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Escândalo abala academia que concede Nobel de Literatura

Bettina Baumann ip
10 de abril de 2018

Renúncia de três membros em meio a alegações de corrupção, assédio sexual e quebra de confidencialidade abala instituição sueca responsável por renomado prêmio. Dos 18 assentos do grêmio, apenas 13 seguem ocupados.

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Reunião anual da Academia Sueca em Estocolmo, em 2017
Reunião anual da Academia Sueca em Estocolmo, em 2017 Foto: Getty Images/AFP/J. Ekstromer

"I'm leaving the table, I'm out of the game" ("Estou deixando a mesa, estou fora do jogo"). Foi com tais palavras do cantor e compositor Leonard Cohen que o escritor Klas Östergren se despediu, na semana passada, da Academia Sueca, que todos os anos concede o mais cobiçado prêmio literário do mundo. O problema é que outros dois membros do grêmio, Kjell Espmark e Peter Englund, fizeram o mesmo, colocando a capacidade de atuação do órgão em risco.

Dos 18 assentos da academia, apenas 13 continuam ocupados. Há alguns anos, outros dois membros já haviam se retirado devido a disputas internas. Outra integrante, a autora Sara Stridsberg, disse no final de semana que também considera parar de frequentar as sessões da instituição. Isso significaria que a academia, com seus 12 membros ativos restantes, não teria mais quórum para funcionar.

O que aconteceu?

No centro das discussões estão a escritora Katarina Frostenson e seu marido, o fotógrafo Jean-Claude Arnault. Ele é um dos nomes mais influentes na cena cultural da Suécia, também em decorrência de seu casamento com Frostenson, membro da Academia Sueca.

Devido a várias acusações, inclusive de corrupção, Frostenson deveria ter sido – mas não foi – excluída do órgão em uma reunião na última quinta-feira.

O que exatamente motivou os três membros – Östergren, Espmark e Englund – a deixarem a academia, não é certo, pois há que se respeitar a regra do sigilo. Espmark, no entanto, comentou a fracassada tentativa de exclusão de Frostenson da academia com a frase: "A amizade foi colocada à frente da integridade." Tais palavras deixam claro o que fez com que ele – e provavelmente também seus outros dois colegas – tomasse a decisão de se retirar do grêmio.

Katarina Frostenson e o marido, Jean-Claude Arnault
No centro da polêmica: Katarina Frostenson e o marido, Jean-Claude ArnaultFoto: picture-alliance/C. Hammarsten

Frostenson, que é membro da Academia Sueca desde 1992 e, portanto, tem poder de voto na concessão do Prêmio Nobel de Literatura, é alvo de uma série de acusações. Uma delas é a de que teria violado a regra de confidencialidade ao revelar ao marido os nomes dos futuros ganhadores do Nobel de Literatura.

Além disso, descobriu-se que ela era sócia do clube de arte comercial particular do marido. A instituição recebia regularmente apoio financeiro da Academia Sueca, permitindo assim que, na prática, a escritora de 65 anos decidisse sobre doações para si mesma.

No próprio clube, também teriam sido cometidos delitos, tal como a distribuição ilegal de bebidas alcoólicas e fraude fiscal. Um escritório de advocacia a serviço da Academia Sueca chegou a propor que o clube fosse formalmente denunciado.

De assédio sexual a estupro

E como se tudo isso não fosse o bastante para desacreditar a até então prestigiosa academia do Nobel de Literatura, em novembro do ano passado, bem em meio ao debate da campanha #MeToo, também vieram à tona acusações de assédio sexual.

Dezoito mulheres afirmaram ao jornal sueco Dagens Nyheter terem sido assediadas pelo marido de Frostenson – e em um caso, até com relato de estupro. Muitos dos abusos teriam ocorrido no centro cultural de Arnault, cofinanciado pela academia, mas também em apartamentos em Estocolmo e Paris, que foram disponibilizados a ele pela Academia Sueca.

Arnault teria usado suas ligações com a instituição para pressionar as vítimas, dentre as quais estariam aspirantes a escritoras e ex-funcionárias do clube de arte. Ele nega todas as acusações.

Como a Academia Sueca lida com o caso?

Depois do escândalo, a secretária permanente da academia, Sara Danius, apontou um escritório de advocacia para investigar as alegações de obtenção de vantagens pessoais. A maioria das acusações contra Arnault, as quais perfazem um período de 21 anos, provou não ser passível de punição.

Já a questão de apropriação indevida de fundos continua sob investigação. Segundo a agência de notícias alemã DPA, conclusões são esperadas até o fim desta semana.

Na quinta-feira passada, a Academia Sueca submeteu à votação a exclusão de Frostenson. Contudo, a maioria necessária de dois terços não foi alcançada.

"Isso é extremamente lamentável, mas eu entendo a decisão", comentou Danius ao periódico Svenska Dagbladet. Ela mesma havia defendido a exclusão de Frostenson.

O que será da instituição?

Após a tentativa fracassada de excluir a escritora, Englund, Espmark e Östergren disseram ter abandonado seus assentos na academia, mas isso, na verdade, não é permitido de acordo com o estatuto da entidade. Quem é eleito para a academia adquire o status de membro vitalício e pode decidir apenas não participar das sessões.

É possível, porém, que isso mude em breve. Danius anunciou que a possibilidade de deixar um assento no futuro será revista. "Se um membro quiser deixar a academia, isso deveria ser possível."

Enquanto isso, a capacidade de atuação do importante órgão segue em risco. Caso Stridsberg ou outro membro da academia decida se afastar, a instituição deixará de ter quórum. Por outro lado, se Frostenson se retirar voluntariamente, há esperanças de que Englund, Espmark e Östergren reconsiderem sua decisão.

Juntamente com o rei sueco, Carl 16 Gustaf, Danius deve encontrar uma saída para a crise nos próximos dias. Considerado "alto protetor da academia", o rei chamou o episódio de "um triste desdobramento", mas se disse confiante de que tais problemas serão "resolvidos mais cedo ou mais tarde".

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