fazer com nossos aliados, com nosso país. É por isso que lutamos".

Lviv, a poucos quilômetros da fronteira com a Polônia, foi relativamente poupada dos ataques, se comparada a Kharkiv, Kiev e outras cidades. Muitos fugindo da ofensiva russa convergiram para o centro cultural em busca de segurança, enquanto outros descansam um pouco antes de seguir para o oeste, em direção à Polônia, em busca de refúgio.

Mas muitos dos moradores da cidade, como Igor, estão preocupados que a Rússia ainda possa atacar a cidade - e se recusam a ser complacentes.

Foto à noite mostra dois homens embrulhando uma escultura grande em frente a um prédio
Moradores de Lviv protegem esculturas da catedral da cidade, temendo ataquesFoto: Bernat Armangue/AP/picture alliance

Rússia "pensou que seria fácil"

A postura desafiadora do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, e a resistência de outros ucranianos comuns revigoraram a população, inclusive em Lviv. Tantos fizeram fila para se voluntariar para as Forças de Defesa Territoriais, ou reserva militar, que a unidade teve que recusar várias pessoas.

A DW confirmou que o processo de recrutamento foi interrompido por vários dias, mas que uma nova unidade foi formada para continuar os esforços da reserva militar.

Igor, que serviu brevemente nas forças armadas antes da dissolução da União Soviética, disse que os soldados russos não estavam preparados para o tamanho da oposição ucraniana. 

"Eles pensaram que seria fácil - como tomar a Crimeia. Eles pensaram que iriam dar um passeio na Ucrânia e tomar um café no centro de Kiev", disse ele. "Eles foram espancados e acho que é um choque para eles", completou.

"Estamos gratos pela ajuda que recebemos porque, sério, sem as armas letais que recebemos do Ocidente, não sei se prevaleceríamos."

Morador testa um coquetel molotov, lançando-o
Moradores da cidade fabricam coquetéis molotov em massa para se protegerFoto: Oleh Ibrahimov

Alojamento para refugiados e coquetéis molotov

Andrew*, um homem de 31 anos que também vive em Lviv, foi inicialmente recusado pelas Forças de Defesa Territoriais devido à numerosa lista de voluntários, disse ele à DW por telefone. O consultor de design digital havia acabado de reunir uma equipe para sua startup, mas seu projeto foi interrompido quando a Rússia atacou a Ucrânia em 24 de fevereiro.

Ele disse que, agora, se reúne com membros da comunidade para fazer em massa os chamados coquetéis molotov e construir barricadas que podem ser usadas ​​para ajudar a fortificar a cidade.

O morador de Lviv disse que também está hospedando entes queridos de estranhos e amigos que estão fugindo para a Polônia. Um amigo, Yaroslav, em meio ao avanço das tropas russas sobre a capital ucraniana, enviou sua namorada de Kiev para Lviv, uma escala antes que ela pudesse continuar sua jornada em direção à Polônia.

"Ele a tratou muito bem, deu comida e roupas, para que ela tenha tudo", disse Yaroslav em uma mensagem de voz. "Ela se sente mais segura, mas não o suficiente". A namorada de Yaroslav já chegou à Polônia. 

Andrew disse que ele e outros moradores continuam a encontrar maneiras de apoiar a defesa de Lviv e ajudar a levar refugiados em segurança a países vizinhos.

"Há guerra, mas não a sentimos aqui como todo mundo, porque aqui estamos seguros, por enquanto".

Homens cozinham em uma imensa caldeira.
Voluntários preparam comida para desalojados do lado de fora da estação de trensFoto: Bernat Armangue/AP/picture alliance

Apelos ao Ocidente

Seis dias após a primeira conversa com Igor, a incerteza e o medo aumentaram – mas a determinação da cidade, disse ele, não vacilou.

Ele insistiu novamente, como na semana anterior, que é fundamental que os países ocidentais tomem mais medidas em apoio à Ucrânia.

"Esta é uma grande tragédia para a humanidade, e o mundo não conseguiu impedi-la. Estamos determinados, mas precisamos desesperadamente fechar nossos céus sobre as grandes cidades", disse ele, ecoando o apelo de Zelesnki à Otan por uma zona de exclusão aérea. Alguns especialistas, no entanto, alertaram contra isso.

Egon Ramms, general alemão aposentado e ex-comandante da Otan, disse à DW que a implementação de uma zona de exclusão aérea pela aliança sobre o território ucraniano seria considerada "participação na guerra e isso levaria, possivelmente, a um confronto direto com a Rússia".

Na sexta-feira, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse que os membros da aliança concordaram que não deveria haver aviões da Otan no espaço aéreo ucraniano ou tropas da Otan em solo ucraniano, rejeitando assim o pedido de Kiev por uma zona de exclusão aérea.

Mas Igor está cansado de palavras e disse que a Ucrânia precisa de mais apoio militar.

"É muito triste, mas temos uma piada: que a Europa e a América em breve ficarão sem prédios para iluminar com luzes amarelas e azuis, as cores da nossa bandeira. É realmente só isso que você pode fazer? É tudo?", questiona.

"Ajude-nos. Não apenas com coisas simbólicas. Ajude-nos de verdade", apelou.

*Nota do editor: a DW não publicou os sobrenomes de Igor e Andrew devido a preocupações com sua segurança