Escândalo do alumínio reacende debate sobre especulação com matérias-primas
11 de outubro de 2013Em meados deste ano, o jornal The New York Times noticiou que o banco de investimentos Goldman Sachs administra nos arredores de Detroit por volta de 27 armazéns, onde guarda cerca de 1,5 milhão de toneladas de alumínio.
"Claro que existem regras da Bolsa de Metais de Londres (LME), destinadas a evitar o acúmulo de metais", ironizou o humorista americano John Oliver. Como as regras determinam que, diariamente, pelo menos 3 mil toneladas devam deixar os armazéns, os empregados do Goldman Sachs dão simplesmente uma volta com a mercadoria, de um depósito para outro. O "hilário carrossel do metal", chacoteou o apresentador.
De um armazém para o outro, mas não para o consumidor final, criticou Tim Weiner, da cervejaria MillerCoors, em audiência no Senado americano. "Quem compra alumínio dos armazéns de Detroit através da LME, pode ter que esperar até 18 meses para receber a mercadoria."
A MillerCoors precisa de grande quantidade de alumínio para as latinhas de bebidas e barris. A acusação, tanto da cervejaria como da multinacional Coca-Cola, é que os bancos controlam o mercado e limitam a oferta, levando os preços às alturas.
"Nenhuma conspiração dos bancos"
O alumínio armazenado nos armazéns do banco pertence, principalmente, a outros bancos, a fundos de hedge e a comerciantes de commodities. A Goldman Sachs cobra deles taxas de armazenamento. "Muitos deles não querem vender seu alumínio a preços baixos. Então preferem pagar 0,48 dólar por tonelada armazenada", disse Lucas Bernard, economista especializado em matérias-primas do New York City College of Technology. A princípio, não se trata de uma conspiração dos bancos. "Mas certamente é assim que eles fazem dinheiro, tirando vantagem de pequenas flutuações de preços."
Basicamente, os bancos são proibidos de atuar com operações não bancárias, mas uma revogação parcial dessa regra em 1999 permite o comércio com matérias-primas – desde que o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, esteja de acordo.
Segundo criticou o analista econômico Joshua Rosner durante uma audiência, os órgãos de supervisão não têm a menor ideia de como é difícil ter uma visão geral dos negócios de um banco cujo capital soma 3 trilhões de dólares e que opera em 160 países. E, antes que se perceba, toda uma sociedade pode perder bilhões e bilhões. "Até agora tivemos sorte com as matérias-primas. Mas um sistema baseado na sorte não é sustentável", enfatizou Rosner.
Grande demais para quebrar
De minas de carvão a refinarias, de depósitos de metal a participações em portos ou aeroportos: se os bancos são autorizados a operar nessas áreas, eles ficam cada vez maiores e mais importantes. Ao final, são considerados relevantes para o sistema, too big to fail – grandes demais para quebrar. E, em caso de dificuldades financeiras, precisam ser resgatados com dinheiro estatal.
No entanto, afirmou há poucos dias Lloyd Blankfein, presidente do Goldman Sachs, haveria motivos para as regras especiais que beneficiam os bancos. Já há mais de cem anos eles operam com commodities e desempenham um importante papel nas flutuações de preços. "Sem nós, empresas bem situadas e operantes seriam excluídas dos negócios. Isso não seria bom para o mercado de matérias-primas", disse Blankfein.
Arbitragem reguladora
E, de fato, o Federal Reserve, que pretende ampliar sua investigação sobre o tema, recebeu há poucos dias uma carta da Câmara de Comércio dos Estados Unidos, assinada por firmas como a fabricante de aviões Boeing e a empresa de serviço postal UPS.
"Nossa gestão de riscos sofreria se os bancos desaparecessem do mercado de commodities. Seríamos obrigados a armazenar, nós mesmos, os metais, e teríamos que disponibilizar a infraestrutura necessária. Nossas possibilidades de cobertura de risco iriam desaparecer ou ao menos se tornar muito mais caras", diz o documento.
As investigações e audiências estão em andamento. O economista nova-iorquino Lucas Bernard acredita que medidas regulatórias não são a única solução. Ele fala de "arbitragem reguladora": cada vez que novas regras são adotadas, um monte de jovens analistas nas bolsas de Nova York, Londres ou outros lugares estariam a postos, só esperando para descobrir lacunas nessas regras, a fim de contorná-las.
Nesse ponto e em quase todo o setor financeiro, Bernard acredita que o problema está na falta de responsabilidade de quem toma decisões: "Os financiadores sempre dizem que assumem os riscos. Mas na verdade eles põem em risco somente o dinheiro, por exemplo, dos fundos de pensão. Os responsáveis não correm risco nenhum."