1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

'Diante da Lei'

26 de dezembro de 2011

Mostra no Museu Ludwig explora as relações entre as violações dos direitos dos direitos humanos desde a Segunda Guerra, ressaltando a escultura como forma de tornar a dor fisicamente perceptível.

https://p.dw.com/p/13ZUB
Foto: VG Bild-Kunst, Bonn 2011

"Diante da Lei, está postado um porteiro", diz a primeira frase do famoso conto de Franz Kafka. Seu protagonista é um médico rural, que vai à cidade e pede para entrar na lei. Ele espera inutilmente pela permissão, e somente um pouco antes de morrer pergunta ao porteiro por que era o único a pedir ingresso ali. Essa porta lhe era exclusivamente destinada, é a resposta. O "Homem do Campo" descobre que a lei não é igual para todos, mas depende da interpretação.

A máxima vale até hoje. Os artistas também têm repetidamente visto seus direitos democráticos mais fundamentais serem pisoteados. Por isso, sobretudo após a Segunda Guerra Mundial, eles passaram a refletir sobre o direito de existir do ser humano: o que significa viver num mundo em que a dignidade humana é desprezada?

Pesquisa existencial

Com o foco na escultura, a exposição "Diante da Lei" (Vor dem Gesetz), no Museu Ludwig, em Colônia, estuda como a violação dos direitos humanos influenciou a arte, desde o pós-guerra até hoje.

Vor dem Gesetz (Ausstellung)
'Carrossel', de Bruce NaumanFoto: VG Bild-Kunst, Bonn 2011

Segundo o curador Kasper König, a pintura só é capaz de ilustrar o sofrimento, e, por isso, traz consigo o perigo de tornar-se kitsch. Um dos mais importantes expositores da Alemanha, König criou em 1977 os Projetos de Escultura de Münster, que desde então acontecem a cada dez anos.

Há 11 anos, ele dirige o Museu Ludwig e, antes de entregar o cargo, em 2012, ele promove, mais uma vez, uma grande mostra em Colônia. Desta vez, tratando das condições básicas do ser humano. König procura, ao mesmo tempo, um retorno a questões existenciais da condição humana e um diagnóstico do tempo presente.

Dor em estado sólido

Um dos mais antigos objetos em "Diante da Lei" é Rapaz sentado, realizado por Wilhelm Lehmbruck em 1916-17. A figura de longos braços e pernas, que se apresenta introspectiva e triste, de cabeça baixa, só foi exposta pela primeira vez quase 30 anos mais tarde, na primeira Documenta de Kassel.

Vor dem Gesetz (Ausstellung)
'Sem Título', de Marko Lehanka e 'Árvore', de Zoe LeonardFoto: Marko Lehanka/Zoe Leonard

Também o Prometeu acorrentado (1948), de Gerhard Marcks, é um sofredor. A esguia figura, de membros delicados, revela uma proximidade com o expressionista Lehmbruck. Cabeça baixa, mãos atadas: com a escultura, Marcks tenta elaborar as vivências do nazismo.

A vulnerabilidade do corpo é tema central dos modernistas dos primeiros anos após a Segunda Guerra. Quer a figura mutilada de Henry Moore, a madona sem forças de Fritz Cremer, ou La jambe, de Alberto Giacometti – uma única perna, como uma prótese, sobre um pedestal: todas irradiam uma sensação de impotência. A arte dessa época prova que capacidade a arte tem de tornar a dor fisicamente perceptível.

Local de prova

A arte contemporânea não mais se restringe ao lugar, ou a um pedestal, mas parte para experiência no espaço. O melhor exemplo disso é o Carrossel de Bruce Nauman: envolvidos numa cor cinzenta, morta, restos de cadáveres de animais pendem de varas giratórias.

Vor dem Gesetz (Ausstellung)
'Construindo uma nação', de Jimmie DurhamFoto: Jimmie Durham

Na entrada da exposição, a vasta instalação Building a nation (Construindo uma nação), do artista norte-americano Jimmy Durham, toma o espaço. Ela tematiza a ocupação da América do Norte pelos colonizadores europeus e lembra um prédio devastado.

Fragmentos de uma porta ou de móveis apenas deixam vislumbrar uma arquitetura. Das poucas paredes pendem slogans racistas de norte-americanos, soando como a arrogante exigência "Fora com os índios!". Durham é, ele próprio, de origem indígena, e elabora de forma muito pessoal sua vivência do genocídio.

A mostra em Colônia confronta esculturas históricas e grandes instalações contemporâneas. O tema da violação dos direitos humanos as atravessa como um fio condutor. "Diante da Lei" transforma o museu num local de exame e reflexão: onde estamos, hoje, como seres humanos, como artistas, como sociedade?

Autoria: Sabine Oelze (av)
Revisão: Soraia Vilela