Entre sucessos e fracassos, Hirschbiegel ganha espaço no cinema mundial
11 de janeiro de 2014Os protagonistas dos filmes do diretor Oliver Hischbiegel não poderiam ser mais distintos: Adolf Hitler, a princesa Diana, extraterrestres, a organização paramilitar norte-irlandesa IRA. Igualmente difícil é definir esse alemão, que vem conquistando terreno na cena cinematográfica internacional: um cineasta de assinatura artística definida ou apenas um profissional com bom talento artesanal?
Nascido em Hamburgo em 1957, sua biografia é tudo menos linear. Após cursar Pintura e Artes Gráficas na Escola Superior de Artes de Hamburgo, ele se formou em Cinema na mesma instituição. Depois disso, atuou como artista performático e criou uma revista de vídeo, antes de se tornar diretor executivo de uma série de TV.
Naquela época, ninguém poderia imaginar que a indústria cinematográfica ainda veria Oliver Hischbiegel desfilando sobre os tapetes vermelhos dos cinemas de Londres, como aconteceu em setembro do ano passado, ao apresentar a cinebiografia de um ícone britânico: a princesa Diana.
Reconhecimento com O experimento
Durante anos, Hirschbiegel ganhou o sustento com filmes policiais para a televisão alemã. Somente em 2001 fez sua estreia no cinema com O experimento, tornando-se então conhecido do público mais amplo.
O roteiro era baseado numa experiência realizada pela universidade norte-americana de Stanford, no início dos anos 1970: o "Experimento da Prisão de Stanford" analisava o comportamento humano numa situação de aprisionamento sob condições aparentemente reais.
O filme foi celebrado como obra ambiciosa e de acentuado primor estético. E Hirschbiegel foi, então, apontado como alguém que, mantendo-se à margem do cinema alemão de cunho existencial, conseguia levar às telas encenações de ritmo rápido e com sucesso de público.
Depois de uma obra de menos alcance e discreta (Meu último filme, com Hannelore Elsner no papel principal), a hora e a vez de Oliver Hirschbiegel chegou quando o poderosíssimo produtor alemão Bernd Eichinger o chamou para assumir o drama A queda, sobre os últimos dias de Hitler e seu círculo de assessores mais próximos, antecipando a derrocada do Terceiro Reich.
O longa foi sucesso espetacular de público. No papel de Adolf Hitler, Bruno Ganz se tornou um dos principais produtos culturais de exportação da Alemanha. A queda foi visto por milhões em todo o mundo, e Hirschbiegel quase arrebatou um Oscar de melhor filme estrangeiro.
Críticas e portas abertas
Mesmo considerando que a maioria dos críticos não tenha visto A queda com bons olhos, e que muitos especialistas tenham apontado o longa como um filme do produtor Bernd Eichinger e não do diretor, depois disso as portas da indústria cinematográfica se abriram para Hirschbiegel. Tudo indicava que ele conseguiria fincar pé em Hollywood.
Mas o cineasta se manteve fiel à sua trajetória: depois da produção milionária de Eichinger sobre o período nazista, dirigiu novamente um filme de baixo orçamento: numa espécie de contraponto ao épico sobre Hitler, Um judeu muito convencional conta a história de um homem convocado a proferir palestras sobre sua condição de judeu vivendo na Alemanha do pós-guerra.
Foi aí que Hollywood lhe bateu de novo à porta, e Hirschbiegel embarcou num desastre: Invasão, de 2007, com Nicole Kidman no elenco, foi um verdadeiro fiasco tanto de público quanto de crítica. Na fase final de produção, o diretor acabou até sendo substituído.
Dois anos mais tarde ele teria mais sorte, porém: a produção anglo-irlandesa Cinco minutos de paraíso conta um episódio do conflito na Irlanda do Norte do ano de 1975. O filme político empolgante e linear foi premiado no Festival de Cinema de Sundance, nos EUA. Em 2011, Hirschbiegel acabou retornando à televisão com a série histórica Borgia, de elenco internacional.
Sérias críticas a Diana
Diana, sexto filme de Hirschbiegel para o cinema, estreou em setembro de 2013 em Londres. Protagonizado por Naomi Watts, ele retrata os dois últimos anos da princesa morta em agosto de 1997 num acidente de carro, e sua relação amorosa com o cirurgião cardíaco paquistanês Hasnat Khan.
A mídia britânica reagiu consternada: o jornal The Times o rotulou de "constrangedor, horrível, importuno", enquanto outro periódico chegou a afirmar que a "Lady Di" teria morrido uma segunda vez com esse filme.
Antes da estreia, perguntou-se a Hirschbiegel, que atualmente mantém uma casa em Londres, por que ele se debruçara sobre um tema tão genuinamente britânico. "Na condição de alemão, não sou realmente parte do que acontece neste país. Tive a impressão de poder fazer um filme tão autêntico, honesto e verdadeiro quanto possível, sem ter que ter medo", foi sua resposta.
Na Inglaterra, Diana não foi apreciado nem pela crítica nem pelo público. O mesmo aconteceu nos EUA e no Canadá, onde estreou em novembro último. Resta saber como vai ser a recepção no resto do mundo, em regiões que mantêm uma relação menos carregada com o "ícone Diana". Uma coisa, porém, parece certa: a "montanha-russa" da carreira do diretor Oliver Hirschbiegel, entre grandes produções e filmes de menor formato, entre o cinema e a televisão, vai continuar.