"Erdogan quer estabelecer uma Turquia na Alemanha"
19 de julho de 2017O deputado Cem Özdemir, um dos dois políticos que encabeça a chapa do Partido Verde nas eleições para chanceler federal na Alemanha, criticou duramente as políticas do governo turco. Em entrevista exclusiva à DW, ele afirmou que o presidente Recep Tayyip Erdogan jamais seria eleito em eleições justas e que ele atua para segregar os turcos na Alemanha.
Filho de imigrantes turcos, Özdemir também criticou a atual chanceler federal, a democrata-cristã Angela Merkel, acusada por ele de ser muito "suave" com as maquinações de Erdogan sobre a população turca que vive na Alemanha.
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Nos últimos anos, as relações entre Turquia e Alemanha vem se deteriorando por causa das tendências autoritárias de Erdogan. Mais recentemente, Berlim convocou o embaixador turco para demonstrar "indignação" com a detenção de ativistas de direitos humanos por Ancara. No grupo está um cidadão alemão.
Segundo Özdemir, o governo turco coloca em prática medidas para evitar a assimilação dos turcos na Alemanha, como a perseguição a elementos de conselhos das mesquitas financiadas pelo Estado turco em solo alemão. De acordo com o deputado, "Erdogan quer estabelecer uma Turquia também na Alemanha".
"Nesse momento em que falamos, conselhos de mesquitas estão sendo substituídos um atrás do outro: quem é a favor da integração é retirado, assim como as pessoas que falam bem alemão, que se relacionam bem com padres e pastores cristãos, com rabinos judeus, com seus vizinhos alemães, são destituídas e substituídas por pessoas que recebem ordens de Ancara. Isso não é tolerável. É preciso aqui mandar uma mensagem clara. A senhora Merkel, me parece, está sendo demasiadamente suave nesse ponto", disse.
"No futuro não deve haver dinheiro turco para mesquitas aqui (...). Qualquer tentativa de construir um 'Estado paralelo' aqui deve ser combatida”, disse. "Nesse sentido, penso que a Alemanha está sendo um pouco ingênua."
Ainda segundo Özdemir, essa não é apenas uma estratégia turca. "Também há outros países que desejam conscientemente que seus cidadãos não se integrem. Isso não vale apenas para a Turquia, mas também para o senhor (Vladimir) Putin, que naturalmente também tem interesse que os russos alemães apontem suas antenas para Moscou", disse.
Para Özdemir, "Erdogan não ganharia nenhuma eleição justa, ele só perderia". Ainda sobre a Turquia, ele disse que o melhor é deixar as negociações para a adesão do país à União Europeia em espera.
"Deixaria as negociações para a adesão onde elas estão: bem no fundo da geladeira, em repouso. E se a Turquia reintroduzir a pena da morte, elas vão chegar ao fim, estariam canceladas por completo. E a Turquia teria então que deixar o Conselho da Europa".
Por fim, Özdemir disse que "Erdogan não está agindo em conformidade com a Otan", a aliança militar da qual a Turquia também faz parte. "Erdogan se comporta como um valentão de bar. Um valentão que quer brigar com todo mundo. A Otan tem regras", disse.
Visão global
Özdemir também expressou seu ponto de vista sobre a questão climática e as ações de Merkel na área. "Quando Merkel ocupa as manchetes, ela é uma líder de estatura mundial. É claro que em um momento em que existe um Donald Trump e o voto sobre o Brexit ela vai aparecer como uma figura carismática. Mas quando se raspa a superfície, algo fica claro: a Alemanha não é campeã mundial da proteção climática", disse.
Sobre a crise política e econômica que aflige a Venezuela, Özdemir disse que o presidente Nicolás Maduro está "cometendo as piores violações de direitos humanos" e que "o povo é que está pagando por isso".
Ele também pediu que sejam impostas sanções mais pesadas contra a Rússia por causa do papel de Moscou na crise da Ucrânia. "Estamos presenciando uma escalada na região oriental da Ucrânia. Por isso não vejo nenhum motivo para levantar as sanções. Ao contrário, penso que as sanções deveriam ser mais severas".
Özdemir, de 51 anos, foi eleito deputado pela primeira vez em 1994. Junto com Simone Peter, ele é um dos líderes da Aliança 90 / Os Verdes, ou Partido Verde. Uma das características organizacionais do partido é ter uma dupla presidência: o poder e a imagem inerentes ao cargo são divididos entre dois membros. Atualmente com 63 deputados no Bundestag, os verdes devem conquistar de 7% a 8% dos votos nas eleições de setembro, segundo as últimas pesquisas.
JPS/et