Era industrial é documentada pela arte
6 de agosto de 2002Através de 250 pinturas, desenhos e fotografias, os curadores Sabine Beneke e Hans Ottomeyer contam a história da industrialização na Europa de meados do século 18 ao final do século 20. O percurso que levou os países industrializados à era da alta tecnologia é traçado, terminando com imagens recentes do início do período pós-industrial.
Divida em vinte capítulos, a mostra retoma exemplos de produções artesanais e termina com fotografias relacionadas aos grandes saltos tecnológicos do último século. Pinturas do século 19 documentam as mudanças ocorridas na natureza depois da invenção da máquina a vapor, que impulsionou a Revolução Industrial na Inglaterra. Nos trabalhos expostos, a curadoria procurou destacar as modificações pelas quais passou o olhar do homem, cada vez mais influenciado pela técnica.
Novas Linguagens -
A mostra traça um paralelo entre duas linhas de reflexão: uma que trata dos aspectos técnico-econômicos e outra da evolução estética trazida pela Revolução Industrial. O objetivo aqui é mostrar quando e como o interesse de reproduzir, através da arte, novos fenômenos técnicos, acabou levando à criação de novas linguagens.A invenção de máquinas e ferramentas era vista sob uma ótica religiosa na Idade Média, como expõe a curadora Beneke. Ao usar suas máquinas, o homo faber se tornava o criador de condições paradisíacas, pois suas invenções contribuíam para melhorar as condições de vida. A pintura da época recorria a alegorias: representações de ferreiros como o deus Vulcano, por exemplo. Com a disseminação do racionalismo no século 17, perde-se essa interpretação religiosa e a burguesia recém surgida passa a exercer um papel importante na distribuição de incumbências aos artistas da época.
No início do século 20, a arte passa a espelhar o fascínio exercido pela velocidade. Movimentos como o Futurismo, a Nova Objetividade (Neue Sachlichkeit) e o Construtivismo contribuem para o surgimento de linguagens abstratas. Os anos 20 trazem discussões envolvendo a "metafísica da máquina" e, a partir de meados do século, a fotografia assume grande importância no panorama das artes plásticas, passando a exercer um papel fundamental na crítica à sociedade industrial.
Crítica -
Se parte do material exposto trata das esperanças que o progresso industrial trouxe à população ("a beleza da metrópole"), outras obras refletem as graves conseqüências da industrialização para o homem e o meio ambiente, como a produção de lixo, a "estética das ruínas". Questões sociais passam a ser refletidas pela arte, como a qualidade de vida do trabalhador – quase sempre exausto. O sonho de uma sociedade mais justa passa a fazer parte do repertório do artista.Leste & Oeste -
As últimas estações da mostra são dedicadas ao panorama das artes plásticas após a Segunda Guerra Mundial, acentuando assim as diferenças entre as produções nas ex-Alemanhas Ocidental e Oriental. Enquanto no oeste a pintura caminhava em direção ao abstrato, a arte sob o comunismo ainda manteve-se atrelada a incumbências de cunho político.A partir de 1970, no entanto, os portraits de trabalhadores alemães orientais, que tinham por objetivo glorificar os "heróis da classe operária", foram aos poucos sendo substituídos por visões mais individuais e independentes. Já a partir da década de 70, artistas da Alemanha Ocidental passaram a registrar a destruição da paisagem causada pelo processo de industrialização. A mostra termina com imagens de uma era pós-industrial, em que ruínas de fábricas antigas passam a funcionar como centros culturais ou atrações históricas.
A exposição "A Segunda Criação – Imagens do Mundo Industrializado" pode ser vista no Museu Martin-Gropius-Bau de Berlim até o próximo 31 de outubro.